Estudantes relataram suas experiâncias em evento na FAced (Foto: Twin Alvarenga)

Estudantes relataram suas experiências envolvendo o preconceito (Foto: Twin Alvarenga)

“No começo da graduação eu não conseguia falar da minha sexualidade sem querer chorar.” A declaração da estudante de História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Ana Cecília Pereira, evidencia a necessidade da realização do I Seminário LGBTTIFobia e Educação. Na noite de quarta-feira, dia 16, o evento reuniu discentes na Sala de Demonstração Paulo Freire, na Faculdade de Educação (Faced) para uma roda de conversa sobre o preconceito que atinge Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (LGBTTI) no ensino superior.

O seminário é organizado pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Gênero, Sexualidade, Educação e Diversidade (Gesed),e tem por objetivo promover a reflexão sobre o tema no mês em que se celebra o Dia  Internacional de Luta contra a LGBTTIFobia, lembrado nesta quinta-feira, 17. Os encontros começaram no início de maio e já foram feitas duas rodas de conversa, que trabalharam as experiências de docentes  e estudantes LGBTTI na educação básica.

O professor da Faced e um dos líderes do Gesed, Roney Polato, ressalta que a opção pelas rodas de conversa foi feita com o objetivo de motivar a participação e a troca de conhecimento. “A gente organizou dessa forma nesse ano numa perspectiva de que não tenhamos especialistas falando mas, sim, sujeitos falando sobre suas experiências.” Os relatos ouvidos durante o seminário serão analisados e servirão para reflexões nos estudos do grupo de pesquisa.

Relatos de alunos

A aluna Ana Cecília conta que a primeira vez em que vislumbrou a possibilidade de um futuro que não envolvesse sofrimento e solidão foi durante a graduação, quando passou por um cartaz da campanha de Dia das Mães da UFJF que tinha a imagem de uma família formada por duas mulheres lésbicas. “Eu fiquei muito emocionada, porque eu nunca tinha sido colocada diante de um exemplo de representatividade tangível, com pessoas reais e que não era nada escondido.”

No ano passado, Ana Cecília participou da campanha de visibilidade lésbica da Diretoria de Imagem Institucional da UFJF. Foi a primeira vez que ela se sentiu inteiramente dentro da Universidade e que todas as suas demandas eram válidas. A partir daí, a estudante passou a ver gênero como um possível objeto de estudo e começou a realizar pesquisas dentro da História com essa perspectiva. Ela destacou, ainda, a necessidade de enxergar homosexuais como produtores de conhecimento e de contar a narrativa histórica sob o ponto de vista dos homossexuais.

Outra estudante que se manifestou foi a primeira transexual a disputar a competição “Universitarius”, Maria Cysneiros, que ficou surpresa com a repercussão do caso, em 2017. “Eu só estava jogando com as amigas, nem titular eu era”, comenta. No entanto, ressalta que essa visibilidade é essencial para que as pessoas conheçam e respeitam os atletas transexuais. Maria é graduanda em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro de Ensino Superior (CES) e reclamou do excesso de rótulos que existem na sociedade. “Quando eu via transexuais representadas, eram sempre cabeleireiras ou maquiadoras, mas a gente pode ser o que a gente quiser. Eu escolhi ser uma transexual arquiteta e urbanista”.

Já o aluno de Educação Física do Grambery, Marcos Lima, é o primeiro da família a fazer graduação e enxergou no curso a chance de trabalhar com uma de suas paixões: a dança. Lima venceu a última edição do Miss Zona da Mata Gay e relata que tudo não passou de uma brincadeira. “Enquanto estava assistindo ao desfile, eu comentei brincando com meu amigo ‘ano que vem eu participo’. Ele levou a sério e me obrigou a fazer a inscrição. Eu fui sem expectativa nenhuma de ganhar, e ganhei.”

O estudante de História da UFJF, Luan Pedretti, começou sua fala especificando sua vivência. Como negro, gay e da periferia, sofreu racismo e homofobia. Ele relata que entrou no curso por querer estudar política e que, tendo pisado na Universidade, teve contato com outras questões e passou a ler mais sobre diversidades. “Eu comecei a refletir sobre como a questão das sexualidades é tratado dentro das escolas e, também, sobre a ausência de disciplinas sobre identidade de gênero e orientação sexual no curso de História. Não se está preparando os profissionais para lidar com essas questões nas salas de aula.”

A programação continua nas próximas quartas-feiras, às 19h, na Sala de Demonstração Paulo Freire, na Faced. No dia 23 será realizada uma roda de conversa sobre a experiência de drag queens e, no dia 30, quando termina o seminário, o Gesed organiza a mesa redonda “LGBTTIfobia e educação escolar em debate.”

Outras informações: gesedufjf@gmail.com

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