Ciência para a redução das desigualdades: este é o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) deste ano, que acontece entre os dias 15 e 20 de outubro. Em sintonia com a temática, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) faz parte da celebração da SNCT e, por meio de uma série de matérias especiais, divulga as pesquisas no campus que aproximam a ciência e a comunidade.
O olho humano funciona como uma câmera fotográfica. A córnea e o cristalino funcionam como a lente, a pupila serve como diafragma e a retina é onde as imagens são projetadas, como em um filme fotográfico. A retina transforma sinais luminosos em sinais elétricos, que então são captados pelos neurônios que compõem os seus fotorreceptores. Seu trabalho é converter luz em energia, como fazem os painéis solares. Observando essa semelhança, o professor do Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Cristiano Legnani, e seus alunos de Pós-Graduação, desenvolveram uma pesquisa com objetivo de criar uma retina artificial utilizando uma célula solar.
O estudo faz parte de um novo campo de pesquisa: a bioeletrônica. Este campo promove o desenvolvimento de dispositivos eletrônicos que interagem com o organismo. “No caso, são dispositivos que podem absorver a luz e convertê-la em energia elétrica – dispositivos fotovoltaicos – utilizando as características e as propriedades presentes em moléculas orgânicas, possibilitando a sua utilização em ambientes nos quais semicondutores inorgânicos não funcionariam”, revela Legnani. O grupo utiliza materiais orgânicos para desenvolver a célula solar, por causa da leveza e flexibilidade que permitem. Ao implantar este dispositivo, o sinal elétrico obtido por ele alcançará os neurônios presentes no fundo do olho e, se nao estiverem danificados, irão entender esse sinal como sendo a luz voltando, até chegar na retina, permitindo com que imagens sejam processadas novamente.
A esperança de enxergar novamente
Em 2015, a estimativa é que existiam 246 milhões de pessoas no mundo com défice de visão e 39 milhões completamente cegas, segundo a World Health Organization. No Brasil, apesar de alguns avanços, as condições de acessibilidade para deficientes visuais ainda são precárias. Calçadas irregulares, buracos nas vias, falta de áudio descrição em locais turísticos são alguns dos fatores que dificultam o dia-a-dia de deficientes visuais. “Temos que criar condições reais para que qualquer um possa desenvolver suas atividade de forma independente. Nosso objetivo é dar independência para pessoas portadoras de alguma deficiência, para que elas possam levar uma vida normal, se inserirem na sociedade, no mercado de trabalho e terem uma vida plena, como qualquer pessoa”, esclarece Cristiano.
Segundo o professor, o custo do implante não vai ser alto. O maior gasto é direcionado para os equipamentos de caracterização utilizados durante a pesquisa. Porém, depois de pronto, o implante terá preço acessível, relativamente baixo em relação ao benefício oferecido. “Uma grande vantagem desse tipo de dispositivo é que ele funciona por si só. Ele não precisa de alimentação externa, não precisa de nenhum fio ligando. Ele, por si só, consegue transmitir as informações que nós queremos”, acrescenta.
O objetivo final do projeto é fazer com que pessoas que tenham problema de degenerescência da retina voltem a enxergar. Cristiano revela ainda não ter previsão de quando o dispositivo poderá partir para a parte clínica e ser implantado, mas assegura que os testes iniciais apresentaram resultados positivos. Devolver a visão para indivíduos que a perderam por conta de doenças é o que inspira o grupo a seguir com o projeto. “Fazer uma pessoa poder ter a sensação de enxergar de novo deve ser uma coisa muito incrível”, afirma Cristiano.