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Participação das mulheres em diversos campos da ciência aumenta, mas desigualdades em relação à produtividade e à valorização permanecem (Foto_Caique_Cahon_UFJF)

A pandemia de Covid-19 tornou a ciência mais próxima do cotidiano das pessoas. Temas antes restritos ao universo acadêmico ganharam destaque nos noticiários e cientistas, antes presos a seus laboratórios, passaram a ter rostos humanizados. Entre eles, mulheres como Margareth Dalcolmo e Natália Pasternak ocuparam com propriedade o debate público diante do maior desafio de saúde pública e social dos últimos tempos. 

Se celebramos nomes como esses na ciência e a presença das mulheres em todos os níveis de ensino, por outro lado, desafios importantes se impõem: o da produtividade e da valorização da carreira, especialmente em áreas duras do conhecimento. Em 2019, por exemplo, depois do pedido de pesquisadoras, o CNPq disse que iria incluir um campo para o lançamento de licença maternidade e paternidade no currículo lattes. A ação ainda é tímida perto dos desafios impostos. A maior carga de trabalho doméstico das mulheres, sem falar da carga mental, tem gerado impactos significativos na produção científica e tecnológica de autoria feminina.

Para comentar  sobre esses assuntos, celebrando o Dia Internacional da Mulher, o Encontros A3 realiza a live: “Coisa de mulher: o debate e a produtividade científica por elas” nesta sexta-feira, dia 5, às 17h. Participam do encontro a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, Mônica Ribeiro de Oliveira; a professora do departamento  de Ciência da Computação Priscila Capriles; e a doutoranda em Física pela UFJF Anne de Paula Fernandes. A transmissão será pelo canal da Revista A3 no Youtube e tem a mediação da jornalista Laís Cerqueira. 

Aumenta participação, mas produtividade não acompanha

Nos últimos dez anos, a presença das mulheres como alunas dos programas de pós-graduação da UFJF esteve em torno de 50%. Mas, enquanto os dados da distribuição entre gêneros praticamente se manteve constante entre homens e mulheres no nível de mestrado (variando entre 56% a 60%), no nível de doutorado, a participação das mulheres era 44,7% em 2010 e subiu para 56,5% em 2020. 

O número certamente é um ganho, observa a pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa Mônica Ribeiro, mas não reflete as diferenças entre as áreas de conhecimento. Ela aponta que neste período (entre 2010 e 2020) surgiram muitos cursos de doutorado nas áreas de humanidades, tradicionalmente ocupadas pelas mulheres, como ProfLetras, Psicologia e Serviço Social, o que explica em parte o aumento.

Quando avalia-se a produtividade, os números então apontam o abismo entre homens e mulheres na UFJF. O resultado delas é bem inferior ao dos homens na busca por bolsas de produtividade no CNPq.  As mulheres representam apenas 26,3% – e esse número é, inclusive, menor proporcionalmente do que o de 2015. Veja na tabela abaixo.

Bolsistas de Produtividade CNPq 2015 2018 2021
100 103 118
Homens 69 72 87
Mulheres 31 31 31
% Mulheres 31,0% 30,1% 26,3%

A pró-reitora explica que o sistema precisa ser revisto: primeiro em relação à distribuição de vagas, pois as áreas clássicas, consolidadas de pesquisa, como as de exatas, por exemplo, continuam com a maior fatia de vagas, e são majoritariamente representadas pelos homens. E, em segundo lugar, porque a sociedade exige mudanças no tratamento das mulheres. 

“As mulheres quando estão no período de formarem suas famílias têm dificuldades em manter a produtividade, e são, portanto, concorrentes a menos no sistema duro e exigente de bolsas de produtividade do CNPq. Não adianta apenas colocar que tiraram licença maternidade, o sistema não lê dessa forma, elas simplesmente não irão conseguir atingir a pontuação.” Mônica acrescenta que, infelizmente, o problema também é cultural e muitas se sentem como a única responsável pela criança, não dividindo com o parceiro a maternidade.

Não é necessária inscrição para acompanhar a live. Durante a transmissão, os participantes poderão enviar perguntas às convidadas pelos comentários. Para não perder esse e outros eventos, inscreva-se no canal da Revista A3 no Youtube.