vestibular UFJF

Cena clássica do vestibular tradicional, que foi perdendo força a partir de 2009 até ser encerrado em 2012

Com o sexagenário aniversário, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) comemora, em 2020, a entrega de cerca de 69 mil profissionais qualificados para a sociedade. Do total, cerca de 51%, o equivalente a mais de 35 mil estudantes, obtiveram o diploma do ensino superior apenas nos últimos 20 anos. Diante desse cenário, um dos fatores determinantes para a expansão universitária em ensino, pesquisa, extensão e infraestrutura foram os investimentos realizados pelo Governo Federal, emendas parlamentares e o ingresso no Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). 

Além disso, o avanço das políticas de permanência estudantil, o trabalho de acolhimento às diversidades e o início das atividades no campus avançado de Governador Valadares, juntamente ao surgimento do Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism), a criação de cotas sociais e raciais para os vestibulares e a alteração nas formas de ingresso trouxeram novos perfis para a Universidade.  

Desde de 2004, com a aprovação, pelo Conselho Superior (Consu), das resoluções 16/2004 e 05/2005, foi regulamentado a implantação de uma política de cotas, nos cursos de graduação, para egressos de escolas públicas e negros. Já as ações afirmativas foram consolidadas em todas as instituições federais de ensino brasileiras pela leis 12.711/2012 e 13.409/16, que também reservam vagas para indígenas e pessoas com deficiência nesse nível de ensino.

A ex-reitora Margarida Salomão explica que durante a gestão, em 2004, foi discutido amplamente na UFJF, e com a sociedade, a adoção de cotas sociais e raciais, anterior à votação da lei federal. “Já existiam em algumas universidades. Então tivemos a iniciativa de levar esse tema para ser debatido, mas não tenho a menor dúvida da sua importância. A adoção de cotas, na Universidade Federal Juiz de Fora, mas também em todas as universidades brasileiras, significou mudar a cara das instituições federais e fazer com que o povo brasileiro, pela primeira vez na sua história, pudesse se aproveitar desses grandes benefícios no sentido da educação e do desenvolvimento.”

Italo Pereira UFJF - Arquivo Pessoal

‘Meus pais sempre falaram que algum dia eu estudaria na UFJF’, diz estudante de Medicina Ítalo Pereira (Arquivo Pessoal)

 “Meus pais sempre falaram que algum dia eu estudaria na UFJF”, conta o estudante da Faculdade de Medicina Ítalo Pereira.  Apesar de não ter referência de alguém próximo no ensino superior público, ingressou através do grupo A do Pism, por se considerar preto e ser de baixa renda. “Saber que a UFJF oferecia cotas foi muito motivador, pois não me via representado nos demais alunos onde eu estudava, o que me impactou negativamente, concomitantemente às dificuldades financeiras. As cotas pra mim são um direito que não deveria nem ser questionado.”

Segundo Pereira, a população negra brasileira sempre viveu em um contexto de desigualdades étnico-raciais, desde a escravidão a atualmente, explicitadas através dos índices sobre violência, desemprego e pobreza, por exemplo. “Em contrapartida, há a concepção entre muitos, inclusive de colegas de infância, de que o ensino superior é algo classista e elitista, que não é algo para quem é pobre, especialmente se for preto. A falta de referências de estudantes e profissionais negros, em especial, em cursos como o meu, só  corroboram isto. As cotas, somadas às políticas de permanência, tem um valor importante para demonstrar que o lugar de preto é onde ele quiser.”

Enfrentar o racismo estrutural e sonhar futuros

Pism e vestibular

Introduzido em 1999, Pism viu a quantidade de inscritos quadruplicar em pouco mais de 20 anos (Foto: Caique Cahon/UFJF)

Durante muitos anos, a aprovação para uma das vagas oferecidas pela UFJF eram disputadas somente por meio de um vestibular realizado pela instituição. Desde 1999, uma nova porta de entrada para o ensino superior é o Programa de Ingresso Seletivo Misto (Pism). Embora iniciado no final da década de 1990, o primeiro registro da realização das provas nos três módulos ocorreu, em 2001, quando os primeiros candidatos ao processo finalizaram o ensino médio. 

Naquela edição, foi registrado o total de 8.986 inscritos. Duas décadas depois, em 2019, o sucesso do programa é referendado pela inscrição de 40.126 candidatos e, já em 2020, só os atendidos que pediram isenção equivalem a 9.990 estudantes.

A proposta, idealizada pela ex-pró-reitora de Graduação Valéria Trevizani foi criada para oferecer a estudantes de Juiz de Fora e das regiões próximas um meio de acesso à Universidade, elaborada de maneira seriada para diminuir a carga horária de estudos. 

Margarida explica que o Pism surgiu para aperfeiçoar os processos de admissão das pessoas nas universidades de uma forma que combinasse mais com a vida escolar. “Ter a oportunidade de testá-los nessa ocasião, certamente é uma melhoria em relação à testagem que se fazia anteriormente, o famoso vestibular. O avanço que registramos foi de uma grande interação com todo o sistema de ensino da cidade e da região. Nós fazíamos grandes debates sobre o que vinha sendo ensinado. Nesse sentido, entendo que esse tenha sido o maior ganho, o de um aprofundamento da relação da universidade com o sistema educacional do ensino médio”, comenta.

Graduada em Arquitetura e Urbanismo, Nádia Ribeiro conta que foi incentivada pelo tio e padrinho, servidor da Universidade, Pedro Rosa, a estudar e a aproveitar as oportunidades de ensino oferecidas pela UFJF. “Em 2006, entrei no Colégio Técnico Universitário (CTU) para cursar o ensino médio e, já no ano seguinte, ingressei no curso técnico de Edificações. Lá foi meu primeiro contato com a Universidade, o que mudou significativamente as perspectivas acadêmicas e profissionais que eu tinha”, explica Nádia.

Aprovada por meio das cotas sociais do Pism, iniciou a vida universitária em 2009 e teve interesse pelo Programa de Intercâmbio Acadêmico. Nos anos de graduação, procurou moldar uma trajetória para cumprir os requisitos exigidos pelos editais, participando de inúmeras atividades estudantis. Nádia compõe o grupo de 1.101 acadêmicos que foram contemplados pela iniciativa e conseguiu uma bolsa de estudos na Universidade da Beira Interior, em Covilhã (Portugal).

“Lá foi onde comecei meu processo de transição capilar, depois de ter contato com outras mulheres negras africanas, e entender a beleza e a complexidade de se viver e falar de negritude num contexto brasileiro onde nossas histórias são tão negadas e negligenciadas. Participei novamente de um programa de intercâmbio, o Ciência sem Fronteiras que me levou para Budapeste (Hungria) por um ano. Vi o curso de Arquitetura e Urbanismo virar a sonhada Faculdade e me formei em 2016.  Após graduada, ainda participei do Coral da UFJF, antes de vir morar em São Paulo”, finaliza Nádia.

2- Nadia no coral

Aprovada pelo Pism, Nádia Ribeiro (de beca) cursou Arquitetura, fez intercâmbio em Portugal e na Hungria e participou do Coral

Enem
Desde de 2009, a UFJF passou a utilizar o Ensino Nacional do Ensino Médio (Enem) como uma das portas de ingresso ao ensino superior. Inicialmente, foi utilizada apenas como substitutiva da nota da primeira fase do vestibular. Entretanto, a partir de 2012, o Conselho Setorial de Graduação (Congrad) decidiu acabar com o vestibular próprio, e as vagas oferecidas passaram a ser disputadas por meio do Sistema de Seleção Unificado (Sisu).

Vinícius Quintiliano da Silva foi aprovado para cursar o bacharelado em Matemática pelo Sisu e para a licenciatura da mesma graduação pelo Pism. Acredita que o vestibular seriado oferece vantagens em relação a regionalidade e pela divisão dos conteúdos, o que o torna um pouco mais fácil. “Temos menor concorrência no Pism, mas o Sisu utiliza a nota do Enem e possibilita que possamos escolher universidades do Brasil inteiro. Além disso, o programa do governo federal oferece outras vantagens, já que podemos tentar a aprovação por ele duas vezes ao ano.”

Por fim, optou pela aprovação no Vestibular seriado, pois sentia-se mais interessado pela graduação em licenciatura de Matemática. “O Pism nos ajuda a amadurecer porque durante três anos lidamos com a experiência de participar de um processo seletivo.”

Já Denise Gomide Silveira pôde experimentar a seleção de duas formas diferentes. Em 1981, foi aprovada no vestibular para o curso de Ciências Biológicas. Trinta anos depois, garantiu a vaga por meio do Enem, desta vez para ingressar na graduação em Ciências Humanas e, posteriormente, Turismo. “Comparando os dois, acho o Enem muito cansativo, pois requer muita concentração, com questões longas demais. Tão desgastante que preferi fazer o vestibular.”

Denise Gomide Silveira

Três vezes UFJF: Denise Gomide cursou Ciências Biológicas e 30 anos depois ingressou em Ciências Humanas e em Turismo (Foto: Arquivo Pessoal)

UFJF 60 anos
Para celebrar a data, a Diretoria de Imagem Institucional traz a proposta de recordar os mais diversos momentos vividos pela comunidade acadêmica ao longo dos 60 anos. A iniciativa consiste em envolver as pessoas da comunidade para compartilharem suas recordações pelo e-mail ufjf60@comunicacao.ufjf.br ou pelas redes sociais usando #UFJF60anos.

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