Aproximadamente quatro milhões de pessoas estão com a segunda dose da vacina contra a Covid-19 atrasada no Brasil. É o que aponta o “Painel Vacinação Covid-19“, realizado por um consórcio de universidades federais e disponibilizado pela Universidade de São Paulo (USP) na data de hoje, 22 de junho de 2021.

Em entrevista, o professor e pesquisador da área de Virologia da UFJF, Aripuanã Wanatabe, comenta sobre a importância de tomar a segunda dose para que a imunização se torne realmente completa. Ele explica que a maioria das vacinas aprovadas utiliza a segunda dose como parte da imunização, de maneira a demonstrar para o corpo humano que aquele vírus é realmente indesejado e que deve ser combatido por meio dos anticorpos.

O pesquisador ressalta que as pessoas podem ter uma falsa sensação de segurança por terem apenas tomado a primeira dose, tendo em vista que “a imunidade se completa verdadeiramente depois de tomar a segunda dose da vacina”. Como o principal alvo da vacinação em massa é impedir a transmissão comunitária do vírus, é necessário que toda população esteja com o esquema vacinal completo.

É importante notar que existem diferenças no intervalo de tempo necessário entre as doses das vacinas utilizadas atualmente no Brasil. O  prazo recomendado pelo Ministério da Saúde entre a primeira e a segunda dose dos imunizantes AstraZeneca e Pfizer é de 12 semanas. No caso da CoronaVac, prazo é de 14 a 28 dias depois da primeira dose. O pesquisador explica que estas diferenças se dão no desenvolvimento de cada vacina, sendo que nos ensaios clínicos da vacina, são testados os mais diferentes prazos para verificar qual confere maior eficácia ao imunizante.

Para Aripuanã, uma série de questões leva a explicar o grande quantitativo de pessoas que estão com a imunização atrasada. Uma delas foi a falta de imunizantes para concluir a vacinação, algo que aconteceu entre os meses de abril e maio por erros logísticos. “A separação entre quantitativos para primeira e segunda dose é fundamental para evitar que esses problemas aconteçam novamente. Além disso, existe uma deficiência na comunicação pública dos governos, que poderiam reforçar por meio de propagandas e campanhas direcionadas a importância de tomar a segunda dose”, enfatiza. 

Para aqueles que eventualmente perderam o prazo de aplicação da segunda dose, é importante comparecer o mais rápido possível em um local de vacinação para compensar o tempo perdido. Mesmo sendo ideal seguir o prazo indicado pelo fabricante, é imprescindível completar o esquema vacinal. As taxas de eficácia das vacinas apontadas pelos estudos somente são alcançadas quando as pessoas tomam todas as doses previstas pelo fabricante. É importante destacar que a imunização dessas pessoas não fica totalmente comprometida mesmo com o atraso.

Dentre as atuais vacinas aprovadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e incluídas no Programa Nacional de Imunização (PNI), somente a vacina da Janssen necessita de uma aplicação única para a imunização completa. Como o Governo Federal possui uma encomenda de 38 milhões de doses dessa vacina, Aripuanã alerta sobre a importância de haver uma comunicação eficaz, de modo a reforçar esta característica no momento do recebimento das doses, algo que deve acontecer nas próximas semanas.