Acordada em 2015 por todos os Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), a Agenda 2030 traça Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para transformar o planeta na busca pelo desenvolvimento sustentável. Com o intuito de mostrar como as pesquisas realizadas na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) se alinham com o plano de ações globais, a Diretoria de Imagem Institucional desenvolveu a campanha “Sustentabilidade da vida”, prevendo uma série especial de matérias sobre o tema. Nesta segunda matéria, exploramos a relação de mais quatro ODS com as pesquisas desenvolvidas na Universidade e convidamos o professor do Departamento de Biologia da UFJF, Nathan Barros, uma referência mundial em mudanças climáticas, para avaliar o papel estratégico da Universidade na aplicação da Agenda.
Em apoio à Agenda 2030, a ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas dedicada à igualdade de gênero e ao empoderamento feminino, lançou a iniciativa global por um país 50-50 em 2030. A proposta foi feita com base na constatação de que as desigualdade de gênero permanecem em todas as sociedades. As raízes são profundas, à medida que, por exemplo, as mulheres não têm acesso a trabalho decente, enfrentando segregação ocupacional e diferenças salariais. O acesso à educação básica também é negado em muitos casos. Além disso, essa parcela da população sofre violência e discriminação e é sub-representada nos processos de tomada de decisão política e econômica em todo o mundo.
No Brasil, o estudo “Diferença do rendimento do trabalho de mulheres e homens nos grupos ocupacionais”, do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou que as mulheres ganham 20,5% menos que os homens. A pesquisa leva em consideração diversos aspectos estruturais do mercado de trabalho, como idade, cor ou raça, horas trabalhadas, nível de instrução e tipo de ocupação exercida. A Agenda 2030 ressalta que a igualdade de gênero, além de um direito humano fundamental, é também a base para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável. Nesse sentido, as metas buscam intensificar as realizações nas áreas de saúde, educação, trabalho e combater todos os tipos de violências baseadas no gênero. Ao todo, entre os grupos de pesquisa na UFJF, 18 realizam atividades que auxiliam diretamente no cumprimento do ODS 5, distribuídos principalmente na área de Ciências Sociais Aplicadas, mas também abrangendo campos como o de Ciências da Saúde e Linguística, Letras e Artes.
Em 2010, a ONU reconheceu internacionalmente o acesso à água potável e ao saneamento básico como um direito humano. Cinco anos depois, mais de dois bilhões de pessoas ainda viviam privadas de água segura, enquanto cerca de 4,5 bilhões (seis em cada dez habitantes) não tinham instalações sanitárias geridas de forma regular. O último Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos, lançado no primeiro semestre de 2019, atenta à relação intrínseca das desigualdades sócio-econômicas com a maior dificuldade de usufruir desses direitos.
A gestão sustentável da água assume um caráter prioritário para esse objetivo, pensando não apenas na preservação dos recursos hídricos como também na eficiência dos sistemas de distribuição e saneamento. Segundo diagnóstico do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em 2017, a média brasileira de desperdício durante o processo de abastecimento alcançou 38,29%. O índice se torna ainda mais alarmante ao considerarmos o contexto global. Existe uma crescente demanda por água desde a década de 1980, com um aumento significativo de conflitos relacionados ao recurso: 94, entre 2000 e 2009, e 263, de 2010 a 2018.
Entre os grupos de pesquisa da UFJF, quatro possuem objetivos alinhados aos da ODS 6. Entre eles está, por exemplo, o grupo Temáticas Especiais Relacionadas ao Relevo e à Água (Terra), liderado pelo pesquisador Miguel Felippe, um dos integrantes da expedição organizada para realizar uma análise dos impactos socioambientais dos crimes em Mariana e Brumadinho. A equipe percorreu, logo após o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, oito municípios banhados pelo Rio Paraopeba, o mais importante fluxo d’água atingido pela tragédia.
“Temos muito pouco tempo para tomar decisões e conter o avanço do aumento da temperatura. Nossas atitudes precisam ser tomadas agora para garantir um planeta sustentável. Não haverá outra chance.” O alerta é de Nathan Barros, um dos principais especialistas em mudanças climáticas do mundo, atualmente vinculado ao Laboratório de Ecologia Aquática da UFJF. “É emergencial pensar e realizar as metas propostas para uma energia acessível e sustentável”, completa.
Atender às necessidades da economia e proteger o meio ambiente é um dos grandes desafios para o desenvolvimento sustentável. Assim, o ODS 7 traça metas focadas na transição energética, de fontes não renováveis e poluidoras, para fontes renováveis limpas, com especial atenção às necessidades das pessoas e países em situação de maior vulnerabilidade. Na UFJF, sete grupos de pesquisa desenvolvem trabalhos que tocam o tema deste ODS.
De acordo com pesquisa nacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 99,7% da população nacional tem acesso à energia elétrica. Já em relação a participação das energias renováveis na Oferta Interna de Energia (OIE), a análise mostrou o percentual de 45,3%. Como aponta o Glossário de termos do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7, das Nações Unidas no Brasil, a falta de acesso à energia pode implicar em “pobreza de energia”, que é a falta de acesso aos serviços energéticos modernos. Dessa forma, a desigualdade é um dos principais desafios da atualidade.
Pelo levantamento feito pelo Glossário, em termos globais, em 2016, mais de 1 bilhão de pessoas não tinham acesso à eletricidade; e cerca de 3 bilhões de pessoas ainda dependiam de madeira, carvão vegetal, resíduos de animais e outros combustíveis sólidos para cozinhar seus alimentos e aquecer suas casas, gerando problemas de saúde e acidentes, inclusive com mortes.
Sobre a aliança entre o progresso econômico e a obtenção de energia de fontes limpas, o pesquisador aponta que as energias provenientes de fontes limpas têm uma volatilidade maior, mas são confiáveis. “O Brasil tem um imenso potencial para utilização das energias do vento e do sol por exemplo. Este potencial deveria ser mais explorado para diversificar a matriz energética e garantir a confiabilidade do fornecimento de energia. Além disto, a geração próxima aos centros, onde a energia é utilizada, tem inúmeras vantagens.”
Para estudar a melhor forma de posicionar e gerir usinas hidrelétricas, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF, em parceria com a Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, desenvolveram uma ferramenta que auxilia no planejamento energético das usinas na Amazônia. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), esse setor de energia é responsável por 60% da energia utilizada do Brasil. “É possível aumentar a produção hidroelétrica na Amazônia sem que haja um aumento significativo nas emissões de CO2 e CH4. Isso quer dizer que conseguimos ter uma matriz energética mais limpa com planejamento na escolha dos reservatórios que deverão ser construídos. Sem um planejamento ideal, as hidrelétricas na Amazônia podem ser tão impactantes para o efeito estufa quanto outras fontes de energia, como, por exemplo, as termelétricas.”
O conceito de trabalho decente foi formalizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1999. A ideia sintetiza a missão de promover oportunidades para que homens e mulheres tenham trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humana. Essa é uma concepção fundamental para para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais, a garantia de governabilidade democrática e o desenvolvimento sustentável.
Segundo a OIT, mais de 3,3 bilhões de pessoas empregadas no mundo, em 2018, não tinham níveis adequados de segurança econômica, bem-estar material ou oportunidades para avançar. No total, 172 milhões de pessoas não estavam empregadas no ano passado de acordo com o relatório “Tendências do Emprego Global 2019”.
Nesse sentido, as metas do ODS 8 reconhecem a urgência de erradicar o trabalho forçado e as formas análogas ao trabalho escravo. Para que todos alcancem plenamente seu potencial e capacidades, as propostas se empenham, inclusive, em acabar com o tráfico de seres humanos. O objetivo considera que a desigualdade de renda e de oportunidades prejudica o crescimento econômico e ao alcance do desenvolvimento sustentável. O trabalho precisa ser também direcionado a libertar os mais vulneráveis do círculo vicioso de insucesso escolar, baixas qualificações e poucas perspectivas de empregos de qualidade. Ao todo, são 17 grupos na Universidade que possuem linhas de pesquisa em concordância com o ODS 8.
Confira as outras matérias desta série especial:
17 metas para transformar nosso planeta
Erradicação da pobreza e incentivo à saúde e educação