Katiuscia Antunes: “O primeiro desafio foi unir a comunidade universitária e conscientizar, inserindo o NAI num contexto de uma política institucional” (Foto: Caique Cahon)

O Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) completa um ano de atividade neste mês. O setor,  vinculado à Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf), é o responsável pela construção e implementação de políticas de ações afirmativas para pessoas com deficiência, Transtorno do Espectro Autista (TEA), Altas Habilidades e Superdotação no âmbito dos cursos de graduação e pós-graduação da instituição.  Em entrevista ao Portal da UFJF, a professora da Faculdade de Educação e coordenadora do NAI, Katiuscia Cristina Vargas Antunes, avaliou os desafios superados pela Universidade  no último ano e as questões a serem enfrentadas para tornar o ambiente acadêmico mais inclusivo. 

Confira a entrevista na íntegra:

Portal da UFJF- O NAI foi criado, formalmente, pelo Conselho Superior da UFJF em 23 de agosto de 2018. As atividades foram iniciadas em setembro do mesmo ano. Quais foram os principais desafios enfrentados pelo setor neste primeiro ano?

Katiuscia Vargas – Desde que assumimos o NAI em setembro de 2018 nos deparamos com muitos desafios na instituição, porque não tínhamos um trabalho efetivo no que se refere ao processo de inclusão e permanência dos alunos com deficiência na Universidade. O primeiro desafio foi unir a comunidade universitária e conscientizar a respeito dessas questões, inserindo o NAI nesse organograma e as ideias a respeito da inclusão num contexto de uma política institucional . Hoje, temos nos documentos da instituição isso bem claro e bem colocado, no sentido de que a UFJF assume de fato esse compromisso. A criação do NAI é um exemplo disso. São desafios que dizem respeito à infraestrutura da Universidade, sua política, suas práticas. Então, transpor obstáculos relacionados à acessibilidade física, à acessibilidade curricular, à acessibilidade pedagógica, e trabalhar em torno de um processo de formação continuada da Universidade, para compreensão deste contexto da presença das pessoas com deficiência no ensino superior. Ao longo do último ano, realizamos projetos de formação, num diálogo mais próximo com as direções de Unidade, as coordenações de Curso, as Pró-reitorias, para que o NAI represente de fato essa ligação entre as iniciativas que a instituição tem e a relação com a política de inclusão. Esse princípio da intersetorialidade é um desafio que estamos tentando superar para trabalhar em prol dessa inclusão efetiva dos alunos com deficiência.

Portal da UFJF – Atualmente, quantos profissionais atuam no NAI?

Katiuscia Vargas – A equipe que atualmente compõe o NAI  somos eu e a professora Milene Santiago, na Coordenação do Núcleo; Patrícia, psicóloga; e professores da Universidade que são grandes parceiros, na área da Arquitetura, para pensar acessibilidade; na área de formação de professores, para pensar a formação continuada; as equipes da Pró-reitoria de Graduação (Prograd), da Pró-reitoria de Apoio Estudantil (Proae), e da Diretoria de Ações Afirmativas (Diaaf) que nos dão suporte.  Nós temos 13 intérpretes e tradutores da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Além disso, o NAI conta hoje com 13 bolsistas de treinamento profissional que atuam prioritariamente no acompanhamento acadêmico dos estudantes com deficiência e no assessoramento das atividade do Núcleo de Apoio à Inclusão. 

Portal UFJF – Quais são os desafios atuais do Núcleo de Apoio à Inclusão da UFJF?

Katiuscia Vargas – Nesta fase atual do NAI, o nosso maior desafio tem sido trabalhar num contexto no qual não há muitas possibilidades de ampliação de pessoal ou criação de novas políticas, considerando a conjuntura nacional. O desafio mais específico é em relação à permanência desses estudantes nos cursos, às adaptações curriculares e metodológicas. Esse é um trabalho de longo prazo e contínuo. Temos também desafios que dizem respeito especificamente aos alunos surdos, que são atualmente 19 na Universidade. Nós temos os intérpretes e tradutores de Libras, no entanto, temos muitas limitações em relação ao atendimento de toda a demanda. Temos um concurso aberto para contratação de três efetivos e estamos trabalhando num edital para mais quatro vagas de autônomos, para tentarmos suprir a nossa demanda. 

Portal da UFJF –  A inclusão demanda investimentos e esforços coletivos. Unidades e Institutos da UFJF estão engajados neste processo?

Katiuscia Vargas – Foi fundamental que no processo de criação do NAI tivéssemos um repasse de recursos que nos permitiu fazer a compra de muitos materiais, equipamentos de tecnologia assistiva principalmente, para atender às necessidades dos alunos. Tem sido muito importante o apoio que a Universidade tem nos dado para fazermos trabalhos de formação continuada, produção de material de conscientização da comunidade acadêmica e até mesmo a contratação no caso dos intérpretes autônomos. É importante dizer que esses investimentos também estão vindo dos Institutos e das Faculdades, que têm buscado o NAI, no sentido de que os próprios Institutos também tenham os seus equipamento de tecnologia assistiva, mobiliário adaptado. Por exemplo, a Faculdade de Direito, o Instituto de Ciências Humanas (ICH), a Faculdade de Educação, que estão em contato com o NAI para aquisição de materiais que vão dar suporte também ao nosso trabalho. Isso é fundamental, apesar de estarmos vivendo um cenário de muitos cortes, nós tivemos um apoio muito grande da Universidade para viabilizar a criação do Núcleo.

Portal da UFJF – Você gostaria de acrescentar alguma questão?

Katiuscia Vargas – Gostaria de agradecer pela parceria, pelo apoio que professores, técnico-administrativos em educação e estudantes têm dado ao NAI. A confiança e a credibilidade neste projeto que é importante para que façamos da Universidade um lugar mais democrático e inclusivo. Ainda temos muito trabalho pela frente, mas temos trilhado um caminho que nos tem apontado para boas perspectivas.