Com o nome remetendo à cor do laço que representa mundialmente a luta contra o câncer de mama, a campanha do Outubro Rosa é realizada em todo o mundo. A ideia principal é voltar a atenção da sociedade ao câncer de mama. No Brasil, em 2019, foram registradas 59.700 novas ocorrências da doença. Segundo o Instituto Nacional de Câncer, é o segundo tipo que mais acomete mulheres no país, evidenciando a ainda existente necessidade de se falar sobre o assunto.
Por mais que a campanha já vigore há alguns anos, parte da população ainda desconhece os aspectos do câncer de mama. Visando esclarecer as principais dúvidas sobre o assunto, o Portal da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) entrevista o professor da Faculdade de Medicina e mastologista, Geraldo Vitral.
Portal: O que, basicamente, caracteriza o câncer de mama?
Professor Geraldo Vitral: O câncer de mama é um tumor maligno, ou seja, tende a progredir e invadir outros tecidos, como ossos, pulmões e fígado. Origina-se, na maioria das vezes, nos canais (ductos) que transportam o leite produzido nas glândulas mamárias. Constitui o tumor maligno mais frequente no sexo feminino, depois do câncer de pele.
Quais são as potenciais vítimas desse câncer?
As mulheres a partir dos 50 anos são as mais vulneráveis a este tipo de tumor, apesar de poder acometer também mulheres mais jovens e homens. Constituem grupos de maior risco aquelas que tiveram parentes próximos com câncer de mama ou ovário, fizeram tratamento de radioterapia na infância ou possuem modificações genéticas específicas.
Existe, atualmente, uma chance maior de cura e controle, com melhora substancial da qualidade de vida das pessoas acometidas. Hoje o câncer não é mais uma sentença de morte; pelo contrário, é apenas uma doença crônica como tantas outras (hipertensão arterial, diabetes, etc.) com tratamentos eficazes e controle adequado.
O senhor acredita que o câncer de mama é envolto por estigmas e preconceitos?
O preconceito e estigma ainda existem, mas isso melhorou muito nos últimos anos. Cada vez mais a população se conscientiza de como é importante fazer um diagnóstico precoce. Além disso, os tratamentos melhoraram bastante, com cirurgias mais estéticas (menos mutiladoras), remédios mais eficientes, cirurgias reparadoras. Enfim, existe, atualmente, uma chance maior de cura e controle, com melhora substancial da qualidade de vida das pessoas acometidas. Hoje o câncer não é mais uma sentença de morte; pelo contrário, é apenas uma doença crônica como tantas outras (hipertensão arterial, diabetes, etc.) com tratamentos eficazes e controle adequado.
Quais são os principais sintomas?
Nas fases iniciais, o câncer de mama não produz qualquer sintoma. Em estágios mais avançados surgem os nódulos e alterações do mamilo e da pele e inchaço nas axilas. Daí a importância do diagnóstico precoce, ou seja, antes que surjam estes sintomas. Ele pode ser feito através da realização periódica do exame de mamografia, disponibilizado pelo SUS. O índice total de cura do câncer de mama é de cerca de 85%, enquanto no caso dos tumores diagnosticados precocemente é de 96%
Qual é o momento indicado para que se faça o exame?
No caso de mulheres que menstruam, o período ideal para o autoexame, o exame clínico pelo médico e a mamografia, é imediatamente após a menstruação. É quando as mamas estão menos doloridas e menos “inchadas”.
Quais são as possíveis causas do câncer de mama?
É uma doença de causa multifatorial, isto é, são identificadas várias situações que podem aumentar o risco de desenvolvimento do câncer de mama. Os cânceres chamados hereditários, aqueles que surgem devido a uma alteração genética transmitida de pais para filhos correspondem a menos de 10% dos casos. A maioria dos tumores malignos da mama surge devido a modificações produzidas por fatores ambientais.
O diagnóstico precoce pode ser feito através da realização periódica do exame de mamografia, disponibilizado pelo SUS. O índice total de cura do câncer de mama é de cerca de 85%, enquanto no caso dos tumores diagnosticados precocemente é de 96%
Ter determinados estilos de vida ─ como, por exemplo, sedentarismo ─ pode levar a um maior risco de desenvolver o câncer de mama?
Hoje já se sabe que determinados estilos de vida influenciam, sim, uma maior incidência de câncer de mama. Obesidade, sedentarismo, ingestão alcoólica são fatores predisponentes para desenvolvimento do câncer de mama.
Ao se descobrir com câncer de mama, qual o procedimento inicial? A quem o paciente pode recorrer?
Qualquer anormalidade que a pessoa perceber nas mamas deve ser avaliada por um médico, que irá indicar se há necessidade de prosseguir uma investigação e quais exames solicitar. Exames mal indicados ou retardo na investigação podem acarretar atraso no diagnóstico.
Quais são as principais organizações voltadas à doença?
Podemos dizer que hoje o sistema público de saúde encontra-se numa situação bem melhor para oferecer um diagnóstico precoce e tratamento adequado. Ainda existem muitas deficiências que precisam ser corrigidas, mas vemos uma melhora significativa na oferta de tratamento.
Como funciona o tratamento?
A primeira etapa na abordagem do câncer de mama é a confirmação do diagnóstico. Isso é feito através de biópsia da lesão suspeita. A partir daí, são instituídos tratamentos de cirurgia, quimioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e radioterapia, de acordo com a apresentação da doença e as características próprias de cada tumor. Dizemos que cada tumor é diferente um do outro. Por isso os tratamentos são individualizados.
No Brasil, campanhas de conscientização sobre o câncer de mama vêm acontecendo desde 2002. Quais são os resultados? O senhor acredita que essas campanhas anuais são eficazes? O que falta?
Graças a essas campanhas e aos avanços médicos para diagnóstico e tratamento, vemos uma mudança no perfil dos tumores que chegam ao sistema de saúde. Se até algumas décadas atrás a maioria dos tumores eram diagnosticados em fases já mais adiantadas da doença, hoje os casos são identificados bem mais no início. Não se pode “baixar a guarda”. Veja o recente reaparecimento de doenças infecciosas que estavam aparentemente erradicadas. As campanhas educativas são essenciais na saúde pública.