A Universidade Federal de Juiz de Fora está entre as contempladas na chamada da Fapemig – Redes de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico com foco em demandas estratégicas –, que destinará mais de 30 milhões para 22 projetos coordenados por universidades e instituições mineiras. O objetivo é gerar e consolidar grupos de referência em áreas do conhecimento e setores estratégicos para Minas Gerais.
Com ênfase na produção coletiva, no intercâmbio e na difusão do conhecimento, o edital aprovou quatro redes que integram pesquisadores da UFJF. Juntos, os projetos receberão o montante de R$ 4.923.879. A Rede de Pesquisa e Inovação para Análise Visual e Textual de Objetos Multimodais (Reinventa), que será beneficiada com pouco mais de um milhão de reais, será coordenada pelo professor da Faculdade de Letras Tiago Torrent. Em sua opinião, a formação de redes resolve o paradoxo da especialidade.
“Os cientistas precisam cada vez ser mais especialistas naquilo que fazem para dar conta de objetos complexos; mas, objetos complexos requerem múltiplas especialidades. Quando você congrega pessoas, laboratórios variados numa rede interinstitucional, você acaba congregando especialistas diferentes que vão olhar para o mesmo objeto com o objetivo em comum, que é descrevê-lo; no nosso caso, modelá-lo computacionalmente”, detalha.
A professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Jacy Gameiro, é uma das pesquisadoras que integra a Rede Nanobiomabs – Produção e uso de anticorpos monoclonais e seus fragmentos como biofármacos em nanomedicina, coordenada pelo professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Delfín Olortegui. Ela considera que as redes de pesquisa são o futuro porque permitem uma troca e uma colaboração em vários níveis: “de ideias, projetos, insumos, e de expertises de diferentes parceiros. Estar numa rede junto com a UFMG, a UFSJ e a Funed é essencial para que a pesquisa de Minas Gerais se consolide e que a UFJF esteja no meio de grandes iniciativas como essa”.
Para a pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), professora Mônica Ribeiro, a parceria entre pesquisadores e entre instituições constitui hoje uma importante estratégia para a produção de conhecimentos, inovação e pesquisa e desenvolvimento (P&D). “Pesquisas não podem ser conduzidas por meio apenas de ações individuais. Compartilhar laboratórios, etapas da produção de conhecimentos e experiências faz parte da atividade científica, otimiza recursos e potencializa o fomento. A articulação entre pesquisadores e instituições, trabalhando cooperativamente, é um potente recurso para o enfrentamento da crise de financiamento da P&D atualmente no Brasil.”
A Universidade também passa a fazer parte de outras duas redes: a Nanogene – Nanotecnologia aplicada ao desenvolvimento de vacinas e terapia gênicas e a Rede Mineira de Matemática (RMMAT-MG). A RMMAT, representada pelo professor do Departamento de Matemática Eduard Toon, será coordenada pelo professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Anderson Luis de Araújo, a rede terá o financiamento da Fapemig no valor de R$ 208.375,07.
Coordenada por Sílvia Ligório Fialho, da Fundação Ezequiel Dias (Funed), a Nanogene foi contemplada com quase R$ 2 milhões. Fazem parte dela os seguintes pesquisadores da UFJF: Frederico Pittella Silva, Guilherme Diniz Tavares, Camila Quinetti Paes Pittella, Lívia Mara Silva, Kézia Cristine Barbosa Ferreira e Ana Beatriz Caribé dos Santos Valle.
“A área de Linguística e aquelas voltadas para a Biomedicina hoje na UFJF participam do que denominamos áreas estratégicas da pesquisa da Universidade: possuem grande capacidade de captação de fomento e perfil multidisciplinar, conseguindo aliar conteúdos antes dados como clássicos com a área de tecnologia avançada. A participação de pesquisadores da UFJF na RMMAT está em consonância com os atuais esforços do PPG Matemática em se consolidar como importante área básica do conhecimento. A parceria com programas de excelência, a exemplo da UFMG, para a criação do curso de doutorado faz parte dessas estratégias”, assegura a pró-reitora.
Na vanguarda da imunoterapia
Os anticorpos monoclonais têm sido usados no tratamento de diversas doenças autoimunes ou cânceres de alta relevância. “Eles são frequentemente usados como linhas principais ou como coadjuvantes de tratamentos de quimioterápicos e corticosteróides”, afirma Jacy Gameiro. Embora eles apresentem muitos benefícios, o seu custo é muito alto e por isso o principal objetivo da Rede Nanobiomabs é diminuir o custo de produção de anticorpos monoclonais terapêuticos já consolidados.
Por serem importados, o custo de produção de monoclonais é muito alto, restringindo a sua possibilidade de uso e o acesso a um maior número de pessoas. “A nossa ideia é usar plataformas de produção nacional de anticorpo humanizado e também por plantas, uma linha mais inovadora. Isso reduziria o custo de produção e conseguiríamos estender o seu uso na população de uma forma otimizada com o melhor custo para o SUS e convênios que venham a utilizar esses medicamentos”, almeja.
“Atualmente, a pesquisa de biofarmacos é muito intensa, tanto procurando novos, quanto para baratear os alvos já existentes. Neste momento, optamos por desenhar de cinco a sete anticorpos para tipos de tumores e doenças autoimunes diferentes, o que já representa um ganho bastante acentuado de barateamento de custo e acesso, possibilitando que a gente domine a técnica de produção na busca de novos alvos.”
Atuando na área de tratamento de câncer de mama, ao relacionar a influência da obesidade no diagnóstico e na progressão desse tipo de câncer, o projeto de Jacy Gameiro na rede é justamente nessa linha. “A gente juntou essa expertise que o grupo já tem e está propondo trabalhar com essa terapia com esses anticorpos feitos de maneira alternativa e totalmente brasileira”, pontua a pesquisadora.
Também integrante da Rede Nanobiomabs, o professor titular da UFJF Marcelo Santos explica que sua função é produzir anticorpos em plantas para testar sua biossimilaridade. “Eu vou trabalhar tanto produzindo o anticorpo antiIL1 que será testado em modelos para gota, bem como trabalhar na adaptação dos anticorpos desenvolvidos na rede para expressar os mesmos em plantas; especificamente em Nicotiana benthamiana que é uma espécie de fumo”, comenta.
Para ele, a articulação está exatamente em produzir anticorpos em plantas, uma plataforma alternativa e de baixo custo. “A ideia é fornecermos anticorpos que produzimos atualmente no laboratório e posteriormente produzir os anticorpos promissores em plantas. Após os testes pelos grupos, eu entro na adaptação para produção em plantas tentando produzir produtos biossimilares com custo mais baixo.”
Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU
A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
A pesquisa citada nesta matéria relativa aos anticorpos monoclonais está alinhada aos ODS 3 (Saúde e bem-estar) e 9 (Indústria, Inovação e Infraestrutura).
Leia as matérias sobre redes contempladas com coordenação ou parceria da UFJF:
• UFJF coordena rede mineira na área de Linguística Computacional
• Pesquisadores formam rede para tratamento de doenças neurológicas
• Nanotecnologia como aliada no desenvolvimento de vacinas e medicamentos
• UFJF está entre as instituições da Rede Mineira de Matemática
Confira todos os projetos aprovados pela Fapemig.
*Atualizada em 26 de junho.