A segunda e última etapa da 32ª edição do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga tem início nesta quarta-feira, dia 10, com uma série documental que prossegue nos dias 12, 15, 17 e 19 de novembro, sempre às 20h, pelo canal da Cultura Artística no Youtube. Com o tema “Música para os olhos”, essa sequência foi produzida por meio de parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade de São Paulo (USP), com apoio da Cultura Artística, trazendo à cena virtual ressignificações dos concertos realizados na semana de 25 a 29 de outubro, dedicando um episódio a cada uma das apresentações. 

O primeiro episódio, “O Quinto Evangelista”, que dialoga com a cantata BWV 51 “Jauchtzet Gott in allen Landen”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), discorre sobre a importante função cumprida pela música na liturgia luterana. O segundo, intitulado “Cânone Acidental”,  corresponde ao sexteto op. 9 de Filippo Gragnani (1768-1820). Nele, os participantes do concerto discorrem sobre a ideia de cânone, o conceito de obra de arte e julgamentos que elevam compositores ou instrumentos ao status de canônicos, em muitos casos relegando-os ao esquecimento. 

O terceiro episódio, “O Jardim de Corelli”, enfoca a obra do eminente compositor e violinista Arcangelo Corelli (1653-1713), considerado um dos melhores de seu tempo. O assunto é decorrente da pesquisa de mestrado do violinista Roger Ribeiro, que discorre sobre a ideia de “ornato”. Ribeiro explica como construiu a interpretação da sonata op. 3 nº 2, gravada no concerto, recuperando, hipoteticamente, a maneira como provavelmente Corelli teria interpretado sua peça.

Com o título “O Reverso das Ruínas”, o quarto trabalho em torno da ressignificação dos concertos também é resultado de uma dissertação de mestrado. Trata-se de uma pesquisa voltada para a reconstrução de uma partitura que contém improvisos do músico Giovanni Bassano (1561-1617), cujo último exemplar quinhentista se perdeu durante a Segunda Guerra Mundial.

Finalmente, o quinto e último episódio, “Melancolia no Jardim das Delícias”, é voltado para a maneira como o flautista Jacob van Eyck (1590-1657) floreou peças do compositor John Dowland (1563-1626), mostrando não apenas a circulação de música na Europa do século XVII, mas ainda um emocionante diálogo entre dois grandes músicos que nunca se conheceram pessoalmente.  

Conteúdo e reflexão

“A segunda parte do 32º Festival possibilita aos ouvintes que assistiram ao concerto conhecerem um pouco mais sobre aquilo que ouviram, tendo acesso a um conteúdo informativo que permite contextualizar as obras ouvidas e refletir sobre o seu significado mais amplo”, analisa a coordenadora do Encontro Tríplice de Música Antiga, Mônica Lucas, ao qual o 32º Festival está integrado, e diretora artística do 12º Encontro de Pesquisadores em Poética Musical dos sécs. XVI, XVII e XVIII da Universidade de São Paulo (USP).

Ela acredita que os documentários são importantes para que se conheça alguns trabalhos acadêmicos de grande relevância no contexto da pesquisa brasileira, além do processo que sofreram até se transformarem nos concertos que foram assistidos na última semana de outubro. “Os episódios fornecem informação na medida justa para todos aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a música e seus processos. Tenho certeza de que, após os documentários, os concertos ganharão muito mais sabor”, prevê, lembrando que estes permanecem disponíveis no canal da Cultura Artística no Youtube para serem vistos ou revistos pelo público.

À frente do Centro Cultural Pró-Música-UFJF e na direção artística do Festival, Marcus Medeiros destaca a marca de formação de público das audições e das lives que aconteceram nesta 32ª edição, lembrando que os documentários buscam contribuir para esse propósito, fazendo com que as plateias que prestigiaram as apresentações de outubro se aproximem, agora, de estudos sobre o repertório que compõe cada um dos concertos. “Isso se traduz em uma grande contribuição para uma fruição mais aprofundada.”

Medeiros reitera que esta segunda etapa se harmoniza com a ideia de trabalhar, em cada um dos eventos que integram o Encontro Tríplice de Música Antiga, suas características principais, sendo que as do Festival estão claramente identificadas com a proposta de formar e atrair novos públicos, despertando, expandindo e intensificando o interesse pela música antiga.

Encantamento atemporal

A pró-reitora de Cultura da UFJF, Valéria Faria, analisa que a realização da série documental, no contexto da edição on-line do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, a segunda durante a pandemia, mostra que, como todos os setores que se reinventaram neste momento, o tradicional Festival descobriu no digital um canal para levar a um novo e mais amplo público toda a riqueza da música antiga. 

“Nesta 32ª edição, tivemos ainda um maior potencial de alcance, graças à parceria com a Cultura Artística e à união de forças de três renomadas instituições no Encontro Tríplice de Música Antiga”, conta, lembrando que, em 2020, foi a primeira experiência de parceria, realizada então com o Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso (FIO), de Portugal. “Agora, nos unimos ao Conservatório de Tatuí e à USP, com o apoio da Cultura Artística, de forma a abranger a prática de interpretação musical em instrumentos de época, com oficinas, a divulgação da música antiga e a pesquisa científica.”

Valéria frisa que a música histórica não é a música do passado – ela é atemporal, viva, e encanta pessoas de todas as idades. “Um evento inteiramente dedicado ao gênero é fundamental para a formação de público, a divulgação de repertório e o trabalho de resgate de autores e obras. Acreditamos que o on-line é um atalho sem volta, mas esperamos poder retomar as apresentações presenciais do Festival nas próximas edições, uma vez que nada pode substituir a emoção do encontro ao vivo.”

Confira a programação

Outras informações: 32º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga