No Brasil, a esquistossomose é conhecida como “doença dos caramujos” (Foto: Divulgação)

A esquistossomose é a segunda doença parasitária que mais atinge indivíduos no mundo todo, uma endemia em mais de 70 países. A falta de uma vacina para prevenção da doença faz com que o tratamento seja baseado no uso de remédios antiparasitários como o praziquantel, que não é capaz de impedir que a pessoa tenha uma nova infecção, não combate a transmissão e já existem casos de resistência contra ele. Além disso, este medicamento só está disponível na forma de comprimidos, o que é inadequado para o tratamento de crianças.

Foi justamente propondo um tratamento alternativo para  esquistossomose, que o grupo de pesquisa “Laboratório de Estudo de Estrutura e Funções de Proteínas”, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) ganhou o prêmio “Pirajá da Silva”. Tal reconhecimento foi dado ao melhor trabalho apresentado na sessão oral temática da 15ª edição do Simpósio Internacional sobre Esquistossomose no Rio de Janeiro. A aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (PPGCBio) Bruna Alves de Oliveira, sob a orientação da professora Priscila de Faria, contribuiu com a Oral Presentation “Diagnosis, Treatment, and Clinical aspects” do evento com a apresentação “Evaluation of the therapeutic potential of synthetic aurones on murine model”.

Tratamento alternativo para a esquistossomose
A pesquisa teve como objetivo estudar a eficácia de produtos naturais, como moléculas de auronas, no tratamento da esquistossomose. Existem evidências que apontam o potencial antifúngico, anti-inflamatório e antitumoral dessas auronas. “Primeiro fizemos uma pesquisa in vitro, sem utilizar animais, e como essa pesquisa deu bons resultados, partimos para análise in vivo”, explica Bruna. O grupo comparou três grupos diferentes de camundongos, um que recebeu o tratamento com as auronas, outro com o praziquantel e um terceiro que não recebeu nenhum tipo de tratamento. “Para as duas drogas testadas tivemos ótimos resultados, principalmente quando fracionamos em duas doses, o que foi um achado importante do nosso trabalho”, adiciona.

O tratamento pesquisado apresentou uma redução significante nas cargas parasitárias e grande eliminação de ovos nos animais analisados. Bruna explica que o trabalho “foi um estudo piloto, mas que teve um resultado muito bom, por isso resolvemos levar para o congresso.” Segundo a mestranda, o grupo continua pesquisando tais drogas para verificar a farmacocinética, ou seja, o impacto causado pelos fármacos no organismo humano.

O trabalho foi escolhido dentre outras oito apresentações como o melhor da sessão (Foto: Arquivo pessoal)

Conquista de prêmio em um evento internacional
A escolha de fazer uma apresentação oral no evento partiu da mestranda. Foram duas semanas de preparação antes do Simpósio. “Discutimos o que eu deveria ou não falar, porque havia um tempo determinado, mas no momento foi tranquilo, dá um frio na barriga, mas deu tudo certo”, relembra Bruna.

Para a aluna, a conquista do prêmio foi uma surpresa. O trabalho foi escolhido dentre outras oito apresentações como o melhor da sessão. Bruna destaca que esse reconhecimento representa um incentivo para a pesquisa na UFJF. “Podemos levar um pouco do nosso trabalho e dar um incentivo maior para as pesquisas, principalmente para as pessoas jovens que estão iniciando, assim como eu”, afirma. A orientadora do projeto, Priscila de Faria revela que a divulgação dos resultados da pesquisa em um evento internacional importante como esse, permite com que o trabalho avance cada vez mais. “Isso reafirma a qualidade do nosso trabalho e principalmente, a qualidade dos profissionais que estão sendo formados pela nossa equipe, pois este prêmio é concedido para as melhores apresentações orais”, destaca.