(Da esq. p/ dir.) Professores Willian Cruz, Fernanda Thomaz,  Julvan Oliveira, Flávia Rios (UFF), Francione Oliveira e Zélia Ludwig, organizadores e convidada do evento. Foto: Alice Coêlho/UFJF

Os caminhos e os desafios para a igualdade racial permearam nesta quarta-feira, dia 30,  as atividades do 1° Encontro de Pesquisadorxs e Estudantes Negrxs da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizado no auditório do Instituto de Ciências Exatas (ICE).  A iniciativa pioneira foi organizada por cinco grupos de pesquisa da instituição, liderados por pesquisadores negros – ‘Afrikas: História, Cultura e Pensamentos Africanos’; ‘Anime: Africanidades, Imaginário e Educação’; ‘Educação Matemática’; ‘Cepem: Centro de Pesquisa em Materiais’; e ‘Mirada: Visualidades, Interculturalidade e Formação Docente’. 

No turno da manhã, foram ofertadas oficinas de jogos africanos, pedagogia griô, literatura e religiosidade afro-brasileiras e educação matemática. Também houve uma roda de conversa com os coletivos negros da instituição.

À tarde, organizadores e outros pesquisadores apresentaram ao público seus projetos de pesquisa.  O professor e coordenador do curso de Matemática da UFJF e líder do grupo de pesquisa ‘Educação Matemática’, Willian José da Cruz, destacou o número reduzido de docentes negros. “O Departamento de Matemática é o local com mais pesquisadores negros na UFJF. Somos cinco num total de 44. A técnico-administrativa em educação e secretária do setor também é negra”, relatou.

A professora do Departamento de Física da UFJF e líder do Centro de Pesquisa em Materiais (Cepem), Zélia Maria Da Costa Ludwig, enfatizou  que os entraves são ainda maiores na trajetória das mulheres negras. “Além do racismo, há o machismo, ambos atuam. Em todos os eventos acadêmicos dos quais participo, levo minhas pesquisas e menciono as questões sociais. Do mesmo modo, quando convidada a falar sobre o racismo, relato as minhas pesquisas no Departamento de Física. São muitos os desafios, mas resistimos e persistiremos sempre.”

Na avaliação da professora do Departamento de História da UFJF e líder do grupo Áfrikas, Fernanda do Nascimento Thomaz, o encontro de pesquisadores e estudantes negros foi oportunidade para troca de experiências. “Vi vários pesquisadores negros que estão atuando e têm uma repercussão não só aqui, na Universidade, como fora da instituição. Foi bastante interessante ouvir também os três coletivos negros. Ouvir as questões desses estudantes, como veem a Universidade e quais os enfrentamentos, nos fortalece e nos ensina também. Isso nos dá esperança de que vale à pena estar na instituição e que é possível transformá-la. O trabalho coletivo é fundamental. Somos poucos dentro da Universidade, mas não estamos sozinhos.”

O diretor de Ações Afirmativas da UFJF e líder do grupo Anime, Julvan Moreira de Oliveira, ressaltou a importância da reativação do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) da instituição. “As Universidades que avançaram com políticas de ações afirmativas são justamente as que possuem Neabs bem estruturados e fortalecidos, que participam das discussões nacionais sobre as temáticas, especialmente as produzidas na Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Não há outra forma de avançarmos, sem dialogar com os diversos coletivos negros, e pensar na construção de políticas afirmativas para a população negra na Universidade, sem que nós negros estejamos fortalecidos”, pontuou. 

Desafios e perspectivas para a população negra 

Também no turno da tarde, o público assistiu  à conferência ‘Desafios e perspectivas para a população negra na atualidade’, ministrada pela professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Flávia Mateus Rios

Flávia Rios: “Desafio atual é universalizar cotas na pós-graduação”. Foto: Alice Coêlho/UFJF

Para a pesquisadora, um dos principais desafios é universalizar as ações afirmativas no âmbito da pós-graduação. “As universidades têm resistência, especialmente nas Exatas. Precisamos estudar essa transição da graduação para a pós-graduação, construir argumentos, produzir dados e rebater as críticas de que as ações afirmativas fariam os programas perderem nota. Segundo o IBGE, nós negros somos apenas 10% dos docentes universitários”, alertou. 

Flávia Rios parabenizou a organização do evento, em especial, pela presença de grupos de pesquisa de diferentes áreas do conhecimento. “Essa aproximação e articulação entre os núcleos das áreas das Exatas e das Humanidades é muito positiva. Seja para conhecermos melhor como é feita a ciência com pessoas negras, que não necessariamente estão tratando da questão racial, mas também mostrar as outras pesquisas produzidas pelas Humanidades.” 

Outro aspecto destacado  foi a possibilidade de diálogo entre estudantes e pesquisadores. “Os estudantes mencionaram os desafios que têm vivenciado na instituição. São desafios relativos às bolsas, à percepção deles dos cursos, da docência e de sua interação com a sociedade de um modo geral. A circulação e a divulgação das pesquisas que são feitas aqui também me chamaram à atenção. Os pesquisadores apresentaram seus trabalhos de iniciação científica ou de mestrado e doutorado. Dar essa visibilidade para essa produção, mostrar os resultados dessa produção com esse compartilhamento, é bastante positivo. O evento permitiu essa troca em termos do conhecimento.” 

Saiba mais: Inscrições abertas para encontro de pesquisadores e alunos negros

Outras informações: (32) 2102-6919 (Diretoria de Ações Afirmativas)