A Igreja Matriz de São Martinho do Campo, em Portugal, é o cenário do concerto de encerramento do 31º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga – Edição Virtual, com o ítalo-brasileiro Marco Brescia e o grupo Cuarteto Alicerce, de Santiago de Compostela (Espanha). Nesta segunda-feira, 30, o público poderá conferir por “streaming” composições para órgão e cordas de Carlos Seixas, Sammartini e Händel, autores do século XVIII.
O Festival, organizado pela Pró-reitoria de Cultura (Procult) e pelo Centro Cultural Pró-Música, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pôde ser visto nesta edição diariamente via plataformas virtuais. A transmissão de encerramento acontece pelo canal do Pró-Música no Youtube a partir das 19h, com palestra do professor de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, destinada a fazer uma contextualização histórica do programa. Em seguida, às 20h, a apresentação do concerto.
“Num momento tão escuro, é um programa de notável beleza harmônica e melódica, que acaricia a alma do ouvinte e deixa no ar uma aura leve e dadivosa. Tanto o inspiradíssimo “Concerto em Si bemol Maior” para órgão e cordas do milanês Giovanni Battista Sammartini como o contrastante e virtuosístico “Concerto em Sol menor para órgão e cordas”, de Georg Friedrich Händel, com o seu radiante movimento final em Sol Maior, são obras capazes de operar este prodígio: encher-nos o espírito de graça, serenidade e otimismo; é disto que precisamos agora”, afirma o cravista Marco Brescia.
A exibição do concerto resulta da parceria do evento brasileiro com o Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso, em Portugal, do qual Brescia é diretor artístico. Diante de um cenário mundial em que eventos artísticos de todo tipo estão sendo cancelados e companhias enfrentam a crise com fechamentos e demissões, Santamarina acredita ser imprescindível fazer adaptações para que a cultura sobreviva: “Felizmente a tecnologia hoje permite essa adaptação, e pensamos que concertos virtuais como o que acontece este ano pela primeira vez em Juiz de Fora não serão algo pontual, senão devem inaugurar um modelo que será cada vez mais comum”, prevê. Segundo ele, “temos que tentar ver isso como uma vantagem e uma oportunidade para alcançar mais pessoas na divulgação da cultura. Provavelmente, os festivais e produtores culturais que melhor fizerem essa metamorfose serão os que farão sucesso no futuro”.
A opinião é seguida por Brescia. “É fundamental que festivais do peso e da tradição do de Juiz de Fora deem seguimento às suas atividades, mesmo que de forma virtual, pois não só é uma mensagem de que a cultura precisa seguir adiante, apresar das dificuldades, como é fulcral a ideia de que, em momentos de tanta privação e contenções as mais diversas, é preciso cultivar e vivificar o espírito e, assim, fortalecê-lo para que possa iluminar a tenebrosa travessia que as circunstâncias nos impõem realizar. Um desafio, sem dúvida.”
Os músicos
Marco Brescia (órgão) é um músico de referência na interpretação historicamente informada da música de tecla de tradição ibérica e italiana (séculos XVI–XIX), atuando regularmente nos mais renomados festivais internacionais, como o Euro-Via/Festival Internazionale di Venezia, Festival Organistico Internazionale Città di Treviso e della marca trevigiana, Stagione Internazionale di concerti sugli organi storici della provincia di Alessandria, Settimana Organistica Internazionale di Piacenza (Itália), Landsberger Orgel Sommer (Alemanha), Festival Internacional de Música Antigua de Daroca (Espanha), Festival de Órgão da Madeira, Festival de Estoril/Lisboa (Portugal), Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga de Juiz de Fora e outros.
As classes ministradas por José Luis González Uriol no enquadramento dos cursos de música antiga de Daroca (Espanha) representaram um ponto de inflexão inexorável para o seu desenvolvimento artístico. Brescia concluiu mestrado em Interpretação da Música Antiga/Órgão Histórico (Escola Superior de Música de Catalunya/Universitat Autònoma de Barcelona), com obtenção da prestigiosa “matrícula de honor”, e doutorado em Musicologia Histórica (Universidades Paris IV – Sorbonne/Nova de Lisboa), com obtenção da menção máxima. Atualmente, é pesquisador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, de Lisboa.
Com o prestigiado soprano Rosana Orsini, gravou o disco “Angels and Mermaids: religious music in Oporto and Santiago de Compostela” (18th/19th century) (Arkhé Music, Portugal, 2016), além do CD “Zipoli in Diamantina: Complete organ works” (Paraty, França, 2020) e do disco Sacred Belcanto (Castelpor, Portugal, 2020), este último com o soprano Rosana Orsini e o tenor Luciano Botelho. Desde 2015, é diretor artístico do Festival Internacional de Órgão de Vila Nova de Famalicão e Santo Tirso (Portugal) e, desde 2019, membro do júri do Concurso Nacional de Órgano “Francisco Salinas”, de Burgos (Espanha). Outras informações sobre o músico podem ser acessadas em www.marcobrescia.com.
Cuarteto Alicerce
O Cuarteto Alicerce nasce de um concerto organizado pela Universidade de Santiago de Compostela, realizado no Paraninfo da Faculdade de História, em junho de 2016, quando interpretaram as “Sete últimas palavras de Cristo crucificado”, de Joseph Haydn. Desde então, os quatro músicos, amigos de longa data, se reúnem periodicamente para interpretar obras para cordas do período clássico e do primeiro romântico, sempre com instrumentos com corda de tripa. Todos os músicos têm uma ampla experiência no campo da música antiga, tendo se apresentado com prestigiosas orquestras e “ensembles” internacionais. Com o Cuarteto Alicerce, Roberto Santamarina e Jorge Montes (violinos), Maria José Pámpano (viola) e Carlos García Amigo (violoncelo) já se apresentaram em diversos concertos na península ibérica, sendo sempre aclamados pelo público e pela crítica especializada.