O Dia Mundial do Refugiado é lembrado nesta segunda-feira, 20. A data, designada pela Organização das Nações Unidas (ONU), é uma oportunidade de homenagear a determinação, suscitar a empatia e lembrar os direitos dos refugiados ao redor do mundo. Para lembrar a ocasião, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM) promove, nesta quarta-feira, 22, a Semana do(a) Refugiado(a) na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento acontece no Anfiteatro das Pró-Reitorias, a partir das 14h, com o tema “Política de permanência do estudante refugiado na UFJF”. 

Evento também lembra o Dia Mundial do Refugiado, que marca uma série de atividades em todo o mundo para reflexões e debates acerca da situação destas populações (Foto: Visualhunt))

A Cátedra é uma iniciativa do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) com universidades brasileiras, tendo em vista o desenvolvimento de atividades acadêmicas sobre, para e com pessoas refugiadas ou em situação de refúgio. A UFJF aderiu à CSVM em março deste ano, juntando-se a um grupo formado por universidades públicas e privadas do país sediadas em nove estados e no Distrito Federal. 

A abertura da Semana do Refugiado conta com uma mesa de Acolhimento, seguida de outra Mesa, com o tema “Refugiados/as na UFJF: Trajetórias, Presença e Permanência”. Na sequência, além de uma roda de conversa, serão apresentados os projetos realizados pela Cátedra.

Situação em JF
Neste período de grande migração forçada no mundo, o Brasil tem recebido levas de pessoas originárias de países como Haiti, Síria, Venezuela e de diversas regiões da África, entre outros. Esse cenário tem obrigado autoridades e sociedade civil a reverem sua compreensão, de acordo com o professor do Instituto de Ciências Humanas (ICH) e coordenador da CSVM na UFJF, Rodrigo Christofoletti. 

“É uma data fundamental para que a sociedade pense sobre os impactos que essa migração tem na vida cotidiana de todos nós” (Rodrigo Christofoletti, coordenador da CSVM na UFJF)

“Em Juiz de Fora, por exemplo, há aproximadamente 2,5 mil a três mil pessoas em situação de refúgio ou refugiadas, um enorme contingente que, neste momento, em sua maioria, vem da Venezuela, dadas as condições políticas em que o país vive. Por este motivo, a celebração do Dia do Refugiado é uma data fundamental para que a sociedade pense sobre os impactos que essa migração tem na vida cotidiana de todos nós”, avalia.

Segundo o coordenador, o papel da Universidade junto à recepção e manutenção de alunos refugiados será tema dos debates. “O foco é discutir uma política que alargue os esforços já bastante significativos da UFJF com relação a essa população, e, com isso, iniciar políticas eficazes de manutenção e permanência desse alunado”, destaca.

Recolocação profissional
A perseguição política fez o congolês Guy-Baudoin Wazime fugir do país de origem. Atualmente, Guido, como costuma ser chamado, faz mestrado no Programa de Pós-Graduação em História (PPG-História) da UFJF, tendo conseguido ingressar por meio das cotas destinadas para refugiados. 

Guido nasceu na França, mas decidiu viver na República Democrática do Congo, país natal de seu avô, um militar da Legião Estrangeira Francesa. Como missionário jesuíta, atuou na Cáritas Diocesana local, instituição parceira do Programa Alimentar Mundial da ONU. Como consequência de seu trabalho junto à população local, Guido foi eleito deputado federal e passou por conflitos em meio à guerra civil. Ele foi torturado por enfrentar um esquema de venda de alimentos e roupas doados enviados pela Cáritas e pela ONU. Policiais e militares do Exército participavam das atividades ilícitas. 

Após conseguir fugir, chegou ao Brasil, onde mora há 16 anos. Em solo brasileiro, Guido deu continuidade à sua formação acadêmica – graduou-se em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Santos (Unisantos). Anteriormente ele já havia iniciado os estudos de Filosofia no Congo e os concluiu na Itália. Guido também cursou Direito na Bélgica e Teologia em seu país, nos Estados Unidos e no Brasil. 

“O refugiado no Brasil é muito mal visto. Pensam que é um bandido que fugiu do seu país. O refugiado não é um vagabundo, um assassino” (Guy-Baudoin Wazime, refugiado do Congo)”

“O refugiado no Brasil é muito mal visto. Cada vez que a pessoa diz ser refugiada, pensam que é um bandido que fugiu do seu país. A minha saída foi por uma perseguição política, sendo um defensor da população em um país em ditadura até hoje. O refugiado não é um vagabundo, um assassino”, reitera.

Guido também aponta outro obstáculo comum aos refugiados a dificuldade em se recolocar no mercado de trabalho. “As pessoas pensam que o refugiado vai chegar aqui para tirar empregos. Quando você leva o seu currículo, olham e ‘Ah, você tem muito estudo’. Essa discriminação existe sempre”, reflete. 

Apesar das dificuldades, o estudante conta que nunca passou por perseguições em ambiente acadêmico no Brasil. E o convívio com a comunidade da UFJF se revelou surpreendente. “Quando cheguei aqui, não estava esperando ser assim. A diferença maior, grande, enorme, é que tem muitas pessoas negras. Fazendo curso de Engenharia, Medicina, etc. Aqui é maravilhoso. Há uma assimilação da diferença.” 

Participação
A Semana do Refugiado conta ainda com a participação “ativa”, de acordo com Christofoletti, de alunos refugiados de diversos cursos e de professores que coordenam projetos da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, além de pró-reitores da UFJF. “Esperamos que os diálogos e depoimentos ajudem a nos dar ainda mais clareza do enorme, mas gratificante trabalho que a CSVM e a própria Universidade têm pela frente.” 

Cronograma – Semana do(a) Refugiado(a)
22 de junho de 2022 – Anfiteatro das Pró-Reitorias/UFJF.

14h – Mesa de Acolhimento:

  • Cátedra Sérgio Vieira de Mello
  • Diretoria de Relações Internacionais
  • Pró-Reitoria de Extensão 
  • Pró-Reitoria de Graduação
  • Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
  • Pró-Reitoria de Assistência Estudantil 
  • Diretoria de Ações Afirmativas 
  • Reitoria 

15h – Mesa “Refugiados(as) na UFJF: Trajetórias, Presença e Permanência”:

  • Estudantes refugiados(as) da UFJF
  • Pró-Reitoria de Assistência Estudantil 
  • Diretoria de Ações Afirmativas 

16h – Apresentação das Ações da CSVM/UFJF:

  • Professores(as) responsáveis pelos projetos

16h30 – Roda de Conversa

Outras informações
Cátedra Sérgio Vieira de Mello (CSVM)
(32) 2102-3911 | csvm@ufjf.br