Os músicos chilenos Cristián Gutiérrez (teorba), Luciano Taulis (viola da gamba) e Antonia Sanchez (oboé barroco) participam pela primeira vez do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, neste sábado, 28. Reunidos em uma velha casa de estilo colonial, de madeira e adobe, cedida por um conhecido luthier e colecionador de instrumentos para a gravação do concerto – já que o uso de lugares públicos, como igrejas e teatros, permanece restrito no Chile –, o trio apresenta o programa “Las Danzas Ocurrentes”, que poderá ser visto por “streaming”.
O Festival é organizado pela Pró-reitoria de Cultura (Procult) e pelo Centro Cultural Pró-Música, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e se estende até segunda-feira, 30, sempre via plataformas virtuais. As transmissões, pelo canal do Pró-Música no Youtube, acontecem diariamente a partir das 19h, com palestra do professor de Música da UFJF, Rodolfo Valverde, destinada a fazer uma contextualização histórica dos programas dos concertos. Em seguida, às 20h, as apresentações artísticas.
O programa parafraseia uma obra de Nicolás Chedeville, compositor e construtor de oboés, e nasce, segundo Gutiérrez, da profunda ideia da “dança” como grande protagonista do barroco francês e da criação musical que daí decorre. “Junto com a suíte francesa mais formal, acrescentam-se movimentos mais livres e mais próximos da linguagem instrumental, como prelúdios e fantasias, onde suítes de diferentes autores se combinam com a ideia de ‘suíte dupla’, pois, longe da ideia de obra acabada, reunimos músicos que provavelmente tocaram e improvisaram juntos”, afirma.
Outras danças, típicas da vida cortesã – Allemandes, Sarabandes, Courantes, Gigues –, todas originalmente para serem dançadas sob as indicações de coreografias estritas em seus detalhes ou com as explicações específicas de cada uma descritas em um tratado, encontram e exploram possibilidades sonoras diversas, “entendendo que, nesta época, música e movimento (do corpo, no bailar) são um todo”.
Dos autores incluídos no programa, sabe-se com certeza que Jacques-Martin Hotteterre, Pierre Danican Philidor, Marin Marais e Robert de Visée trabalharam para Luís XIV, estando os três primeiros músicos vinculados à corte, e o terceiro sendo violonista, teorbista e “mestre de violão do rei”. Hotteterre nasceu em uma família de renomados construtores de instrumentos de sopro. “Todos esses artistas são estupendos exemplos do “bon goût” francês em seu nacionalismo e na inclusão deliberada de ‘gostos’ importados, além de virtuoses em seus respectivos instrumentos e na arte da composição”, observa Gutiérrez.
Reinvenção
Para o músico, a realização do Festival em ambiente on-line não compromete esse evento tradicional e é uma alternativa que se impõe frente às mudanças exigidas pelo momento. “Ao longo da história, muitas coisas que antes pareciam inaceitáveis ou incompreensíveis se tornaram naturais. Agora mesmo enfrentamos tempos que nos convidam a ouvir e participar da arte de outra forma, e isso não muda sua qualidade. É uma feliz circunstância que o Festival seja uma parte ativa e real deste momento histórico.”
Segundo o artista, 2020 tem sido um ano particular em muitos aspectos: “Todos aprendemos algo novo e entendemos que o mundo, as relações e a arte devem aprender a se reinventar. Talvez o mais importante para é percebermos que o desejo de fazer música e compartilhá-la não desapareceu, apesar das dificuldades.”
Os músicos
Antonia Sánchez (Oboé) nasceu em Santiago do Chile. Iniciou seus estudos formais em oboé no Conservatório da Pontificia Universidad Católica de Chile e depois na Universidad de Chile, com especialização em Teoria Musical. Em 2005, obteve o apoio do Consejo Nacional de la Cultura y las Artes para estudar o oboé barroco, em Barcelona. Mais tarde, estudou o oboé histórico no Conservatorio Real de La Haya, e seguiu no mestrado. Já se apresentou com diferentes grupos no Chile, Argentina e em toda a Europa, como Les Carillons, Concerto Amsterdam, De Swaen, Ensemble Orfeo 55, Florilegium Musicum, Ensemble Elyma, entre outros. É membro fundador da L’Harmonie Nouvelle, na Suíça, um quinteto de sopros dedicado ao repertório de fins do século XVIII e princípios do século XIX, e do grupo La Consonancia. Como docente, trabalha na Universidad Alberto Hurtado, na Universidad Católica Silva Henríquez e na Universidad Diego Portales.
Luciano Taulis (Viola da Gamba) nasceu no Chile em 1984. Iniciou seus estudos de viola da gamba no Chile, cursando o grau elementar desse instrumento na Universidad Católica do Chile. Em 2006, mudou-se para Sevilha, continuando os estudos. Desde o seu início como gambista, tem participado em diversos projetos e grupos de câmara e orquestra, percorrendo os vários períodos da música antiga e dando concertos no Chile, Alemanha, Bolívia, Espanha e França. Da mesma forma, tem colaborado em projetos de teatro e dança como intérprete e criador musical, aventurando-se no campo da música contemporânea e do flamenco. No Chile, participa regularmente de diferentes grupos, entre os quais a Orquesta Barroca Nuevo Mundo e Les Carillons, dirigida por Rodrigo Díaz, e do grupo La Consonancia.
Cristián Gutiérrez (Teorba) é um dos intérpretes chilenos mais proeminentes na especialidade da música antiga. Estudou violão no Conservatorio de Música de la Facultad de Artes de la Universidad de Chile. Recebeu uma bolsa de estudos para viajar à Espanha para continuar seus estudos de especialização. Já fez mais de 15 gravações, além de participar de gravações e transmissões de rádio em diversos países, como Espanha, França, Inglaterra, Holanda e Portugal. Tem desenvolvido um notável trabalho como solista e membro de vários grupos. Foi apresentado em mais de 20 países na América, Europa, Oriente Médio e Ásia. Desde 2013, é artista do selo Carpe Diem Records, em Bremen, na Alemanha. Como docente, é professor permanente na Hudební lahůdky Academy, em Praga, na República Tcheca, e regularmente dá cursos e masterclasses na Akademie für Alte Musik em Bremen, na Alemanha. Também ministrou cursos em países da América Latina, como Costa Rica, Colômbia, Bolívia e Argentina. É diretor musical do grupo La Consonancia, do trio La Pulsata, e atua como acadêmico na Universidad Alberto Hurtado e no Conservatorio de Música de la Universidad Mayor.