A organização biológica das formigas causa fascínio e curiosidade devido ao seu grau de complexidade. Quem nunca parou para observar a fila interminável de pequenos seres carregando grãos, folhas e pedaços de comidas? Ao apreciar os passos de uma colônia organizada em busca de alimentos para estoque, podemos até pensar que são animais inofensivos. Entretanto, é preciso estar atento. Apesar de trabalhadoras, como nos contam as fábulas, elas são pragas invasoras e de difícil controle.

Esses pequenos animais, sobretudo a espécie conhecida como lava-pés (Solenopsis saevissima), são foco de estudos do Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (Labec), coordenado pelo professor do Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio Prezoto. Desde 2012, o pesquisador se dedica a conhecer os comportamentos e características específicas da espécie em busca de melhorar a eficiência no combate à praga e reduzir os custos e a contaminação do meio-ambiente com inseticidas químicos.

Pesquisa aponta que formigas podem carregar vetores patogênicos, como bactérias e vírus. (Foto: Stefânia Sangi)

Oportunistas e nocivas

Uma das integrantes do projeto, a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Ecologia, Elisa Fernandes, ressalta que esse tipo de pesquisa amplia o conhecimento acerca da espécie e busca controlar os danos que podem causar, uma vez que muitas delas são carregadoras de vetores patogênicos, como bactérias e vírus. “Há vários estudos indicando que formigas carregam infecção de uma ala para outra dentro do hospital. Elas também caminham em coisas sujas, como lixos, fezes e restos de alimento. Depois disso, podem andar no papel higiênico do  banheiro, dentro do pote de açúcar, ou no pão, por exemplo. Contaminando tudo por onde passa”.

A pesquisadora explica que em dias quentes as formigas fazem a revoada, que é quando copulam e formam um novo ninho. Dias chuvosos também são propícios, uma vez que a lava-pés aproveita para construir seus ninhos assim que chove. O local escolhido para isso leva em consideração a temperatura e a disponibilidade de alimentos. “Elas conseguem sobreviver em qualquer tipo de ambiente, só não há registro da presença de formigas no Polo Norte”. Sendo assim, são animais que se adaptam facilmente à área urbana. “Os grandes centros têm movimento elevado de pessoas, facilidade de encontrar alimentos  e muito abrigo para se esconderem. Se a temperatura é boa, elas podem criar ninhos dentro das casas, no interior de computadores, televisões ou azulejos”.

A falta de limpeza é o principal atrativo para as formigas. Segundo Prezoto, as lava-pés são consideradas oportunistas. Ou seja, se dispersam pelo ambiente e qualquer resto de insetos ou alimentos pode ser um convite. “Elas atuam principalmente à noite, então sua presença é discreta e, por vezes, passa despercebida. São animais muito comuns em ambiente urbano e, na maioria das vezes, infestam jardins. Em alguns casos, podem provocar danos econômicos quando constroem seus ninhos em instalações elétricas ou equipamentos eletrônicos”.

Além disso, as lava-pés são agressivas e acidentes com elas podem se tornar potencialmente graves em idosos, crianças e, até mesmo, adultos alérgicos. “De acordo com nossos estudos, em um minuto elas conseguem subir cerca de 1,2/1,5 metros, que é a altura de uma criança. Além de se espalhar rapidamente pela pele, a ferroada é muito dolorida”, explica Elisa.

Método eficaz

O melhor método comprovado foi o composto de água com detergente. ‘Ele é o que mata mais rápido? Não. Mas tem um risco moderado, baixo custo e não é nocivo para o meio ambiente, visto que é biodegradável’.”

Para o controle das colônias, os pesquisadores buscaram soluções sem resíduos químicos, não poluentes e inofensivas para outras espécies que não são alvo. “Esse grupo de formigas tem um grande conjunto de informações disponíveis na literatura, mas não havia uma pesquisa nessa linha”, afirma Prezoto.

Foram testados quatro tratamentos e identificado um desempenho variável entre eles. Durante cinco meses os pesquisadores testaram inseticida químico, iscas granuladas, água fervente e água com detergente. De acordo com Prezoto, o melhor método comprovado foi o composto de água com detergente. “Ele é o que mata mais rápido? Não. Mas tem um risco moderado, baixo custo e não é nocivo para o meio ambiente, visto que é biodegradável”. O composto é uma combinação de 200ml de detergente em 1L de água. Essa mistura deve ser depositada em cima da colônia, molhando toda a área tomada pelas formigas.

Coordenado pelo professo Fábio Prezoto, grupo se dedica a conhecer os comportamentos e características específicas da formiga lava-pés. (Foto Stefânia Sangi)

O método comprovado, além de ecologicamente correto, é um dos mais fáceis e baratos para o combate aos insetos. De acordo com Elisa, para que seja eficaz, é necessário encontrar a origem das pragas. “Em azulejos, por exemplo, elas saem de algum buraco. É preciso então depositar a mistura e fechar a fenda para que a rainha morra. Não é possível controlar uma colônia sem matar a rainha”. A pesquisadora explica que inseticidas em aerossol, além de poluentes, afastam as formigas momentaneamente sem eliminar, de fato, as colônias. “Esse método não é eficiente porque as formigas se dispersam e aí podem fazer mais ninhos em outros espaços”, finaliza.

Metodologia inédita

Para encontrar a melhor maneira de coibir infestações, o professor conta que foram observados os desempenhos de métodos ditos caseiros e de inseticidas químicos, comparando suas performances por meio da avaliação de diferentes itens como: eficácia, economia, danos ao meio-ambiente e riscos. “Isso norteou nossa ações. A gente queria um produto que fosse eficiente, de baixo custo, ecológico e, principalmente, que não gerasse acidentes durante sua manipulação”.

A partir da construção de um ranking, por meio de um modelo de tomada de decisão, foram atribuídos valores para cada um dos elementos. Para obter os resultados da performance, Prezoto conta que foi empregada uma metodologia inovadora. “Podemos dizer que essa metodologia é inédita na nossa área. É a primeira vez que aplicou-se o método de tomada de decisão no tratamento de controle de insetos”.