Evento aconteceu em referência ao Dia Mundial do Refugiado, comemorado em 20 de junho (Foto: Carolina de Paula)

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) promoveu, na quarta-feira, 22, evento de acolhimento a pessoas refugiadas ou em situação de refúgio. A iniciativa faz parte da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM), projeto vinculado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e que reúne três dezenas de instituições de ensino superior do país. 

Segundo o coordenador da CSVM na UFJF e professor do Instituto de Ciências Humanas (ICH), Rodrigo Christofoletti, a Universidade conta com sete estudantes refugiados – um na pós-graduação e outros seis na graduação. “A estimativa é que esse número aumente nos próximos anos, em resposta a essas políticas de permanência.” Isso porque, de acordo com o diretor de Relações Internacionais, Anderson Bastos Martins, o envolvimento da Acnur e da administração superior na proposta materializa as ações de apoio à população refugiada – algo “extremamente importante e urgente”, avalia.

Coordenador da Cátedra na UFJF, Christofoletti  acredita que o apoio das políticas permanência da instituição pode aumentar a quantidade de refugiados (Foto: Carolina de Paula)

É o que também destaca a vice-reitora, Girlene Alves da Silva, referindo-se à acentuação da vulnerabilidade de grande parte da população mundial que atravessa guerras e a pandemia. “Quem se debruça para compreender como o Estado tem sido pouco propositivo para atender às necessidades das pessoas que entraram no país como refugiadas, têm se preocupado.” 

“Você pega uma mala, uma bolsa e deixa tudo”

A venezuelana Anggy Jeremi de Sangles de Machuca estava na plateia do Anfiteatro das Pró-Reitorias, junto de sua filha, Claudia, de 20 anos. Anggy deixou Caracas em busca de melhores condições de vida para a família, incluindo o marido e outro filho, de 10 anos. Eles estão no Brasil desde setembro de 2019.

“Você nunca pensa que vai deixar seu país por uma situação difícil. Você pega uma mala, uma bolsa e vai embora, deixa tudo. E começa uma luta comunitária, porque você tem responsabilidade com a sua família. Mas também consigo mesmo, como indivíduo. Buscando ser uma pessoa melhor para ajudar aos que nos rodeiam”, conta. 

A venezuelana Anggy e a filha falaram dos desafios enfrentados pela família desde que chegaram ao Brasil (Foto: Carolina de Paula)

Anggy e sua família entraram no Brasil pela cidade de Pacaraima (RR), seguiram para Boa Vista e se estabeleceram em Juiz de Fora. A UFJF foi um fator determinante para a família se fixar na cidade, já que a filha de Anggy deseja ingressar em um curso superior. Ainda em seu país natal, Claudia foi aprovada na Universidade Central da Venezuela, uma das mais prestigiadas do país. “Era muito difícil para uma jovem: a situação política, a insegurança, não há eletricidade, não há água. E aí decidimos vir para Juiz de Fora, conhecemos a universidade. Por isso estamos aqui, mais que tudo. É uma cidade tranquila”, afirma. 

Apesar das dificuldades causadas pela pandemia, a família conseguiu se manter trabalhando. Anggy conta que em muitos momentos se sente em um “limbo”: nem do seu país, nem onde está. “Minhas coisas estão na Venezuela, mas estou ficando aqui. Sou refugiada e é uma situação nova em todo o mundo.” Mesmo assim, ela se sente acolhida em solo brasileiro: “Todo mundo a quem eu procurei, sempre deu uma mão amiga. É uma coisa que me impressionou do Brasil. Iniciativas como a Cátedra são muito boas, porque tudo muda com o tempo e são novos desafios. Temos que trabalhar juntos para melhorar”, acredita. 

Para a vice-reitora Girlene Alves, “a instituição precisa pensar mecanismos de um acolhimento que seja real, que mobilize as potencialidades de todos vocês (refugiados) e que também nos ensine a nos reinventarmos como instituição de ensino, de pesquisa e de extensão, com um olhar, sobretudo, de solidariedade com o outro”, apontou. 

A CSVM

A Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) é uma iniciativa do Acnur com universidades brasileiras públicas e privadas. O grupo desenvolve o ensino, a pesquisa e a extensão acadêmica para pessoas em situação de refúgio ou refugiadas. Outros objetivos são: promover formação e capacitação de docentes e estudantes sobre o tema e realização de projetos comunitários envolvendo refugiados. A UFJF aderiu à CSVM em março deste ano. 

Outras informações

Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM)

(32) 2102-3911 | csvm@ufjf.br