UFJF lança primeira atividade de projeto de extensão para conservação de sementes crioulas (Foto: Alexandre Dornelas)

O dia 27 de maio, Dia da Mata Atlântica, marcou o início das atividades do projeto de extensão “Conservação da agrobiodiversidade no âmbito do Centro de Pesquisa da UFJF” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que irá atuar no fortalecimento da agricultura familiar na região, a partir da conservação de sementes crioulas, capacitação de agricultores, além da construção de estratégias e políticas públicas para produção, conservação e difusão da biodiversidade agroecológica. O objetivo principal da iniciativa, que é uma parceria com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), é beneficiar agricultores de Juiz de Fora e região, especialmente aqueles organizados em associações e cooperativas. O lançamento ocorreu no Jardim Botânico da UFJF.

“Estamos vivendo um momento de extrema crise com o avanço do agronegócio, com inúmeros prejuízos que recaem principalmente sobre os povos indígenas. Crise que é fruto de um modelo agrário que é o oposto da agricultura familiar. Há ainda uma crise ambiental, com a perda da variabilidade genética das sementes ao longo dos anos, contaminadas pela transgenia. Um modelo que não produz alimento, produz mercadoria. Nosso desafio é o entendimento da agroecologia com a união entre o campo e a cidade”, destacou o diretor do Jardim Botânico da UFJF, Gustavo Soldati.

“Nosso desafio é o entendimento da agroecologia com a união entre o campo e a cidade”
Gustavo Soldati

O projeto de extensão contará com quatro eixos de ação. O primeiro deles é a implantação do Laboratório de Ecologia de Sementes e do Banco de Germoplasma do Centro de Pesquisa do Jardim Botânico. A medida prevê o registro da agrobiodiversidade a conservação de sementes crioulas e a coleta de agrobiodiversidade. O intuito é garantir aos agricultores o acesso às sementes e raças crioulas como base para o processo de reprodução material, cultural e política. 

Pelo menos duas estratégias diferentes de conservação das sementes serão aplicadas: ex situ e on farm. A técnica ex situ será aplicada nas câmaras frias e consiste em conservar um recurso genético fora do seu habitat natural. Já a on farm é baseada na produção e consequente conservação de sementes em meio ao campo.

Para a realização deste eixo do projeto serão adquiridos equipamentos técnicos para a estruturação do Laboratório e do Banco de Germoplasma; será construído um Protocolo Operacional Padrão de análise laboratorial de avaliação e conservação da agrobiodiversidade; haverá a compra de sementes crioulas, além de visitas técnicas para troca de experiências com laboratórios de referência. “Vamos fazer a gestão das sementes crioulas que foram roubadas dos agricultores, um patrimônio da humanidade”, destaca Soldati.

O lançamento do projeto também contou com a participação do deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), autor de emenda parlamentar que viabiliza a iniciativa, do deputado estadual Betão (PT-MG), da secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Fabíola Paulino, do diretor do Jardim Botânico, Gustavo Soldati, e do produtor rural do Assentamento Denis Gonçalves, Felipe Russo.

“Precisamos garantir a todas as comunidades esse direito fundamental, que é o direito à alimentação”
Patrus Ananias

“Já conseguimos tirar o país do mapa da fome, mas agora voltamos, com um desgoverno que não está a serviço do povo brasileiro e da vida. Está a serviço dos interesses do capital, do agronegócio. Vamos produzir alimentos para exportar ou atender às necessidades do povo brasileiro? Precisamos garantir a todas as comunidades esse direito fundamental, que é o direito à alimentação e fortalecer a agricultura familiar é um importante passo”, destacou o deputado federal e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias.

“O agronegócio, que não é pop, pode até absorver a produção, mas o pequeno agricultor sempre tem mais dificuldade em um governo que se lixa para agroecologia e para a agricultura familiar. O acesso a esta riqueza natural é fundamental para a alimentação saudável e para o desenvolvimento da agricultura entre as famílias no campo”, apontou o deputado estadual Betão.

Para a secretária de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Juiz de Fora, Fabíola Paulino, a parceria entre a UFJF e a Seapa une conhecimento, tecnologia e produtores rurais, fortalecendo a produção de orgânicos e agroecológicos em um momento em que o Brasil libera um número cada vez maior de agrotóxicos já banidos em diversos países do mundo. “É preciso desmistificar a ideia de que não é possível produzir orgânicos e agroecológicos em larga escala. E projetos assim são importantes para apresentar técnicas e tecnologias disponíveis para ampliar a capacidade produtiva da agricultura familiar.”

Para o produtor rural do Assentamento Denis Gonçalves, Felipe Russo, é necessário estimular ações como esta, sobretudo na formação e capacitação. “Muitos dos desafios que os agricultores familiares estão vivendo hoje são reflexo da chamada ‘Revolução Verde’, que pregava que os agrotóxicos seriam a solução para a fome no mundo. Hoje a gente vê que essa solução foi um fracasso. Um modelo de morte, totalmente insustentável.”

Conhecimentos em Educação Ambiental

Palestra apresentou principais potenciais e desafios do cultivo do café arábica na região de Juiz de Fora (Foto: Alexandre Dornelas)

A construção do conhecimento popular, de redes locais e a disseminação do conhecimento em Educação Ambiental também estão previstas no projeto, com ações como seminário sobre agrobiodiversidade e direito dos agricultores. 

A palestra “Cultivo do café na região de Juiz de Fora: Desafios e Potenciais”, ministrada pelo engenheiro agrônomo e pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) na área de Melhoramento Genético do Cafeeiro, Antônio Alves Pereira, integra um desses eixos de atuação. Há 48 anos atuando no campo e com pesquisas sobre o café, o pesquisador apresentou a estudantes e produtores rurais os principais potenciais e desafios do cultivo do café arábica na região de Juiz de Fora e anunciou o envio de 16 variedades de mudas de café para a região, ampliando as opções de produção e geração de emprego e renda para os agricultores locais.

O projeto de extensão prevê ainda o desenvolvimento de ações educativas, como “Seminário Regional sobre Agrobiodiversidade e Direito dos Agricultores” e a implementação de um espaço de Educação Ambiental sobre “Agrobiodiversidade e Agricultura Familiar”. Também está prevista a formação por meio do “Curso de Manejo, conservação e produção de raças crioulas” e a realização da “I Feira da Agrobiodiversidade e da Agricultura Familiar”.

Outras informações:
Jardim Botânico UFJF
Telefone: (32) 3224-6725