Augusto Souza, pesquisador da área de Estatística, conversou com estudantes do ensino médio. (Foto: Carolina Gamarano)

O pesquisador do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora, Augusto Souza, começou a conversa com os estudantes da Escola Estadual Batista de Oliveira, nesta quarta-feira, 28, perguntando quem ali faria vestibular. Foram poucos os que se manifestaram. Em seguida, perguntou quem pensa em fazer estatística. O silêncio que ele obteve como resposta foi ensurdecedor, afinal, números são, em muitos casos, os vilões para grande parte dos vestibulandos. Aos poucos o pesquisador foi quebrando o gelo e cativando os alunos dos 2º e 3º  anos do Ensino Médio.

 “Mesmo que estatística não seja a sua área, na carreira que você escolher seguir, provavelmente você vai se deparar com ela, porque tudo gera dados e informações que precisam ser interpretadas”, complementou o professor. Para explicar melhor o que é estatística, ele apresentou vários gráficos e ilustrou situações em que a análise de dados e a estruturação de probabilidades mostrou-se necessária ao longo da história humana. 

O primeiro gráfico mostrou a história do sarampo em poucos minutos. Era possível visualizar a quantidade de casos de sarampo nos estados americanos, a partir da década de 1940 até o ano de 2016. No eixo vertical (y) estavam os locais, no eixo horizontal (x) tinham os anos. O elo que ligava os pontos de cada um dos eixos era preenchido por quadradinhos coloridos que representavam a quantidade de casos. Se a cor fosse vermelha, significava que naquele ano o número de casos em determinado estado se mostrava elevado, se fosse azul claro, simbolizava o oposto. Uma linha vertical preta representava o momento da aplicação da vacina. A partir disso, dividia-se a análise de dados em dois momentos, comparando o número de casos por estado, antes e depois da aplicação da vacina. Assim, foi possível aferir, por meio da estatística, que, de fato, a vacina contribuiu para que houvesse uma diminuição considerável do número de infectados. 

Essa conclusão só é possível pois a estatística realiza o trabalho de levantar, relacionar e interpretar todas essas informações. “Esse ramo é a melhor ferramenta que a ciência dispõe, de modo geral,  para lidar com as complexidades do mundo. Algumas pessoas definem a estatística como a linguagem da ciência”, garante Augusto. A professora da turma, Ludmila Campana, aproveitou a explicação para traçar a interdisciplinaridade com assuntos já conhecidos e estudados pelos alunos em sala de aula. “Podemos aplicar na biologia mesmo. Eles aprenderam bimestre passado sobre as probabilidades genéticas”. 

O cientista aproveitou o gancho dado por Ludmila para relacionar também termos da sua área de pesquisa com o cotidiano dos alunos. “Vocês sabem o que é uma inferência estatística? Vou dar um exemplo clássico. Para fazer uma sopa, você precisa de panela, água, alimentos e temperos. Depois de reunir os ingredientes, faz uma mistura e naturalmente prova uma pequena porção para checar se a quantidade de sal está boa. Para saber que uma sopa está salgada você não precisa tomar ela toda. Você pega uma colher pequena, que seria uma amostra, para fazer afirmações da sopa que tá na panela inteira. Se você toma a sopa toda isso se chama o que?”, a resposta ao professor em tom de brincadeira “Gulodice”, preencheu a sala de risos. 

Através dessa metáfora, Souza quis diferenciar os termos próprios desse ramo. O ato de “tomar a sopa toda” seria como realizar a pesquisa diretamente com cada indivíduo da sociedade. O nome disso é “censo” cujo objetivo é investigar toda a população. O IBGE é responsável pelo censo demográfico, por exemplo, em que de tempos em tempos eles vão até as casas dos brasileiros para obter informações como renda, cor, estado civil, profissão, sexo, dentre outros dados de cada cidadão. A maioria das pesquisas se pauta no método da análise de amostras, como é o caso das pesquisas eleitorais para identificar a intenção de votos entre os eleitores. 

No final do encontro, os alunos se mostraram surpresos com tantas novidades. O cientista reforçou a importância de se fazer vestibular e como a Universidade Federal pode fazer parte do futuro de cada estudante. O aluno do segundo ano do ensino médio Ramon Faria Santos é um dos alunos que  está se dedicando para o Pism e mostrou-se bastante empolgado depois da roda de conversas sobre estatística: “Eu não sabia que Estatística era uma profissão. Achei muito interessante e importante entender mais sobre análise de dados. Eu quero cursar exatas, mas ainda não sei exatamente qual curso”. Ele ainda garantiu que o encontro fez com que ele tivesse mais ânimo para estudar. Outro aluno, Gustavo Cardoso, mostrou-se bastante participativo durante todo o encontro. Mesmo fazendo careta ao ser questionado sobre a possibilidade de cursar estatística, ele disse ter achado muito bacana o encontro. “Adquirimos um conhecimento diferente que eu desconhecia”, completa.

Sobre o projeto “A Ciência que Fazemos”
O projeto de extensão da UFJF “A Ciência que Fazemos” busca promover a cidadania científica e aproximar cientistas da Universidade de alunos da rede pública de ensino. Dentre os objetivos da iniciativa, estão a desconstrução do estereótipo da figura do cientista e reforçar com os alunos que a universidade pública também pode fazer parte do futuro deles.