Faced abre comemorações pelos 50 anos (Foto: Twin Alvarenga)

As comemorações pelos 50 anos da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (Faced-UFJF) começaram na noite desta segunda-feira, 19. No anfiteatro da Faculdade de Administração, uma solenidade de abertura contou com a presença de diretores, professores, alunos, ex-alunos e servidores. Além da abertura, a mesa “Ser Faced” foi presidida pelo ex-ministro da Educação Murílio de Avellar Hingel e dos ex-diretores e professores José Geraldo Teixeira e Diva Chaves Sarmento. A ocasião contou com intérprete e tradução simultânea na língua brasileira de sinais.

A vice-reitora Girlene Silva parabenizou a Faculdade pelo aniversário, destacando a importância da unidade para a UFJF. “Quem recebe esse parabéns, na verdade, é a UFJF. É a sociedade brasileira, que encontrou no conjunto de seus professores, alunos, ex-alunos e trabalhadores um compromisso genuíno com uma educação que reduza as desigualdades sociais do país, pois vemos que a educação é a única possibilidade”.

Em seguida, reconheceu que vivemos em tempos difíceis, “não sendo por acaso que temos uma Faculdade de Educação de 50 anos, isso diz muito sobre nosso país”. Girlene afirmou ainda que a UFJF tem e mantém a tradição de se reinventar diante de crises e que certamente a FACED não se calará frente às ameaças que a educação pública brasileira vem sofrendo. “Juntos seremos capazes de encontrar melhores caminhos para sairmos dessa encruzilhada mais fortalecidos.”

A professora, pesquisadora e membro da comissão que organizou o evento, Maria Zélia Maia de Souza deu início aos pronunciamentos declarando que, neste aniversário de 50 anos, a Faced “ratifica valores que defende desde sua fundação, como a liberdade de expressão e o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”. Além de ser responsável pela formação de milhares de educadores, aponta que a unidade também se consolidou como local de debate e reflexão sobre a educação pública no Brasil.

O diretor da Faced, Álvaro de Azeredo, reforçou a “contribuição da Faculdade com o desenvolvimento da educação local, regional e nacional”. No ensino, formou com qualidade várias gerações de professores para atuação nos diferentes níveis, da educação básica ao nível superior. Na formação do saber, contribui com o avanço do conhecimento brasileiro, através de pesquisas que buscam alternativas para solucionar diversos problemas que ainda enfrentamos hoje. Como extensão, mantém diálogo contínuo com escolas das redes municipal, estadual e federal, além de demonstrar sua força e vitalidade com os nove núcleos e 40 grupos de pesquisas, vinculados a eles ou não.

Azevedo aproveitou para também reafirmar o compromisso da unidade com a melhoria da educação brasileira, defendendo que “todas as crianças e jovens tenham acesso à educação de qualidade que os permitam alcançar a plenitude de sua condição humana, seja social, cultural ou do trabalho. Neste momento em que presenciamos ataques à liberdade de ensinar e aprender, reforçamos nossa defesa da democracia, da liberdade de expressão e da escola sem mordaça, desejando que os próximos 50 anos sejam tão ou mais brilhantes que os 50 primeiros”.

Denise Vieira Franco, em nome da Secretaria de Educação de Juiz de Fora, prestou “justa homenagem pela relevante atuação na formação de professores do nosso município”. Também houve a apresentação do poema “A Idade da Loba”, de autoria de aluna do curso de Pedagogia, e de canções de artistas como Milton Nascimento e Gonzaguinha.

Terminada a mesa e solenidades de abertura, o ex-ministro da educação Murílio de Avellar Hingel prestigiou o evento e abriu a mesa de debates “Ser Faced”. Ex-professor e ex-diretor da unidade, ele afirmou que “as pessoas que assumem posições de direção, governo e direcionamento em nosso país, de modo geral, não conhecem e não sabem o que é o Brasil”, relembrando dois episódios vividos quando ainda ocupava o Ministério no governo do Presidente Itamar Franco.

Os caminhos eram água

Murílio Hingel abriu a mesa de debates (Foto: Twin Alvarenga)

“Logo que assumi o Ministério da Educação, em 1992, também vivíamos uma época difícil pois havia um processo de impeachment ao presidente da república que ainda não havia terminado e que, inclusive, só foi terminado quando o próprio renunciou. Mas, durante o processo, seu vice, o engenheiro Itamar Franco, assumiu e me convidou para ser seu ministro.

Eu me lembro de situação em que um professor do Amazonas foi até o Ministério para tratar de uma problema que não conseguia resolver. O requerimento dele para barcos de transporte escolar na região havia sido negado. Sem saber o que responder diante de um equívoco como aquele, fomos eu e este professor até o técnico que analisou o pedido para tentar entender o que havia acontecido.

Ao ser questionado, se defendeu argumentando que a legislação apenas previa o fornecimento de ônibus e kombis para aquele tipo de requerimento. Claramente, aquele técnico, apesar de bom e bastante competente, nunca havia saído de seu gabinete. Então, busquei um mapa do Brasil e levei até ele, não para questioná-lo novamente, mas para o fazer entender como a região do Amazonas é extensa, esparsa e ocupada por florestas, de forma que únicos caminhos eram a água. Esse caso chega até a ser um pouco engraçado mas é bastante representativo do que, por muitas vezes, acontece em nosso país.

Embora o tema dessa mesa seja “Ser Faced”, eu digo a vocês: não é possível ser apenas Faced, é preciso ser também Fafile, pois a Faculdade de Educação é sucessora da Faculdade de Filosofia e Letras, e nasceu quando esta última se extinguiu por força da reforma universitária.

Embora nascida nos governos militares, a reforma foi muito importante pois, pela primeira vez no Brasil, tínhamos uma legislação completa tratando da Universidade e que continha em seu bojo alguns pontos importantes, entre eles o estabelecimento que cada universidade deveria ter o seu próprio projeto de universidade, que incluísse necessariamente em sua estrutura uma faculdade, centro pedagógico ou instituto de educação.

A UFJF, como universidade, nasceu sem a Faculdade de Filosofia e Letras. Nasceu justamente sem a única unidade obrigatória por lei, que só foi agregada dois anos depois. Nessa época, a Fafile era confessional e, diante da inclusão do termo “Federal” à anteriormente denominada Universidade de Juiz de Fora; a unidade não poderia se integrar à Universidade Federal, uma vez que o Estado brasileiro era, e ainda é, laico.

Apesar de incorporada em 1966, a Faculdade sofria ataques por ser considerada o centro da subversão do ensino superior em Juiz de Fora, com cursos facilitadores de discussões e debates. Não era para menos. Ali se pensava, ali se discutia.

Naquela época, era comum que encontrássemos alunos da Fafile sendo objetos de sindicância, inquérito e até detenção. Alguns alunos tiveram de se esconder. Alguns foram torturados. Militares faziam vestibular para ingressar em nossos cursos porque estavam em sala de aula para tentar trabalhar numa escola sem partido. Naquela mesma época, tivemos, na Fafile, o único professor da UFJF que foi aposentado pelo AI-5.

Professor que, na verdade, era uma professora. Maria Andréa Rios Loyola dava aulas de sociologia e teve sua aposentadoria compulsória determinada pelo governo brasileiro. Não se esqueçam que Juiz de Fora era a única cidade do interior com uma junta militar. Não se esqueçam que o movimento de março de 1964 começou em Juiz de Fora. Daqui saíram as tropas que foram ao Rio de Janeiro tomar o poder e que tomaram conta do país por 25 anos sucessivos.

No Ministério da Educação, como Ministro de Estado, eu pedi que a Comissão de Anistia analisasse o caso de Maria Andréa. O caso foi analisado e a professora foi reintegrada à Universidade. Ela, que havia sido aposentada forçadamente com direito apenas à quantia mínima, hoje é reconhecida por sua contribuição pela educação e pelos títulos que conquistou na França.

Atualmente, muito se fala dos tempos difíceis em que vivemos. É  importante sabermos que momentos difíceis já foram vividos no passado e foram superados. Mas saibamos também que sua superação não se deu com facilidade, porque as dificuldades enfrentadas pela Fafile, nesses anos que estive a frente da instituição, foram muitas.

Entretanto, faço referência a esses dados em homenagem aos 50 anos da Faced, porque nossa Faculdade sobreviveu e mostra agora sua vitalidade. Mostra que está aí, acordada, disposta a atuar da melhor maneira possível como se pode atuar pelo bem da educação e pelo bem do Brasil. Concluo: não podemos entregar os pontos. Não desanimemos. E abramos os olhos.

50 anos de FACED

Ao fim da mesa, Diva Chaves Sarmento e José Geraldo Teixeira, ambos ex-professores e ex-diretores da Faced, detalharam o funcionamento e relembraram momentos históricos da Faculdade, desde a época da Fafile até momentos posteriores, como a criação do primeiro curso de mestrado em Educação na UFJF e a criação do campus avançado de Tefé, no Amazonas. Também pensou-se sobre o contexto de criação da Faculdade e a reforma universitária que tornou obrigatória a presença de uma unidade que formasse profissionais em educação em todas as Universidades brasileiras.

A comemoração dos 50 anos da Faced vai até esta quinta-feira, 22, com diversas apresentações culturais e mesas de debate. Confira aqui a programação completa.

Outras informações: (32) 2102-3653  – (Faculdade de Educação)