O projeto “Acolhimento como soft power: o universo dos refugiados entre a educação, a linguagem e o patrimônio”, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), foi uma das 24 propostas contempladas no âmbito de edital do Programa de Desenvolvimento da Pós-Graduação (PDPG) Emergencial de Solidariedade Acadêmica, lançado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes) em 2022. A proposta ficou no primeiro lugar geral da seleção, chegando à pontuação máxima de 100 pontos.
O termo “soft power” é uma categoria de análise que visa compreender como o poder atua de forma a persuadir as pessoas por meio da cultura e de sua preservação. Com o resultado positivo, a iniciativa foi premiada com duas bolsas destinadas a professores refugiados. Outras duas bolsas serão concedidas a pesquisadores brasileiros que queiram fazer pós-doutorado na área correlata entre o patrimônio, a linguística e o universo dos refugiados.
De acordo com o edital, as bolsas de Professor Visitante no Brasil têm duração de 24 meses e valor mensal de R$ 14.000. Já as bolsas de Pós-Doutorado valem por 12 meses, com valor mensal de R$ 4.100. Os professores interessados precisam ser docentes ou pesquisadores estrangeiros refugiados no Brasil, vinculados a uma instituição de ensino ou pesquisa em seu país ou fora dele e ter comprovada produtividade acadêmico-científica.
Os docentes bolsistas poderão lecionar nos programas de pós-graduação de História, Linguística e Educação. Além disso, os docentes precisam ser especializados na área correlata ao projeto – Ciências Humanas, com ênfase em História, Sociologia, Educação ou Linguística. O edital será lançado ainda neste semestre. A expectativa é que as atividades do projeto se iniciem no segundo semestre de 2023.
Até lá, os interessados podem acompanhar informações nos canais de informação da Universidade, incluindo o site da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) na UFJF.
Diversidade e pluralidade
Coordenado pela Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), o projeto é liderado pelos professores Rodrigo Christofoletti, do Programa de Pós-Graduação em História, e Alexandre Cadilhe, dos programas de pós-graduação em Linguística e Educação. Os dois primeiros programas alcançaram a nota 6 na última avaliação quadrienal da pós-graduação realizada pela Capes (2017-2020), cuja classificação tem escala de 1 (nota mínima) a 7 (nota máxima).
Citando a UFJF como caso de instituição que “prima pela diversidade e pela pluralidade”, Christofoletti avalia que no espaço da Universidade, em que convivem diferentes religiões, etnias, ideologias, nacionalidades e situações econômicas, a ampliação das relações humanas se fortalece com a admissão de professores que tenham a vivência do refúgio em sua bagagem.
“A condição de refugiado, esse ‘diferencial compulsório’ imposto na vida dessas pessoas, certamente pode ajudar a comunidade acadêmica a compartilhar vivências que apenas as dificuldades da situação de refúgio ensinam. A chegada dos professores possibilitará o incentivo a novas formas de aprender com as dificuldades, buscando um modo de convivência pacífico e estimulante para os alunos, os professores e a gestão acadêmica”, afirma o pesquisador.
Como aponta o professor Alexandre Cadilhe, esta é uma das primeiras ações desenvolvidas junto com Rodrigo Christofoletti quando ambos assumiram a coordenação da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) na UFJF. A Cátedra é um projeto do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) em cooperação com instituições de ensino superior brasileiras. Na avaliação de Cadilhe, o ensino, a pesquisa e a extensão se fortalecem com a viabilização do projeto aprovado pela Capes.
“A iniciativa tem caráter inovador por colocar em foco a própria representação da população refugiada nas pesquisas, não somente como sujeitos de estudo ou como participantes, mas como agentes que desenvolvem a investigação. É muito interessante porque traz o pesquisador em situação de refúgio como agente produtor de conhecimento, de forma interdisciplinar, estabelecendo diálogo com toda a comunidade acadêmica”, destaca Cadilhe.
Engajamento dos refugiados na comunidade
As atividades do projeto “Acolhimento como soft power” se darão em três eixos. O primeiro deles é a Articulação, baseada na participação em projetos no campo do patrimônio cultural e da educação com processos de geração de dados simultâneos às ações extensionistas com a comunidade externa à Universidade.
A segunda frente é a Indução, que prevê o engajamento dos pesquisadores refugiados em um processo de geração de dados comprometido com as demandas do entorno e com a justiça social. São meios para isso a atualização científica e a escuta atenta da comunidade, mobilizando recursos materiais e humanos da UFJF de forma ética e responsável.
Por fim, o terceiro eixo é a Formação: a participação dos pesquisadores refugiados contribuirá tanto para sua autoformação, quanto para a formação do coletivo, levando em conta as dimensões científica, sociocultural e pedagógica.
O aprimoramento profissional voltado à formação de novos pesquisadores focados na pluralidade dos olhares também é ressaltado. O objetivo é fomentar uma posição decolonial, ou seja, que observe a dominação dos colonizadores a partir de um ponto de vista periférico (América Latina, Ásia, África) e não mais com a noção europeia.
Também estão no horizonte da coordenação a consolidação de ações para docentes e pesquisadores refugiados no calendário acadêmico da instituição e a entrega de produtos acadêmicos que gerem inserção e ampliação da comunidade refugiada.
Resultado fortalece internacionalização da UFJF
Na avaliação da pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa, Mônica Ribeiro de Oliveira, a aprovação do “Acolhimento como soft power” é importante não apenas para os três PPGs envolvidos na proposta, mas também para toda a Universidade, ao fortalecer todo o plano de internacionalização da UFJF.
“Teremos uma experiência institucional bastante inovadora, uma grande oportunidade para a troca de conhecimentos, principalmente se entendermos a importância das produções acadêmicas mais transversais: história, patrimônio, arqueologia, memória, literatura, educação. São muitas e diversas as áreas beneficiadas”, justifica.
A internacionalização dos programas de pós-graduação envolvidos no projeto é uma das metas dos coordenadores. O objetivo é promover a produção e disseminação de pesquisas de ponta na área das Ciências Humanas e ampliar as redes internacionais de pesquisa da UFJF.
“Esses contatos também facilitarão a viabilidade de intercâmbio institucional, com saídas temporárias de docentes e discentes com pesquisas realizadas no exterior, bem como a recepção de outros pesquisadores e professores que possam ser incorporados nas diversas redes de pesquisa já constituídas”, afirma Rodrigo Christofoletti.
Parceria no exterior
Participam também os demais professores dos programas de pós-graduação envolvidos, além de orientandos dos professores Christofoletti e Cadilhe vinculados ao Laboratório de Patrimônios Culturais (Lapa) e ao Grupo de Pesquisa Linguística Aplicada, Educação e Direitos Humanos (LAEDH). Há ainda o apoio da Diretoria de Relações Internacionais (DRI) e da seção na UFJF da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM); bem como a parceria com o Centro Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (Citcem) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Portugal (Flup).
Projeto está alinhado aos ODS da ONU
O projeto, assim como demais ações de pesquisa da UFJF, está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). A iniciativa citada nesta matéria adere aos ODS 4 (Educação de qualidade), 8 (Trabalho decente e crescimento econômico), 10 (Redução das desigualdades), 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes) e 17 (Parcerias e meio de implementação).