O projeto de pesquisa Lagos artificiais: efeitos ecológicos na regulação do clima e na produção de alimentos do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFJF) foi um dos contemplados na última Chamada Universal nº 18/2021 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A proposta é estudar, por meio de um programa amostral em lagos artificiais localizados em um grande espectro espacial no Brasil, os estoques e processos de ciclagem de nutrientes, com foco inicial na qualidade da água e emissão de gases do efeito estufa.
Fabio Roland, professor do ICB e coordenador do projeto, explica que as pesquisas em reservatórios de hidroelétricas realizadas pela UFJF e focadas nos gases de efeito estufa promoveram, nos últimos 20 anos, “expressivos avanços para o entendimento de lagos artificiais sobre a ciclagem de carbono, formando recursos humanos e estruturando condições laboratoriais e de amostragem”. No caso deste projeto, a equipe se junta à experiência de outros grupos no Brasil e no exterior com história acadêmica nesse campo para aplicar as experiências conceituais e metodológicas em lagos construídos com o propósito de produção de alimentos aquícolas.
No Brasil, o país com a maior disponibilidade de água doce do mundo, as intervenções na paisagem – seja por mudança no regime físico de ecossistemas aquáticos ou pelo uso da terra – e a pressão urbana vêm incrementando a insegurança hídrica. O país já exibe quase 25% dos recursos hídricos dispostos em águas superficiais composto por lagos artificiais; mapear esses dados e avaliar os efeitos ecológicos será de grande valia para o inventário nacional de gases do efeito estufa.
Por mais que haja um volume considerável de produções científicas acerca dos reservatórios de usinas hidrelétricas, pouco se sabe ainda sobre os impactos causados pelos lagos artificiais, que são de menor porte e usualmente implementados para a produção de alimentos aquícolas. Um dos grandes dilemas dessa prática se dá pois, mesmo que sejam elementos que produzem gases que contribuem para o efeito estufa, os lagos artificiais são grandes aliados na produção proteica de peixes alternativa à carne vermelha, de porco e de frango, uma vez que o planeta se aproxima de sua capacidade máxima de produção alimentícia.
Além do desenvolvimento das metas previstas, o projeto também contará com um robusto leque de difusão científica. Serão três ações: produção de material didático – infográficos, vídeo-aulas e podcasts – discorrendo sobre os assuntos científicos, políticos e socioambientais, registros fotográficos, incluindo documentários de todas as etapas desenvolvidas no projeto e veiculação desses produtos em um portal eletrônico e nas redes sociais. O mapeamento dos lagos artificiais estará, também, vinculado à plataforma MapBiomas.
O investimento de R$ 220.909,68 aprovado pelo CNPq será destinado a, dentre outros objetivos, mapear lagos artificiais no Brasil considerando bases de dados de sensoriamento remoto, elaboração de algoritmos inteligentes buscadores de lagos artificiais e identificação de lagos artificiais no Brasil. “Estamos muito satisfeitos com a aprovação do projeto; será uma oportunidade muito especial para estudar os serviços ecossistêmicos associados a recursos aquáticos, especialmente aqueles de interesse alimentar”, finalizou Roland.
A equipe é composta por cientistas da UFJF e de outras instituições brasileiras, como Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal Rural do Semi-Árido e Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro. Atuarão também pesquisadores de universidades estrangeiras, sendo as americanas Cary Institute of Ecosystem Studies, Cornell University, University of Texas, Baylor University e as europeias Technical University of Munich (Alemanha) e Radboud University of Nijmegen (Holanda).
Outras informações:
Instituto de Ciências Biológicas da UFJF