A 2ª Semana da Consciência Negra da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) teve início nesta terça-feira, 19, e segue até o dia 29. Oficinas, palestras, ciclo de debates, minicursos, mostras e workshops, todos gratuitos e abertos ao público, vão fomentar a luta antirracista nos dois campi da instituição, em Governador Valadares e Juiz de Fora.
Para participar da Semana, basta realizar inscrição nos próprios locais e horários das atividades. Confira a programação completa. A participação confere certificado e a iniciativa é uma promoção da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) por igualdade de direitos e oportunidades.
No campus de Juiz de Fora, a 2a Semana da Consciência Negra foi aberta com a mesa “Pesquisas sobre o Negro e a Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFJF”. O debate, proposto pelo Grupo de Pesquisa Africanidades, Imaginário e Educação (Anima), foi conduzido por três ex-alunos do PPGE, pioneiros na discussão da temática: Aretusa Santos, Marina do Nascimento Neves e Narcisse Sylvestre Sègla Adjoudeme.
Quarta-feira, 20 de novembro
Nesta quarta-feira, 20, às 19h, na sala Paulo Freire, na Faculdade de Educação (Faced), terá início o minicurso “Racismo estrutural e o caráter combativo do rap nacional: um diálogo entre o álbum ‘Ladrão’ de Djonga e as estruturas sociais discriminatórias”, ofertado pelos graduandos Edvaldo Lopes Pereira dos Santos e Mariana da Silva. O minicurso terá carga horária total de oito horas.
“As aulas vão acontecer nas noites dos dias 20 e 21. A ideia surgiu com a Mariana. Nós não fazemos o mesmo curso. Eu sou da Administração e ela é da Letras. Sempre falamos muito sobre a questão do povo negro, sobre o racismo estrutural, sobre o rap. Estudamos esses assuntos. Quando a Mariana viu o edital, ela me convidou”, conta o graduando em Administração, Edvaldo Santos.
Sexta-feira, 22 de novembro
Na sexta-feira, 22, haverá a oficina “Do Quilombo de Palmares aos Kilombos de África: descolonizando saberes”, das 14h às 17h, na Faculdade de Educação, proposta pelos doutorandos do PPGE, Tarcísio Moreira Mendes e José Artur do Nascimento Silva.
“Essa oficina nasceu de um convite que o Artur me fez. Ele, que é natural de União dos Palmares (AL), terra de Dandara, Aqualtune e Zumbi, pesquisa estratégias de luta antirracista, através da lei do ensino obrigatório das culturas afro e afro-brasileira. Sabendo que eu estava pesquisando os kilombos de África, me chamou para compor. A oficina tem esse caráter de fazer a relação mais intensiva entre o Quilombo de Palmares e o Kilombo de África, fazendo uma analogia mesmo. Vamos abordar como política e estrategicamente essa organização militar, que se fundou aqui no Brasil e também em África, se movia para lutar contra a invasão e a colonização dos europeus, especificamente dos portugueses”, explica Tarcísio Mendes.
José Artur Silva acrescenta que a intenção é apresentar aos participantes outras perspectivas sobre a trajetória do povo negro no país. “Essa atividade é importante no sentido de formarmos alianças e apresentarmos outras possibilidades e outros cenários diante dessa epistemologia que tem sido posta no país. Outras possibilidades de desconstruir o que tem sido dito a respeito do povo negro e de suas vastas contribuições para o Brasil. Essa luta é acima de tudo antirracista, de composição, de alianças, de possibilidades de outros olhares, diante do que a branquitude tem produzido sobre nós. É nessa perspectiva que essa oficina surge”, ressalta Silva.
Também na sexta-feira, 22, às 17h, na Faculdade de Letras, será lançado o coletivo AfroFlor. A proposta é das mestrandas do Programa de Pós-graduação em Linguística, Andrêssa Maria da Silva, e do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários, Tatiane de Carvalho Morais.
“O coletivo AfroFlor tem como objetivo trazer as temáticas negras e ser um espaço de reflexões e compartilhamento de experiências. Buscamos aumentar os espaços de representatividade na universidade e, para tanto, traremos para o lançamento do coletivo uma pauta voltada para as experiências relacionadas à estética da mulher negra, como os enfrentamentos diante de estereótipos, sexualização e comportamento”, aponta Andrêssa.
Segunda-feira, 25 de novembro
A Faculdade de Serviço Social realiza a VII Semana de Igualdade Racial: Vidas Negras Importam, com o tema Racismo e Saúde Mental. No dia 25, das 18h às 22h, ocorrem apresentação cultural e palestra, a cargo do grupo de artes cênicas e política “As Ruths”, encenando “De todas nós”. Na mesma noite, a professora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e feminista, Rachel Gouveia Passos, e a professora da Faculdade Machado Sobrinho, feminista negra e integrante do Coletivo Odoyá de Psicólogxs Negrxs de Juiz de Fora e Região, Gilmara Santos Mariosa, participam de mesa de debates interdisciplinar.
Terça-feira, 26 de novembro
Na terça-feira, dia 26, às 17h30, no Anfiteatro das Pró-reitorias, será realizada a mesa “15 anos de cotas na UFJF”, com a presença do professor Ignácio Delgado e de ex e atuais cotistas da instituição.
“As cotas foram aprovadas na UFJF no ano de 2004, através da Resolução nº 16/2004 do Conselho Universitário. A decisão pela adoção dessa política de ações afirmativas se baseou num relatório elaborado por uma comissão especial que trabalhou durante dois anos e submeteu uma proposta à instituição. Tem-se o registro de 24.925 estudantes que ingressaram pelas cotas na UFJF. Esta mesa, nesse sentido, fará uma avaliação da Política de Ações Afirmativas em nossa Instituição e procurará apresentar exemplos de profissionais que cursaram como cotistas na UFJF”, explica o diretor de Ações Afirmativas e proponente da atividade, Julvan Moreira de Oliveira.
Quarta-feira, 27 de novembro
Na quarta-feira, 27, às 14h, no Auditório da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis, terá início o minicurso “Epistemologias Negras: Racismo Estrutural e Interseccionalidades na construção de pesquisas racializadas”, ofertado pela graduanda em História, Bianca Marlene da Silva, e pelo mestrando em Geografia, Diego Dhermani Lopes Germano. A iniciativa será realizada em três sessões de quatro horas cada uma, nos dias 27, 28 e 29 de novembro.
“Buscamos através deste minicurso abordar epistemologias negras, considerando, que na construção da sociedade brasileira e ocidental, as questões étnico-raciais, foram de algumas maneiras, sumariamente apagadas, o que configura o que podemos chamar de epistemicídio. Neste sentido. objetivamos apresentar tais epistemologias como possibilidades de caminhos teóricos para interpretação de uma realidade racializada”, explicam os professores.
O Auditório da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis também sediará, na mesma data, às 17h, o minicurso “Masculinidades Negras: representação e representatividade”. A atividade, proposta pelo mestrando em Comunicação na UFJF, Davi Carlos, e pelo mestre em Ciência da Religião, Lucas Soares, acontecerá em duas sessões de quatro horas cada uma, nos dias 27 e 28 de novembro.
“Os meios de comunicação são importantes mediadores de representações que perpassam o social, e que, com isso, ajudam a produzir discursos em torno da identidade cultural de grupos e indivíduos. O minicurso deseja refletir sobre as formas como os homens negros são representados nos meios de comunicação e, discutir como o debate sobre as masculinidades negras ganha campo nas redes sociais digitais”, apontam os proponentes.
Às 19h, no Auditório 2 do Centro de Ciências, será realizada a mesa “História Pública, Áfricas e Pós-Abolição”.
“A ideia da discussão é uma parceria entre o Laboratório de História Oral, que está dando os seus primeiros passos com a chegada da professora Hebe Mattos ao Departamento de História da UFJF, e do Afrikas, grupo de estudos conduzido pela professora Fernanda Thomaz, da cadeira de História da África. A proposta é resgatar essa questão do papel da História na constituição dessas memórias negras no Brasil e, principalmente, no pós abolição, com recorte aqui em Minas Gerais”, explica a proponente e doutoranda em História na UFJF, Giovana de Carvalho Castro.
Giovana acrescenta que, para o referido debate, os grupos de pesquisa vão realizar duas mesas na 2ª Semana da Consciência Negra. “Essa primeira mesa para pensar um pouco da formação dessa subjetividade negra do pós abolição e dessa cidadania e da constituição desse indivíduo dentro de um espaço de uma ordem pós escravocrata. E a outra, na quinta-feira, dia 28, para discutir como que a cultura se intercruza nesses espaços, com recorte em Minas Gerais. Por isso, a presença da historiadora Patrícia Lage, que pesquisou lazer de libertos em Juiz de Fora, e da professora Gilmara Mariosa, que é uma das pioneiras nos estudos sobre a constituição de cultura negra em Juiz de Fora. É um esforço coletivo para conseguirmos ressignificar essas escrita da história negra na cidade e região.”
Quinta-feira, 28 de novembro
Na quinta-feira, 28, às 8h, na sala 107, no Instituto de Artes e Design (IAD), terá início a oficina “Caderninhos bordados: resgate da ancestralidade”. Ao todo, serão duas sessões de quatro horas cada uma, nos dias 28 e 29 de novembro.
“O intuito é desmistificar os ofícios manuais e artesanais, repensar o afastamento dos afazeres perdidos durante o século passado e sugerir o resgate dessas práticas ainda vigentes em algumas sociedades”, contam os proponentes, Vitória Camillo, graduanda em Turismo; Vanessa Gomes e Lucas Caetano, graduandos em Artes e Design e integrantes do Coletivo Descolônia.
Às, 9h, no Auditório 3 do ICH, acontece a mesa “Pós Abolição e Cultura Negra em Minas Gerais”, com as debatedoras Sílvia Brugger, da Universidade Federal de São João del-Rey; Lívia Monteiro, da Universidade Federal de Alfenas; Gilmara Mariosa e Patricia Lage, da Prefeitura de Juiz de Fora.
Já às 14h, no mesmo Instituto, terá início o minicurso “O que queremos dizer quando falamos sobre filosofia africana?”, também ministrado pelo mestre em Ciência da Religião, Lucas Soares. Ao todo, serão duas sessões de quatro horas cada uma, nos dias 28 e 29 de novembro.
“O objetivo é analisar os argumentos contrários à existência de uma forma de filosofia africana, apresentar os principais temas abordados por essa tradição à luz dos modos de agir e pensar dos filósofos africanos e outros pensadores, com ênfase nas críticas ao colonialismo, e compreender qual é a relação entre os filósofos e pensadores europeus com os intelectuais do continente africano”, destaca Soares.
Sexta-feira, 29 de novembro
Na sexta-feira, 29, às 9h, no Auditório 4 da Faculdade de Engenharia (prédio Itamar Franco), será realizada a palestra “Histórias Contadas x Histórias vividas: Seu Lugar é na Cozinha”, proposta pela arquiteta do quadro técnico-administrativo em educação da UFJF, Miriam Carla do Nascimento Dias.
“Falaremos sobre bem receber, dos espaços criados para receber em casa e, especificamente, da sala de estar, sala de jantar, copa e cozinha, que foi a área que mais sofreu transformação e tudo começou na abolição da escravatura. A cozinha do Brasil Colônia era externa, suja e o serviço era muito artesanal e pesado, pensado na mão de obra escravizada”, explica.
Outras informações: (32) 2102-6919 – Diretoria de Ações Afirmativas