Fluxômetro para sondas vesicais fornece medida precisa e ainda reduz risco de infecção para pacientes em UTIs (Foto: Alexandre Dornellas)

A sonda (ou cateter) vesical tem várias aplicações clínicas no tratamento de pacientes ambulatoriais e internados. Particularmente em pacientes graves, como os internados em  UTIs (Unidades de Terapia Intensiva), ela é fundamental para monitorar o fluxo urinário, um parâmetro importante para verificar o funcionamento dos órgãos. Para garantir uma medição mais precisa e sem riscos para o paciente, pesquisadores da Medicina e da Física da Universidade Federal de Juiz de Fora se uniram para desenvolver uma ferramenta própria para agilizar esse procedimento hospitalar. 

A proposta de patente foi depositada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) em 2021. O dispositivo (BR 10 2021 0109637) já foi testado em laboratório e em breve passará por testes em animais. Desenvolvido no âmbito do Laboratório de Física Aplicada (LabFapli), o protótipo envolveu os docentes do Departamento de Física José Paulo de Mendonça e Rodrigo Alves Dias, o técnico de laboratório Pedro Paulo Ferreira e o professor da Faculdade de Medicina Bruno Pinheiro

Chefe da Unidade de Cuidados Intensivos do HU, Bruno Pinheiro destaca que monitorização do fluxo urinário é fundamental na condução clínica de pacientes graves internados em UTIs (Foto: HU-UFJF/Ebserh)

“O fluxo urinário é um excelente marcador da perfusão dos órgãos, ou seja, se a circulação de sangue para os diferentes órgãos está adequada. Sua monitorização é fundamental na condução clínica de pacientes graves internados em UTIs, com cateter vesical de demora”, garante Pinheiro, que também é chefe da Unidade de Cuidados Intensivos e do serviço de Pneumologia do Hospital Universitário da UFJF. 

Segundo o médico, a ideia surgiu a partir da experiência na rotina hospitalar que identificou três limitações: “os métodos não são precisos e nem em tempo real; a monitorização demanda ações periódicas pela equipe de Enfermagem, que já está sobrecarregada em outras tarefas; e a abertura periódica do sistema coletor de urina pode implicar em aumento do risco de infecção pela manipulação excessiva”.

Diferencial competitivo

Nesse contexto, o dispositivo desenvolvido pelos pesquisadores da UFJF apresenta diversas vantagens, fornecendo uma medida precisa e contínua, em tempo real; automática, otimizando a carga de trabalho; e que mantém o circuito fechado, reduzindo a manipulação e consequente risco de infecção. “Os resultados podem ser compartilhados com outros monitores, permitindo a análise conjunta com outros parâmetros, tais como pressão arterial, frequência cardíaca ou níveis de oxigenação. Isso permite melhor interpretação dos resultados e favorece a tomada de decisão”, complementa Pinheiro.

Coordenador do LabFapli, José Paulo de Mendonça explica que o dispositivo foi adaptado do fluxômetro – ferramenta já desenvolvida pelos pesquisadores da Física cuja patente foi concedida em 2019 – para a sonda vesical. “Os testes de laboratório comprovaram a eficácia. Um grande diferencial é que a sonda é a mesma, o aparelho será apenas acoplado ao saco coletor de urina”.   

Dispositivo foi adaptado de fluxômetro desenvolvido no LabFlapi. Na foto, da esquerda para a direita, os professores José Paulo de Mendonça e Rodrigo Dias; e o técnico Pedro Paulo Ferreira (Foto: Alexandre Dornellas)

Para Mendonça, por automatizar as informações coletadas do paciente, trata-se de uma demanda geral dos hospitais e que tem um baixo custo, o que representa grande vantagem competitiva à medida que vai ser conectado às sondas vesicais já produzidas pela indústria. Os dados são enviados para uma central que podem ser acessados por visualização direta ou Wi-Fi. 

“Do ponto de vista do Comitê de Ética, não tem nada invasivo, está apenas substituindo o saco plástico pelo nosso fluxômetro. Após a comprovação da precisão do protótipo em diferentes cenários, o próximo passo deve ser a identificação de parceiros comerciais para viabilizar a produção em escala e aprovação nos órgãos regulatórios”, destaca. 

Inovação na Universidade

O Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt) desenvolve, desde 1995, trabalhos de proteção da propriedade intelectual. Em 2020, a UFJF passou a integrar o ranking das 50 instituições que mais depositaram Patentes de Invenção (PI), com base no ano de 2019. O resultado é fruto da atuação do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), idealizado para fortalecer a cultura da inovação na Universidade. 

De acordo com a gerente de Inovação e Transferência de Tecnologia do Critt, Ana Carolina Vidon, a Instituição vem trabalhando constantemente com pesquisas de caráter inovador, com impacto significativo na melhoria da qualidade de vida da população. “Para isso, faz-se necessário percorrer o processo de transferência das tecnologias, ou seja, o caminho da academia até a indústria.”

“O Critt auxilia os pesquisadores desde o contato inicial, bem como nos trabalhos de busca de anterioridade, da redação de patente, até o acompanhamento do nosso portfólio de tecnologias. Ressalta-se que os depósitos de patentes são processos que deram entrada e estão sob a avaliação do Inpi, já as cartas de patentes são emitidas apenas após toda a tramitação do processo e a concessão do instituto”, esclarece. 

Pesquisa está alinhada aos ODS da ONU

A Coordenação de Divulgação Científica da Diretoria de Imagem Institucional, em parceria com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Propp), está promovendo uma estratégia de fortalecimento das ações de pesquisa da Universidade, mostrando que estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. 

A pesquisa citada nesta matéria está alinhada aos ODS 3 (Saúde e bem-estar) e 9 (Indústria, inovação e infraestrutura).

Outras informações:

Laboratório de Física Aplicada (Labflapi): ufjf.br/labfapli/ 

Centro Regional de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt): www2.ufjf.br/critt/