Local onde será realizado o plantio experimental. (Foto: André Amado – acervo pessoal)

Com o intuito de explorar novas técnicas de reflorestamento, um grupo de pesquisadores da UFJF e de instituições internacionais irão coordenar o plantio de mudas na Fazenda Experimental da UFJF, localizada às margens da represa de Chapéu d’Uvas, no município de Ewbank da Câmara. Essa é uma das ações do projeto “Raízes para o futuro”, desenvolvido pelo Núcleo de Integração Acadêmica para Sustentabilidade Socioambiental (NIASSA) em parceria com a concessionária “Via 040” e com a Universidade Técnica de Munique (TUM).

André Amado, professor do Instituto de Ciências Biológicas e coordenador do  projeto, explica o papel da inovação nos trabalhos de plantio: “Nossa proposta é trazer um modelo novo de restauração, que contemple processos ambientais que não são considerados nos modelos tradicionais de restauração. No método mais comum, plantam-se árvores que crescem rápido e que permitem recobrir o solo, numa condição que permita que aquele sistema se recomponha sozinho. Entretanto, esse tipo de plantio apresenta diversidade baixa, com uma floresta que não é totalmente funcional. Outra possibilidade é o plantio de enriquecimento no qual mais espécies são plantadas mais tardiamente, mas isso demanda intervenção humana por mais tempo”, complementa. 

No início do mês de outubro, serão plantadas 37 mil mudas em 23 hectares da Fazenda Experimental na primeira fase do projeto.

O projeto investe em uma maior biodiversidade de árvores já no início do plantio, de maneira que diferentes elementos venham a desempenhar funções complementares – algo que pode levar a uma eficiência maior da restauração, sendo esta uma floresta mais funcional e sem a necessidade de futuras intervenções humanas de restauração. O pesquisador aponta que o início do plantio no mês de outubro está diretamente relacionado ao alto volume de chuvas observado no período, de maneira que as mudas precisam de ter um suprimento constante de água, para assim aumentar as chances de sobrevivência inicial.

Experimento de larga escala e de longa duração

O pesquisador Leonardo H. Teixeira, da Universidade Técnica de Munique, aponta que um dos principais benefícios do plantio experimental está na preocupação com a recuperação do sistema como um todo. “O plantio tradicional de reflorestamento, visa, basicamente, apenas recobrir o solo com árvores. Ele não deixa de ser importante, por exemplo, para controle de erosão numa área de encosta, mas é apenas uma das questões que podem compor o funcionamento do ecossistema.  No nosso caso, existem preocupações adicionais, tais como retorno de fauna e a recuperação das nascentes d’água, tendo em vista que a represa de Chapéu d’Uvas é responsável por grande parte do abastecimento de água da cidade”, complementa.

O professor André Amado explica que a parceria com a empresa Via 040 é uma maneira de viabilizar o experimento, tendo em vista que o plantio tradicional é uma obrigação da empresa, sendo feito nos moldes definidos pelo Ibama. “Nosso desenho experimental, que também conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), é um pouco diferente. As árvores estão dispostas em linhas que formam um hexágono, com cada planta à mesma distância uma da outra, e a composição das espécies irá variar.”

Exemplo gráfico do plantio experimental. (Reprodução: BEF-Atlantic)

No início do mês de outubro, serão plantadas 37 mil mudas em 23 hectares da Fazenda Experimental na primeira fase do projeto. Desse quantitativo, 12 mil mudas serão plantadas de maneira experimental em 7 hectares dedicados exclusivamente aos experimentos dos pesquisadores. O plantio será realizado pela empresa e será acompanhado por estudantes de graduação e pós-graduação envolvidos no projeto.

Andamento do projeto durante a pandemia e parcerias internacionais

Mesmo com a pandemia, Teixeira explica que os trabalhos do projeto não foram interrompidos ou diretamente prejudicados. “A fazenda experimental conta com um viveirista que cuida do local de segunda a sexta, e, na impossibilidade do trabalho de campo durante esse período, nós utilizamos esse tempo para continuar o planejamento do projeto e a revisão da literatura.” Além disso, o pesquisador aponta para a realização de um workshop internacional, com a organização dividida entre pesquisadores do Brasil e da Alemanha. O evento contou com 155 participantes de 19 países e 80 instituições diferentes.

Anteriormente ao ano de 2020, o projeto, que conta com a parceria institucional entre a UFJF e a Universidade Técnica de Munique, já foi responsável pelo intercâmbio de um estudante de mestrado da TUM, que desenvolveu a primeira pesquisa relacionada com a restauração da Mata Atlântica na Fazenda Experimental. Além disso, no mesmo período, foram ministrados cursos de campo em ecologia, com a participação de estudantes internacionais e de outras universidades brasileiras.

Outras informações:

https://www.ufjf.br/niassa/projetos/

https://bef-atlantic.netlify.app/desenho/