Projeto A Ciência que Fazemos lança versão em quadrinhos. (Imagem: Leandro Mockedece)

A Universidade Federal de Juiz de Fora, criou em 2014 a coordenação de Divulgação Científica, responsável pelo projeto ‘A Ciência que Fazemos’, com o compromisso de levar as pesquisas científicas para escolas públicas de Juiz de Fora e região. O projeto, institucionalizado pela Extensão desde 2018, lançou uma nova proposta em 2022, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O objetivo dessa nova proposta é ampliar o envolvimento dos estudantes com questões científicas, mostrando de forma lúdica desde os métodos, a multidisciplinaridade do desenvolvimento e a história de alguns pesquisadores da instituição para humanizar o cientista. 

Pesquisadora Isabel Leite dando autógrafo para os estudantes no encontro. (Foto: Carolina de Paula)

Com o desafio de comunicar com estudantes de escolas públicas, muitas vezes com dificuldades de acesso a dispositivos digitais, foram produzidas histórias em quadrinhos com trajetórias de cientistas e suas pesquisas contextualizando com o cotidiano. Foram lançadas, em outubro, duas edições em um evento piloto na Escola Municipal José Calil Ahouagi. O volume 1 retrata a vida e pesquisa do cientista Eduardo Magrone, da Faculdade de Educação, e o volume 2, da pesquisadora Isabel Leite, da Faculdade de Odontologia, ambos da UFJF.

O encontro teve como protagonistas os alunos do 6º ano que puderam ler e discutir o conteúdo com a professora Letícia Stephan. A dinâmica do projeto consiste em distribuir as edições para os professores da Rede pública de Ensino para que possam explorar o conteúdo de diversas formas e por várias disciplinas. Encerrando o processo, os pesquisadores retratados na histórias fazem um encontro presencial com os alunos para debater e tirar todas as dúvidas dos estudantes em um ritmo descontraído e horizontalizado. 

Nesta Primeira edição, todos pareciam confortáveis com o assunto abordado pelos pesquisadores. Magrone contou aos estudantes que entrou na faculdade de Filosofia e, na carreira docente, se dedica a estudar a ciência envolvida no aprendizado e na Educação. Isabel Leite, formada em Odontologia, falou sobre sua área de pesquisa, visto que atualmente faz parte do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública.

A interação entre pesquisadores e alunos foi além do bate-papo em roda. (Foto: Carolina de Paula)

Depois de uma breve apresentação dos pesquisadores, os alunos se sentiram inspirados em compartilhar seus sonhos profissionais. Os alunos mais participativos trocaram ideias sobre suas pretensões profissionais. Medicina, Direito, carreira militar e atletismo estiveram entre as carreiras mais almejadas. Na medida do que a conversa foi se desenvolvendo, a aluna Ana Laura iniciou uma rodada extensa de perguntas sobre o universo e a explicação científica dos fenômenos, como “o que mantém a Terra girando no seu próprio eixo?”, “o Big Bang criou e expandiu o universo?” e “e se o Sol explodir?”. 

A experiência de ficar bem perto dos personagens dos quadrinhos, fez com que os meninos não resistissem em puxar uma sessão de autógrafos com todos os envolvidos no projeto. De coordenadores à bolsistas, todos eram importantes para crianças, que demonstraram enorme alegria em serem os primeiros a receber os quadrinhos. 

Aspirante a cientista 

A visita dos pesquisadores incitou a criatividade dos alunos. Assim como Isabel Leite e Eduardo Magrone, os pequenos também tiveram a oportunidade de produzir as suas próprias histórias em quadrinhos. As narrativas trazem, por meio de imagens e falas, a percepção que os alunos apresentam da figura do cientista. Em alguns casos, o estereótipo desse profissional foi reafirmado pelos estudantes, como um profissional que atua em laboratórios e explora as ciências espaciais, por exemplo. Mas, ainda assim, a atividade possibilitou que as crianças expandissem os horizontes e assumissem, por instantes, a profissão de cientista. 

“No mundo da imaginação tudo é possível e o recado mais importante que os pesquisadores da UFJF deixaram para as crianças foi justamente que todos têm potencial para se tornarem o que quiserem, afinal, o requisito básico para se tornar um pesquisador é a curiosidade e o empenho para desvendar novos saberes”, reflete a coordenadora do projeto, Bárbara Duque. 

A aluna do 6º ano, Ana Lara, por exemplo, garantiu ser apaixonada pelo espaço sideral. Ela fez uma ilustração, na qual evidencia todo esse fascínio. Nos quadrinhos, a própria autora prevê, em um futuro próximo, ser capaz de responder a todas as perguntas sobre galáxias, planetas e elementos diversos do Universo. Com o poder da imaginação e de um lápis de cor, ela pôde idealizar as aventuras de ser uma cientista negra vagando pelo cosmos. 

O estudante Heitor, por outro lado, se imaginou com os pés firmes na Terra. Na narrativa, é possível identificar o personagem dentro de um laboratório, fazendo experimentos diversos e, posteriormente, provando misturas curiosas com pipetas e tubos de ensaio. Ao final da história, ele garante que depois de explorar técnicas científicas, a “mistureba” adquiriu o gosto de coco. O estudante optou por intitular a história de “Heitor e gostos estranhos”.