As variantes do novo coronavírus acenderam um sinal de alerta na Organização Mundial da Saúde (OMS) e em centros de pesquisa de todo o mundo – inclusive na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em um esforço mundial, cientistas investigam os impactos das mudanças constantes do novo coronavírus na eficácia das vacinas desenvolvidas, na capacidade de transmissão do Sars-CoV-2 e no desenvolvimento de quadros clínicos mais graves da Covid-19.
O que é uma variante?
Para o professor de microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF, Aripuanã Sakurada, devido ao fluxo de informações que se produz sobre a doença, é preciso, primeiro, conceituar e separar cada termo novo. “A variante ocorre quando analisamos o vírus original lá de Wuhan, na China, e observamos que ele sofreu algumas mutações, sendo classificado como uma variante. A cepa é quando temos um vírus bem diferente do original, inclusive com características distintas de maior capacidade de causar doença e de escape da vacina. Existe, ainda, a linhagem ligada a um evento epidemiológico. Por exemplo, um surto de coronavírus na cidade de Juiz de Fora poderia ser considerado uma linhagem”, explica.
O professor deixa claro que, por enquanto, as mudanças observadas no novo coronavírus têm sido tratadas, pela ciência, como variantes, pois apresentam-se como sequências genéticas virais que diferem-se em uma ou mais mutações. Dentre elas, quatro são classificadas como “variantes de preocupação” – denominação utilizada para descrever formas do vírus com mutações capazes de provocar maior impacto do ponto de vista da saúde pública: as variantes do Reino Unido (B.1.1.7), África do Sul (B.1.351), Brasil (P.1) e Índia (B.1.617.2).
Recentemente, com objetivo de evitar a propagação de termos preconceituosos quanto à origem dessas novas variantes, a OMS anunciou que elas passarão a receber nomes de acordo com a ordem do alfabeto grego. Assim, elas serão chamadas, respectivamente, de Alpha, Beta, Gamma e Delta. “Essas variantes já estão sendo monitoradas bem de perto, porque demonstram, pelo menos em laboratório, algumas características importantes como o aumento da transmissibilidade e maior carga viral”, pontua o especialista
Atuação das variantes nas vacinas já aprovadas
Encontradas nas variantes do Reino Unido, Brasil, África do Sul e Índia, as mutações na proteína S podem tornar o vírus menos suscetível à resposta imunológica esperada pelas vacinas. Essa é a principal preocupação da comunidade científica, segundo Sakurada. “O risco maior é que alguma dessas variantes sofra mudanças significativas a ponto de se tornar uma nova cepa e, a partir daí, poderíamos apresentar baixa eficácia das vacinas, e também maior propensão à reinfecção, pois o nosso sistema imune não reconheceria mais essa variante, então ela seria mais agressiva”.
A ciência tem se esforçado na busca diária dessas respostas. Recentemente, um estudo que contou com a participação de trabalhadores da área da saúde de Manaus mostrou que a CoronaVac – vacina produzida pelo Instituto Butantan – tem 50% de efetividade contra a variante brasileira. Outra pesquisa, conduzida pela Universidade de Oxford, com a participação de cientistas brasileiros, mostrou que tanto a vacina de Oxford quanto a da Pfizer são eficazes contra a mesma variante P.1
O pesquisador da UFJF enfatiza que, até o momento, a ciência provou ser seguro e aconselhável tomar qualquer uma das vacinas aprovadas pelas agências de vigilância sanitária ao redor do mundo e que, independentemente da variante do novo coronavírus, a forma de se prevenir da doença é a mesma: uso de máscara, lavagem correta das mãos com sabão ou álcool em gel 70, distanciamento social e vacina.
“Os estudos têm mostrado que a maior parte das vacinas mantém eficácia significativa em relação às novas variantes, apesar de alguma pequena queda, principalmente na prevenção da doença grave e óbito. As vacinas ainda protegem, num nível seguro. Não tivemos, por enquanto, nenhum dado robusto de que alguma variante conseguiu diminuir muito a eficácia das vacinas”, finaliza.