Iniciativa visa desfazer estigmas e crenças sobre a doença e aumentar a adesão aos exames de mamografia (Foto: National Cancer Institute/Unsplash)

A mamografia, principal exame para o diagnóstico precoce do câncer de mama, ainda é pouco entendida entre a população, segundo especialistas, quanto à sua finalidade e principais recomendações. Com o intuito de reverter este cenário, o projeto “Ações de Conscientização e Prevenção de Câncer de Mama em Unidade Básica de Saúde (UBS)”, da Faculdade de Medicina (Famed), da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), visa promover a informação multidisciplinar, desfazendo crenças sobre o tema a partir de um diálogo aberto e de fácil compreensão da comunidade. 

O objetivo é alcançar maior adesão ao exame, evitando o diagnóstico tardio da doença. Para isso, o grupo, que conta com profissionais de diversas áreas da Saúde, gestores das UBSs assistidas, professores e alunos da Famed/UFJF, vem promovendo ações de forma remota. O projeto é realizado através de reuniões semanais, com intuito de discutir assuntos específicos sobre mastologia, com enfoque também na nutrição, fisioterapia e psicologia relacionadas a ela.

O trabalho, que seria desenvolvido de forma presencial, a partir de março deste ano, teve que ser adaptado, devido à pandemia da Covid-19. A opção então foi utilizar as redes sociais para atingir as comunidades assistidas e também ampliar o alcance, através da criação de páginas, no Instagram e no Facebook, chamadas “Um aperto de mama”. É utilizado ainda um grupo no WhatsApp para manter contato com as pacientes atendidas pelas UBSs. Além disso, encontros quinzenais, através do Google Meet, acontecem com uma equipe multidisciplinar, onde são debatidos assuntos relacionados ao tema. As reuniões são abertas e divulgadas nas redes sociais do projeto.

Estigmas
“Observamos um cenário de estigmas acerca do exame, o que culmina com a frequente não realização dele, sobretudo entre as populações em situação de maior vulnerabilidade social, o que acarreta em falha na constatação precoce do câncer de mama”, explica a graduanda do décimo período de Medicina e integrante do projeto, Fernanda Kelly. “Receber o diagnóstico de algum tipo de câncer não é fácil. A doença traz consigo uma ansiedade muito forte relacionada ao prognóstico no hoje, no amanhã e, também, no futuro. Para as mulheres, o câncer de mama se constitui em desafio ainda maior, pois mexe com sua autoestima, além de outras questões importantes. Considerando que é uma patologia com pluralidades e que a mulher deve ser vista de forma integral, com todas as suas necessidades em um momento tão delicado, prezamos pela disseminação de informação de forma integrativa, nos preocupamos com a saúde física e mental, com a alimentação e com o processo de reabilitação; por isso contamos com a participação de uma equipe multidisciplinar.”

O projeto segue as atualizações das recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde, para o adequado manejo no rastreio através da mamografia, a partir de leitura e discussões de artigos científicos, aulas programadas com especialistas do assunto e discussões acerca das necessidades específicas das comunidades cobertas pelas UBS’s. “O conteúdo da página não é apenas direcionado para mulheres portadoras de câncer de mama, mas para um público maior, focando em fatores de risco, incentivo ao auto-exame e à realização da mamografia, saúde sexual (incluindo diversas outras patologias e prevenções), autoestima feminina, e outras temáticas dentro do espectro da saúde feminina, à medida em que percebemos as demandas”, pontua Fernanda.

Além da criação de páginas no Facebook e no Instagram, grupo realiza reuniões quinzenais on-line com pacientes das UBSs assistidas pelo projeto (Foto: Divulgação)

O professor da Faculdade de Medicina e orientador do projeto, Flávio Ronzani, por sua vez, ressalta o envolvimento de profissionais e estudantes como motivadores para o diálogo aberto com as comunidades. “O que mais me chama a atenção é a aceitação positiva do público em geral e a ação integrativa multidisciplinar dos participantes, todos muito engajados. Acredito que está sendo um sucesso, mesmo com a pandemia.”

Comunicação
Já a aluna do quinto período de Medicina e participante do grupo, Maria Clara Barra, atenta para o fato de que muitas pessoas ainda não possuem acesso ao meio digital e, por isso, estão sendo estudadas formas de superar mais este obstáculo e incluir essa população nas ações realizadas, a fim de ampliar a promoção da educação em saúde. “É muito enriquecedor fazer parte do projeto, uma vez que ele nos fornece não apenas o conhecimento teórico sobre o câncer de mama, mas aprimora nossa capacidade de comunicação com a sociedade e valoriza o cuidado integral com as pacientes, a partir da inclusão de outras áreas da saúde, o que contribui para a formação médica em um aspecto mais humano e global.”

Para Júlia Carolina Almeida Chaves, aluna do oitavo período de Medicina, e uma das responsáveis pelo perfil do projeto no Instagram, a experiência de criar conteúdo nesta rede é intrigante. “Nós, da graduação nas áreas de Saúde, temos pouco contato com tecnologias de mídias digitais; então manter uma página com esse intuito de informar, acolher pessoas e criar uma comunidade é um desafio. Mas, ao mesmo tempo, ver que nosso trabalho consegue chegar até as pessoas certas e tem um impacto na vida delas é gratificante e nos motiva a querer continuar e fazer mais. Em tempos de pandemia, utilizar todas as ferramentas que estão ao nosso alcance para fazer informações de saúde de qualidade chegarem até as pessoas é ser flexível e nos abrir para o novo.” 

UBS’s
O público-alvo do projeto é composto por usuários das UBS’s Nossa Senhora Aparecida, Dom Bosco, São Sebastião e Santa Cecília. Em sua grande maioria, são mulheres, mas também há homens que querem compreender melhor o câncer de mama e como podem apoiá-las nesse momento, visto que são raramente acometidos pela patologia.

“Verificamos que o WhatsApp é o canal preferido das moradoras dos bairros com UBSs inseridas no projeto. Com isso, criamos o grupo com o intuito de nos aproximarmos dessas mulheres e nele respondemos dúvidas, compartilhamos postagens para que elas, aquelas que não tenham acesso ao Instagram, conheçam o conteúdo e também outros materiais educativos. O grupo de Whatsapp é exclusivo para as usuárias das unidades, porém as reuniões com especialistas via Google Meet são divulgadas via Instagram para que quem se interesse possa ter acesso ao link e participar”, explica Júlia.

Equipe
Além dos acadêmicos, a equipe é composta pelo orientador, professor Flávio Ronzani, e pelo vice-orientador, professor Márcio Alves, pelos gestores das UBS’s assistidas, pela mastologista Estela Junges Laporte, pelos nutricionistas Genaina Bibiano Vieira e Renato Moreira Nunes, pela fisioterapeuta Lexandra Reyes Hechavarria, e pelos psicólogos Bianca Severo de Oliveira e Waldiley Almir de Souza Silva.

Outras Informações
Facebook: @Umapertodemama

Instagram: umapertodemama