A pesquisadora compartilhou com os estudantes sua história de vida e o processo que a levou a escolher sua área de atuação (Foto: Gustavo Tempone)

Desde o início, a professora do departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Priscila Capriles, se apresentou de uma maneira diferente para os alunos da Escola Estadual Deputado Olavo Costa. Antes de mais nada, ela compartilhou com os estudantes sua história de vida e todo o processo que a levou a escolher a área de atuação na qual é especialista atualmente. A pesquisadora mostrou aos alunos fotografias pessoais que decorriam por todas as etapas de sua vida e falou de como as escolhas que fez quando ainda tinha a mesma idade de seus ouvintes, ou até menos, já eram um ponto de ignição para o futuro de sua trajetória acadêmica.

O diálogo entre a professora e os alunos do ensino fundamental aconteceu nesta quarta-feira, 24, e foi promovido pelo projeto “A ciência que fazemos”, que possui, justamente, o intuito de aproximar o cientista dos estudantes do ensino de base. A iniciativa busca humanizar a figura do pesquisador e apresentar o que é feito na academia de forma que a comunidade perceba a importância e o impacto da ciência no cotidiano. E foi exatamente isso que a pesquisadora, que também é embaixadora de empreendedorismo, apresentou aos alunos do sétimo ano do ensino fundamental.

No ensino fundamental, Priscila estudou em uma escola de freiras e, lá, fundou um jornal no qual ela mesma escrevia as matérias e desenhava as ilustrações. Depois, tirava cópias do material e vendia pela instituição. No ensino médio, se viu diante de tomadas de decisões mais sérias: iria continuar estudando ou iria trabalhar quando se formasse? “Nessa época, eu estudava de noite porque eu trabalhava de manhã e de tarde, trabalhava o dia inteiro”, relata a pesquisadora. “Eu escolhi que queria fazer as duas coisas. Queria continuar estudando, mas também trabalhar.” No entanto, Priscila conta ainda que não queria trabalhar o resto da vida fazendo a mesma coisa. Queria poder ganhar um salário maior e, para isso, decidiu ingressar na faculdade.

Dentro da faculdade, ela começou a trabalhar com experiências científicas no laboratório de pesquisas. “Sempre gostei de fazer as coisas bem-feitas, mas também gostava de me divertir. Acho que as coisas sérias que a gente faz não precisam ser chatas. Elas podem ser divertidas. Já que temos que fazê-las, vamos fazer bem-feito e vamos nos divertir!”

Quando começou a se interessar pelas Artes, Capriles formou uma associação cultural que lhe permitisse viajar pelo Brasil apresentando peças de teatro. Peças estas que, inclusive, chegaram a ganhar premiações. Todas essas escolhas e tomadas de decisões, desde a infância até sua formação acadêmica, a ajudaram a descobrir o que realmente gosta de fazer e a guiaram, eventualmente, para o que se tornaria sua atual área de atuação: o empreendedorismo.

Estudantes da Escola Estadual Olavo Costa ouviram atentamente a pesquisadora (Foto: Gustavo Tempone)

O que é empreendedorismo
“O que eu gosto mesmo de fazer é empreendedorismo.” Os alunos do sétimo ano rapidamente trocaram olhares entre si, confusos, estranhando a afirmação da professora, sem saber ao certo o que significa aquela área recém revelada. Percebendo a movimentação e o burburinho crescente, Priscila se adiantou: “Eu gosto de ajudar vocês a aprenderem como resolver os problemas que acontecem em torno de vocês, mesmo que alguém possa dizer que não tem como resolvê-los. Vocês podem resolver. E vamos exercitar isso aqui hoje.”

Pedindo que agrupassem as carteiras entre si, Capriles propôs uma atividade. Primeiramente, pediu aos estudantes que representassem suas preocupações com apenas uma palavra: preconceito, falsidade, mentiras, funk, drogas, fofocas e vandalismo foram alguma das palavras citas. Depois de registrá-las no quadro, pediu que cada grupo escolhesse uma dessas palavras e desenvolvessem, por meio de textos ou desenhos, soluções que pudessem resolver esses problemas.

Como resolver os problemas ao nosso entorno
Um a um, os alunos foram se revezando ao lado da professora, compartilhando com o restante da turma as resoluções que cada um conseguiu encontrar para combater e solucionar os problemas que eles próprios identificaram em seu entorno. Para combater o preconceito, é fundamental respeitar as diferenças e não julgar as pessoas por antecipação. Para lidar com a falsidade: é preciso falar o que se pensa diretamente e ser um amigo sincero. Para melhorar o funk: é necessário difundir o respeitar as mulheres na composição das letras de música.

O trabalho proposto por Capriles, que exercita a ideia do empreendedorismo social, comprova que “é possível resolver os problemas ao nosso entorno, na nossa casa, na nossa rua, ou até mesmo na nossa escola”. Como ela própria explica, “é preciso pensar no coletivo, não só na gente”.

“Foi uma experiência muito legal, fazia tempo que não participávamos de uma atividade todos juntos”, conta a aluna Nicole de Andrade. A professora da Escola Estadual Deputado Olavo Costa, Adelc Medeiros, diz que o bate-papo foi uma maneira de ajudar não só os alunos, como também a escola. “Hoje, com esse trabalho junto com a Priscila, vi quanta coisa boa eles – os alunos – têm dentro deles”. Ao final da atividade, ela compartilhou que, agora, os estudantes sabem que existem soluções para os problemas que enfrentam e que podem mudar sua postura, ajudando também com que a escola se torne um lugar melhor.