AD Júnior dedica-se à pesquisa da diáspora negra no Brasil e no exterior. Foto: Alice Coêlho/UFJF

O jornalista, consultor de estratégias de marketing online, ativista e youtuber, AD Júnior, realizou palestra na noite desta sexta-feira, dia 1°, no Anfiteatro de Estudos Sociais, no encerramento da 2ª Calourada Preta da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).  O evento foi organizado pela Frente Preta da UFJF, composta por estudantes e coletivos da Universidade e por representantes de movimentos sociais externos à instituição.

Natural de Juiz de Fora, AD Júnior vive em Hamburgo na Alemanha, tendo dedicado seus estudos à temática da diáspora negra no Brasil e no exterior.  “A segregação no Brasil impediu que os negros tivessem qualquer tipo de visibilidade. Nós precisamos combater de forma ciente o racismo. Precisamos entender que estruturalmente este país impediu o avanço de pessoas negras’”,  enfatizou.

A formação acadêmica do jornalista foi realizada nos Estados Unidos e na Alemanha. “Foi quando eu tive contato com os negros diaspóricos de outras realidades. Eu tinha uma ideia sobre o meu próprio país, sobre o meu próprio corpo, sobre a minha própria realidade, que era completamente bizarra aos outros. Eu dizia que o Brasil era um país maravilhoso. Os negros americanos me diziam que o Brasil era um país eugênico. Eu indagava: como assim?”, contou.

Segundo AD Júnior, foi uma professora norte-americana que o incentivou a investigar a temática da miscigenação racial. “A professora me disse que não havia nada de bonito no que foi feito com os negros no Brasil, para apagar a história do povo negro aqui. Isso em 2005. Ela me sugeriu eleger umas disciplinas sobre história comparada de Brasil e Estados Unidos, introdução à cultura afro-americana e cultura latina afro-americana. E eu comecei a entender sobre isso, sobre o que é o racismo estrutural no Brasil.”   

“A história que a história não conta é a nossa história”

Para fazer o debate acerca do racismo na sociedade brasileira, AD Júnior apresentou um resumo da ordem jurídica brasileira desde o ano de  1824. O objetivo, de acordo com o jornalista, é fomentar reflexões e estratégias para a emancipação da maioria dos brasileiros, os 54% negros.

“O motivo principal da palestra aqui hoje é oferecer algumas ferramentas de combate ao racismo estrutural para que possamos ter uma forma muito bem pautada de como vamos entender esse branco brasileiro. Entendam que os judeus precisaram compreender muito bem como eram os alemães para poder fazer reflexões corretas, enfrentar o pós-holocausto., conseguir respostas às suas reivindicações. A história que a história não conta é a nossa história, a história dos negros no Brasil.”

AD Júnior ressalta que no Brasil, por força de lei, no século XIX, os negros foram impedidos de frequentar o ensino básico e ter a posse de terras, mesmo quando libertos. “Nos Estados Unidos, podiam frequentar, mesmo que fossem as escolas específicas para negros. Só em 1878, o negro pode estudar, contanto que o professor dissesse que ele podia. Foi neste ano que o Brasil inaugurou o ensino noturno para os negros. Depois que tivesse passado o dia na lavoura, o negro podia estudar.”

Por outro lado, o jornalista rememora que imigrantes europeus brancos recebiam recursos do governo brasileiro, como passagens e terras, para virem trabalhar na agricultura. “Em 185o, com a Lei de Terras, os negros não têm acesso a terras. Negro não era um ser humano, era um objeto, era qualquer coisa. Para entender porque a sua avó é pobre e não tem terra, você precisa entender como essas leis foram colocadas já no final da escravidão. A partir de 1870, vamos discutir de fato como a importação dos imigrantes é importante para o governo brasileiro, porque começa a ser discutida a eugenia. O racismo estrutural que nós enfrentamos hoje no Brasil está totalmente ligado às políticas eugênicas que começaram no século XIX.”

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