Kelly da Silva: “A questão da divulgação da política de cotas é fundamental” (Foto: Alexandre Dornelas)

O Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) sediou nesta quarta-feira, dia 19, a banca de defesa de tese da professora da Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg), Kelly da Silva. Orientada pelo professor Anderson Ferrari, Kelly desenvolveu pesquisa acerca da “Trajetória de professoras negras: educação, gênero e raça”. 

Em sua tese, Kelly destaca a necessidade de ampliação da divulgação das ações afirmativas e, também, de elaboração de currículos antirracistas. Na atividade de campo, a doutoranda entrevistou professoras que  ingressaram em universidades públicas a partir da política de cotas.  

Kelly da Silva: “Pensar um currículo antirracista tanto quanto um anti-machista, é pensar estratégias de formação e capacitação”

“A questão da divulgação da política de cotas é fundamental. As entrevistadas relatam que tiveram acesso ou por colegas ou porque de alguma forma estavam na instituição, quando surgiu a política de cotas em 2004, na Uemg. A maioria dos casos é por ter contato com alguém que está próximo ou dentro da instituição. Não há uma divulgação para a população em geral. O que eu questiono é que temos que fazer a informação chegar a quem realmente deveria ter acesso a essa política. É preciso repensar como fazer chegar e como conseguir ter acesso a essas pessoas, como devem ser essas estratégias e quais são os meios de informação que acessam”, enfatiza.

Sobre a questão curricular, a pesquisa aponta a necessidade de elaboração de outras estratégias formativas, visando à educação para a diversidade.   

“Pensar um currículo antirracista tanto quanto um anti-machista, é pensar estratégias de formação e capacitação de profissionais para atuar para além do pessoal. Não é só o sujeito que lida com a temática de raça, de gênero ou de sexualidade diretamente que deveria tratar dessas questões. Por exemplo, quando falo da questão da branquitude, há uma dificuldade da branquitude de discutir os seus próprios privilégios. Quando o outro, aquele não incomodado diretamente com a temática, se der conta dos próprios privilégios, nós vamos conseguir avançar.”

“Tem uma outra questão posta aí”

Anderson Ferrari: “As feministas negras já vêm apontando isso: não basta não ser racista, há necessidade de interferirmos no racismo” (Foto: Alexandre Dornelas)

A avaliação é compartilhada pelo professor do PPGE e orientador da pesquisa, Anderson Ferrari. “É um desafio que foi aparecendo para mim ao longo da minha trajetória como orientador. É fundamental pensarmos, e a Kelly toca neste ponto, que a Universidade vem mudando com o ingresso de pessoas que antes estavam fora dela, destacadamente pessoas negras e pessoas LGBTs. A entrada dessas pessoas diz de um processo muito interessante para olharmos também. É a resistência na escola. Foram pessoas que conseguiram resistir ao processo de colonização, que é um processo de expulsão, um processo de docilização dessas questões, e chegaram à Universidade.” 

Anderson Ferrari: “Eu trabalho com gênero desde 1996. A questão da interseccionalidade não tinha chegado para mim”

Ferrari acrescenta que a chegada dos cotistas à Universidade traz novas perspectivas e abordagens de pesquisa. “Eu trabalho com gênero desde 1996. A questão da interseccionalidade não tinha chegado para mim. Eu sou um homem branco e gay. Quando eu comecei a ter alunos que apontaram: ‘espera aí, Anderson, tem uma outra questão posta aí’. Então, esse foi um desafio que eu acatei. O trabalho da Kelly reforça esse lugar da Universidade. É uma questão fundamental também, com a qual a Kelly trabalha, quando menciona a necessidade de um currículo antirracista.” 

Outro aspecto destacado pelo orientador  na tese “Trajetória de professoras negras: educação, gênero e raça” é a recuperação e o registro da história de mulheres negras no ambiente universitário. “Essas mulheres negras fizeram uma história, assim como outras mulheres negras também. Isso era silenciado. Agora, essas mulheres aparecem, contando a sua história. As feministas negras já vêm apontando isso: não basta não ser racista, há necessidade de interferirmos no racismo. Falar de um currículo antirracista na Educação é fundamental hoje. No nosso contexto histórico, no nosso contexto político atual, é uma necessidade”, concluiu Ferrari.

Contatos:

Kelly da Silva

kelly.silva@uemg.br

Anderson Ferrari

aferrari13@globo.com 

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Anderson Ferrari – (Orientador – UFJF)

Prof. Dra. Carolina dos Santos Bezerra Perez– (UFJF)

Prof. Dr. Roney Polato– (UFJF)

Prof. Dra. Heloísa Raimunda Herneck– (Universidade Federal de Viçosa)

Prof. Dra. Vanessa Regina Eleutério Miranda – (Universidade Federal de Minas Gerais)

Outras informações: (32) 2102- 3665 – Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE)