Em cartaz na Galeria Espaço Reitoria, entre os dias 20 de julho e 4 de agosto, a exposição “Transformatorhus” traz o artista visual Leo Ribeiro de volta ao campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), onde se formou em Arquitetura e Urbanismo em 2002. Ele retoma suas origens criativas depois de 20 anos de experiências profissionais diversas, que o levaram a se radicar na Noruega, em 2018, quando começou a trabalhar no projeto de gravuras, apresentado aos juiz-foranos. As obras retratam uma arquitetura esquecida, o lado “B” da costeira Stavanger, longe dos pontos turísticos. “Uma cidade que é vista a pé e sem pressa”, define.

São cerca de 20 a 26 obras apresentadas pela primeira vez no Brasil. Trata-se de reproduções digitais feitas em papel de alta qualidade, com edição limitada, numerada e assinada. Os tamanhos variam entre A4, A3 e SR3 (32 x 45 cm).  As gravuras estarão à venda, e as pessoas interessadas podem contatar o artista na abertura da mostra ou enquanto durar a exposição. Os trabalhos estarão disponíveis para compra apenas nesse período.

Para a composição visual, o artista faz uso basicamente das vistas frontais dos edifícios, como o desenho de fachadas em projetos de arquitetura. “Tiro partido da conformação dos prédios, janelas e portas como elementos de composição das ilustrações. A técnica é o desenho com grafite e tinta nanquim, podendo haver finalização com canetas coloridas, aquarela, lápis de cor e edição digital. A reprodução é digital ou passa pela risografia, um processo permeográfico inventado por japoneses”, explica.

Semelhanças improváveis
Leo conta que Stavanger é uma cidade cuja história econômica está ligada à da indústria pesqueira e de enlatados, peixes em conserva, chamada na Noruega de “hermetikk”. “O bairro de Stavanger Øst, onde resido, era conhecido pela alcunha de Varmmer (mais quente), devido à alta concentração de fábricas e chaminés de tijolinhos vermelhos. A quantidade era tamanha que a cidade foi equiparada a Manchester, na Inglaterra. Comparação também feita à nossa Princesinha de Minas.”

Segundo o artista, além das antigas fábricas em estilo inglês, outra característica marcante da arquitetura de Stavanger são as casas de madeira (trehusbyen). A grande maioria dos edifícios residenciais, novos ou antigos, é construída em madeira, algo que desperta curiosidade em alguns brasileiros acostumados às construções de alvenaria típicas do Sudeste e de outras regiões do país.

“A partir do final dos anos 1960, a indústria de enlatados entrou em crise, e a cidade, depois da descoberta do petróleo, se tornou o centro da indústria de prospecção e refino de combustível fóssil e gás. As antigas fábricas foram abandonadas, muitas delas transformadas em prédios residenciais ou centros culturais. O número de edifícios em concreto de vários pavimentos começou a pontuar o tecido urbano, rivalizando com as tradicionais edificações”, relata o artista. 

Leo observa que, apesar de um urbanismo muito ordenado e eficiente na Noruega, especialmente em Stavanger, existem tensões entre a cidade antiga e a moderna, embora nada que chegue aos pés dos conflitos gerados pelo crescimento urbano desordenado no Brasil. “No entanto, para um olho treinado, como é o caso do olhar de um arquiteto ou de um cartunista, essas contradições se revelam ainda mais para o artista estrangeiro que ainda tem os sentidos em alerta, não apaziguados pela normalidade do cotidiano”, analisa.

Experiência de peso
Em 2003, Leo lançou seu primeiro curta-metragem de animação, “Como defender um cafofo ou As aventuras do Lobo Guará no Reino da Especulação Imobiliária”, o que acredita possa ter sido o primeiro curta-metragem de animação produzido em Juiz de Fora. “Nos 15 anos seguintes, me dediquei majoritariamente à produção de animação e ao ensino das técnicas de animação, no Rio de Janeiro, até que, há quatro anos, me mudei para essa cidade costeira do sudoeste da Noruega.”

Com inúmeras publicações, exposições e prêmios, como o “10 lokale designere tolker 2020 – Grafill Stavanger, Noruega”, além de uma ampla filmografia em curtas de animação, o artista tem doutorado em Design. Em 2021, dirigiu e animou o videoclipe “Andromeda”, realizado na Noruega e na Suíca. 

Serviço
A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, até 4 de agosto, na galeria Espaço Reitoria, no campus da UFJF, em Juiz de Fora. A entrada é franca.