Desde o início do distanciamento social por causa da pandemia da Covid-19, a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Intecoop) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) acompanha iniciativas de doações de cestas de alimentos a famílias em vulnerabilidade social e discussões sobre as políticas de segurança alimentar na cidade e na região. 

Enquanto o projeto promovido pelo coletivo Monte de Gente Interessada em Cultivo Orgânico (Mogico) atende mensalmente a cerca de 20 famílias no formato de rodízio, a iniciativa do Assentamento Denis Gonçalves, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em Goianá (MG), assiste permanentemente a cerca de 60 famílias. 

A ideia dos movimentos colaborativos surgiu no início da pandemia a partir das discussões do Fórum Municipal Popular da Economia Popular Solidária, núcleo que contribui com a elaboração das políticas públicas de economia solidária; geração de trabalho e renda; e garantia de direitos fundamentais da população na cidade. 

Crise sanitária

Com a crise sanitária atual, a população brasileira tem encarado ainda mais desafios de acesso à alimentação, à moradia e à saúde. Assim, com a impossibilidade e restrição de suas atividades de subsistência, como as feiras orgânicas e de artesanato, por exemplo, os grupos de trabalhadores e trabalhadoras resolveram se articular e responsabilizar-se por iniciativas que auxiliassem no acesso à alimentação das famílias e ainda cobrassem do poder público ações e políticas públicas para o combate à fome. 

Líder comunitária na região do Bairro Parque Burnier, Edna Maria, reforça a necessidade de doação e distribuição de cestas básicas. Ela é uma das pessoas que buscam os alimentos doados pelos grupos populares e encaminha às famílias necessitadas: “O projeto surgiu devido a nossa real situação, várias famílias em vulnerabilidade e vários casos de desemprego. Queríamos ajudar de alguma forma.’’ Alimentos, como couve, batata, chuchu, jiló, alface, almeirão fazem parte das cestas de doação do Mogico e impactam positivamente na vida das famílias.”

 Conforme relatório divulgado pela Rede Penssan, 55,2% dos brasileiros em 2020 estavam em situação de insegurança alimentar. Na prática,significa que cerca de 116,8 milhões de pessoas não tiveram acesso total e frequente aos alimentos necessários. 

A Intecoop, como Secretaria Executiva do Fórum, esteve presente na discussão dos grupos populares auxiliando na sua organização. Entre os movimentos, vale destacar a criação do Fórum de Segurança Alimentar de Juiz de Fora. Afinal, por meio do Fórum ações e estratégias de curto prazo foram estabelecidas para auxiliar as famílias e mobilizar instituições da cidade, a exemplo da Prefeitura, a construir e deliberar políticas públicas para minimizar a fome. 

Solidariedade e laços sociais

O coordenador do programa de extensão Intecoop, Luiz Felipe Falcão, diz que a solidariedade e os laços sociais construídos são os pilares dessa relação que articulou a doação das cestas. “A solidariedade, no sentido de se responsabilizar com o outro, fez-se efetiva para que os grupos que tivessem um pouco a mais pudessem ajudar os demais. Ninguém tem tão pouco que não possa contribuir com o outro. Digo isso para além das questões materiais, inclusive. Ouvir, dedicar tempo, promover cidadania, acredito que todo este movimento solidário veio a reboque da vontade de fazer a diferença na vida do outro.”

Nesse sentido, as doações de alimentos saudáveis pelo Assentamento Denis Gonçalves também revelam-se um projeto de resposta ao cenário político e social no Brasil. A campanha já acontecia antes da pandemia e foi intensificada, inclusive em nível nacional. A integrante do Assentamento, Michelle Neves Capuchinho, afirma que ações de solidariedade estão sendo fundamentais neste momento para evitar a fome: “A solidariedade que nós acreditamos é feita entre a classe trabalhadora, é o povo defendendo o povo.” 

As articulações construídas a partir das discussões no Fórum de Economia Popular Solidária de Juiz de Fora, no Fórum de segurança alimentar e na relação estreita estabelecida entre movimentos sociais, grupos populares, cooperativas e associações dão conta de materializar os princípios que sustentam o movimento de Economia Solidária. 

“A união de esforços para mitigar os efeitos da fome e, ainda, para propor e cobrar medidas de implantação de políticas públicas efetivas no combate à fome e à insegurança alimentar prova o quanto a sociedade organizada e solidária é potente. O respeito à cidadania, a busca por assegurar acessos e o empenho em garantir a efetivação de direitos é traço marcante na trajetória de trabalhadoras e trabalhadores. Que sigamos determinados em fazer a diferença juntas e juntos por uma sociedade mais justa e equânime” conclui Falcão.