“A mulher precisa de alguém que a apoie tendo domínio das técnicas, mas mais do que isso, é fundamental alguém que seja seu suporte psicológico, afetivo e social”, destaca Ricardo Jones (Foto: Gustavo Tempone)

Quando o assunto é parto e nascimento, muitas questões são levantadas: Para que existem obstetras? Como começou a intervenção de outras pessoas? Qual a necessidade de um personagem que assimila a responsabilidade pelos nascimentos? Dentro desta perspectiva, o médico obstetra, Ricardo Herbert Jones, destaca a necessidade de dar total protagonismo à mulher, explicando que a atuação médica nestes casos é um “teatro social baseado no capitalismo e no patriarcado”. Sua palestra fez parte do evento Parto, Nascimento e Trabalho Interdisciplinar, no anfiteatro 1 do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), nessa sexta-feira, 5.

“Todas as outras espécies fazem o parto sem ajuda. É um ato natural”, comenta Jones. O médico explana que, a necessidade de auxílio durante o nascimento, surge por questões ligadas à evolução humana, mediante ao crescimento encefálico comparado ao tamanho da região pélvica. “Dessa forma, a mulher precisa de alguém que a apoie tendo domínio das técnicas, mas mais do que isso, é fundamental alguém que seja seu suporte psicológico, afetivo e social. O apoio médico só deve ser utilizado caso seja necessária alguma intervenção”, aponta.

Em momentos de estudo, o médico percebeu que o trabalho das enfermeiras, durante o parto, permitia um ato mais natural e começou a valorizar o trabalho interdisciplinar. “Uma vez encontrei uma foto de uma mulher nua, ajoelhada na sala de parto, abraçada com sua parteira. Quando vi os corpos unidos no processo de nascimento, notei que não tenho permissão pra ter um contato tão íntimo com uma mulher neste momento. Havia um limite como parteiro, que eu só poderia avançar se colocasse, na equipe, o trabalho de mulheres que atuassem no contato físico, afetivo, emocional e espiritual.”

O pesquisador enfoca que para humanizar o nascimento é preciso garantir o protagonismo da mulher. Dessa maneira, o trabalho interdisciplinar permite que ela seja personagem principal daquele momento e tenha apoio de profissionais técnicos e de outros que possam dar suporte afetivo à parturiente. “Nenhum nascimento é igual, a mulher nunca terá dois filhos da mesma maneira. Primeiro, pois ela já não será mais a mesma. Segundo que não será o mesmo filho. Percebi que meu trabalho, por fim, é apenas realizar os protocolos hospitalares e intervir, caso necessário”.

Compromisso social

Durante a abertura do evento, o coordenador do Programa de Extensão de Combate a Indução de Demanda por Cesariana (Procidec), Mateus Clóvis, apontou que o objetivo da ação é conscientizar pessoas e formar profissionais que tenham interesse no assunto. “Nós já oferecemos o Curso de Formação de Doulas para agentes comunitários e nosso próximo passo é expandir para outras mulheres. Nossa proposta é fazer periodicamente um debate sobre o tema, para que todos saibam que podemos mudar o mundo por meio da forma de nascer”.

“Nossa proposta é fazer periodicamente um debate sobre o tema, para que todos saibam que podemos mudar o mundo por meio da forma de nascer”, destaca Mateus Clóvis

Também presente, a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia Coimbra, reiterou que a ação constitui a política de aproximação da UFJF com a sociedade. ”Extensão Universitária é permear-se e deixar-se permear pela comunidade. Pensar a gestação e a maneira que as pessoas definem seus rumos é muito importante. Que este seja um espaço de troca e que possamos trazer elementos para estender a extensão Universitária”.

Aplicando conhecimento

Mãe de uma filha, Sônia Regina Godinho, 51 anos, é agente comunitária de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Juiz de Fora. Participou do curso de Formação de Doulas, oferecido pelo Procidec, e conta os motivos pelo interesse. “A mulher precisa ter o domínio sobre seu querer e o que aceita para si mesma, diferentemente do que acontecia no passado. Outras mulheres e eu tivemos uma visão errada, sobre a gravidez e o parto, e não tínhamos consciência das violências obstétricas. Infelizmente foi o que aconteceu comigo, tenho uma filha só, com 33 anos, e um dos fatores que não me permitiu ter mais filhos foi a violência sofrida. Eu levo todo este conhecimento para minha comunidade para que não passem pelas mesmas situações”.

Estudante do curso de Enfermagem, Paula Jordana, 22 anos, acredita que trazer esse tema para academia é importante, pois é preciso debater o poder feminino, principalmente em um aspecto que fará parte de sua profissão. “O empoderamento da mulher tem crescido. É fundamental estudar essas questões, pois a gente presencia isso dentro dos hospitais, principalmente dentro da obstetrícia, e vemos que há violências. Já estou me preparando para poder ter conhecimento para minha vida profissional”.

Homenagem

Durante a abertura do evento foi realizada uma homenagem póstuma à ex-professora de curso de Enfermagem, Betânia Maria Fernandes, que protagonizou um trabalho efetivo relacionado à humanização, ao trabalho no parto e ao protagonismo feminino.Todos a saudaram dizendo: “Betânia presente! Sempre presente!”

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