Laura Ralola, Cristiane Furtado, Laila Queiroz e Natália Paganini participaram da mesa-redonda (Foto: Aline Avellar)

Resistência, afeto, e mobilização marcaram a tarde desta segunda-feira, dia 3, durante a mesa-redonda “Visibilidade Lésbica”, realizada, no auditório do Centro de Ciências, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “Este evento é um ato político e reforça o compromisso da atual gestão com o respeito às diversidades, com a igualdade de direitos e com as políticas afirmativas. A Universidade é o lugar da pluralidade”, ressaltou a pró-reitora de Extensão, Ana Lívia de Souza Coimbra, que, na abertura da atividade, representou o reitor Marcus Vinicius David.

A avaliação foi compartilhada pela professora da Faculdade de Serviço Social e ouvidora especializada em Ações Afirmativas, Cristina Simões Bezerra, nomeada para o cargo, pelo Conselho Superior da UFJF, na última sexta-feira, dia 31.  

“Estou fazendo hoje (segunda-feira) a minha primeira fala à frente da Ouvidoria. O espaço está aberto para que possamos construir juntas as ações afirmativas. Estamos aprendendo juntas uma série de coisas, uma série de processos, mas o espaço é especializado para o acolhimento, para o reconhecimento e, principalmente, para a atuação ativa de todos os sujeitos desta Universidade. O nome do evento já diz muito. É um evento sobre a visibilidade lésbica. Eu tenho a certeza de que a visibilidade é o primeiro passo. Se nós não nos desafiarmos a dar visibilidade aos diversos processos de preconceito, exploração, discriminação, pelos quais nós, sujeitos da Universidade, passamos, teremos muito pouco a avançar enquanto política institucional.”

A primeira ouvidora especializada da história da instituição, a professora da Faculdade de Enfermagem, Vânia Maria Freitas Bara, que deixa o cargo para aposentar-se, após quase três décadas de serviços prestados à instituição, também participou da atividade.  “Este evento é uma resistência importante e necessária. Enquanto integrante do quadro docente da UFJF e mulher lésbica, parabenizo a instituição por realizar esse debate há dois anos. E, nesta ocasião especialmente, pela realização conjunta das diretorias de Ações Afirmativas e Imagem Institucional e das entidades representativas de professoras e técnico-administrativas em educação, a Associação de Docentes de Ensino Superior de Juiz de Fora (Apes) e o Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Instituições Federais de Ensino de Juiz de Fora (Sintufejuf)”, destacou Vania.

“É preciso criar acordos mínimos para que a gente possa ser multidão. Sozinha a gente não anda” (Laila Souza)

Combate à lesbofobia

A 1ª Secretária da Apes e professora da Faculdade de Educação Física, Alice Mary Monteiro Mayer,  e a coordenadora de Educação e Formação Sindical do Sintufejuf e técnica-administrativa em educação,  Natália Paganini Pontes de Faria Castro, enfatizaram a relevância do evento e da resistência frente aos conservadorismos.  

Alice Mayer, Cristina Bezerra, Ana Lívia Coimbra, Vânia Bara e Natália Paganini (Foto: Gustavo Tempone)

“Acredito, muito empiricamente, que consciência, resistência amorosa, e luta humanizada e humanizante são os instrumentos de que dispõem as mulheres lésbicas e bissexuais para anunciarem que não se tratam de pessoas com orientações sexuais/humanas distorcidas, necessitadas de correções. São esses os instrumentos para que vivam e vivam em plenitude”, afirmou Alice.

“A grande mídia não ‘saiu do armário’. Foi ‘tirada do armário’. É uma alegria estar na cidade na qual nasci, na qual saí do armário e construí parte da minha identidade, da minha militância” (Laura Ralola)

 

Natália recordou as violências sofridas no âmbito da instituição nos anos de 2014 e 2015. “Este evento é uma vitória dos movimentos sociais e instituições. É a primeira ação conjunta com as entidades representativas e isso representa uma mudança de paradigma institucional, bem como foi o Fórum de Diversidade, criado na última semana. É fundamental que combatamos as discriminações, algumas delas já vivenciadas inclusive por mim, mulher lésbica e adotante, quando tive a licença maternidade negada por duas vezes.”

Ela propôs o engajamento de mulheres lésbicas dos diversos segmentos acadêmicos nos processos, eventos e movimentos sociais. “É preciso que nós, mulheres lésbicas, façamos aqui um pacto de nos apoiarmos mutuamente, de nos organizarmos, para fazermos a luta juntas.”

“É preciso que nós, mulheres lésbicas, façamos aqui um pacto de nos apoiarmos mutuamente, de nos organizarmos, para fazermos a luta juntas” (Natália Paganini)

Brejeiras: militância, amor e amizade

As três convidadas para o debate sobre a Visibilidade Lésbica na UFJF, as idealizadoras e editoras da “Revista Brejeiras”, Cristiane Furtado e Laila Queiroz de Souza; e a mestra em Políticas Públicas em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Laura Ralola, relataram as vivências na militância lésbica e nas pesquisas acadêmicas sobre a temática LGBTTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos).

Lançada em março deste ano no Rio de Janeiro, a “Brejeiras” é uma  publicação trimestral, feita integralmente por mulheres lésbicas, tendo como objetivo construir resistências. As idealizadoras definem o trabalho como “resultado de um movimento cooperativo que procura ampliar os espaços de fala das mulheres lésbicas, trazendo-as para o centro do debate”.

Conheça mais sobre a “Revista Brejeiras” aqui.

“A ‘Brejeiras’ nasce do desejo de cinco amigas lésbicas que se conheceram no curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Prepara NEM, cujo público-alvo são pessoas trans (que não se identificam com o gênero designado ao nascimento). Éramos voluntárias e ali aglutinamos forças”, contou ao público Cristiane Furtado.

Segundo a editora da “Brejeiras”, o encontro no Prepara NEM fomentou a criação da Sapa Roxa, um coletivo de mulheres lésbicas, feministas, anticapitalistas e antirracistas.  Na ocasião, a reunião de esforços do grupo teve também o estímulo da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ), executada a tiros  em 14 de março deste ano, crime que permanece sem resolução.

“Marielle, presente! Hoje e sempre! Era a ela que recorríamos. E ela tinha uma capacidade incrível de escuta e luta. Nós e várias outras integrantes de coletivas lésbicas fomos chamadas a participar  da elaboração de um projeto de lei municipal, o PL da Visibilidade Lésbica, e Marielle nos disse para escrever o texto. Assim, com o apoio dela, fomos ganhando força e confiança”, recordou Cristiane.

Laila enfatizou a necessidade da busca por acordos entre as diversas militâncias feministas, para o sucesso do projeto. “É preciso criar acordos mínimos para que a gente possa ser multidão. Sozinha a gente não anda. A “Brejeiras” não tem financiamento. Somos lésbicas e a revista é fruto da militância, do afeto. O nosso trabalho é sobre disputa, potência, sonhos, representatividade política e midiática. É sobre respeito, sobre o combate à lesbofobia, à transfobia, ao racismo. É a coisa mais bonita que fiz na vida.”

Já a jornalista e mestra em Políticas Públicas em Direitos Humanos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Laura Ralola, que também é colaboradora da publicação, ressaltou a importância do tensionamento, promovido pelos movimentos sociais, na busca pela igualdade de direitos. Em sua dissertação de mestrado, Laura pesquisou as personagens LGBTTI em telenovelas brasileiras.

“Os movimentos sociais tensionam e a mídia hegemônica vai atrás. Se temos avanços, são resultado de lutas e reivindicações  desses movimentos. A grande mídia não ‘saiu do armário’. Foi ‘tirada do armário’. É uma alegria estar na cidade na qual nasci, na qual saí do armário e construí parte da minha identidade, da minha militância.”

A mesa-redonda “Visibilidade Lésbica na UFJF” foi organizada em parceria pelas diretorias de Ações Afirmativas e Imagem Institucional da UFJF, pela Apes e pelo Sintufejuf.  Ao final da atividade, o público presente também pode conferir um pocket show da cantora juiz-forana Alessandra Crispim.

Outras informações: (32) 2102-3997 (Diretoria de Imagem Institucional)

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