Somente 12,8% dos negros (pretos e pardos), entre os 18 e 24 anos, são estudantes em instituições de ensino superior brasileiras, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes a 2015. Este índice é um dos temas da campanha sobre a Consciência Negra, que estará nos banners do campus Juiz de Fora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A campanha lembra o Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro. Considerando a totalidade da população brasileira, são apenas 34% de negros nas universidades.
Na visão do diretor de Ações Afirmativas da UFJF, Julvan Moreira de Oliveira, o número é um reflexo da história de discriminação e segregação dos negros na sociedade brasileira. “É preciso pensar em todo o processo histórico que aconteceu no Brasil. O racismo foi muito forte e mesmo após a abolição da escravatura, e principalmente no início do século passado, as teorias racistas foram muito fortes no Brasil e excluíram o negro de qualquer possibilidade de ascensão social. Houve, até agora, pouco tempo para a legislação de cotas poder incluir essa população. Eu mesmo, quando fiz graduação em Filosofia, na década de 1980, quase não tive colegas negros na Universidade. E assim também foi no mestrado e no doutorado. As cotas ajudaram a melhorar um pouco esse cenário. Isso era impossível alguns anos atrás, mas ainda é um índice baixíssimo”, avalia.
Para reverter esse cenário, o diretor acredita no investimento em políticas para incentivar a permanência do jovem negro na Universidade. Oliveira aponta que esse estudante e os cotistas, de forma geral, normalmente vêm de família com renda inferior a um salário mínimo e enfrentam diversos obstáculos para a sua formação, como transporte, alimentação e moradia: “Agora, o que precisamos nesse momento, é construir uma política, ou seja, pensar todo o conteúdo trabalhado nas disciplinas, a forma de se trabalhar, combater o assédio, para garantir essa permanência.”
Como forma de resolver essa lacuna histórica, o professor acredita na aposta pelas ações afirmativas e em um conjunto de leis que relacionem a inclusão social do negro. Além disso, manter a autoestima da população em alta é importante. “Em uma sociedade em que todos os valores simbólicos ligados à cultura africana são tidos como negativos, isso traz um complexo de inferioridade muito grande. É preciso trabalhar esse lado psíquico. Isso é um trabalho de muito tempo e precisa de muita gente envolvida, brancos e negros”, considera Oliveira.
Sobre a campanha nos banners do campus, o diretor de Ações Afirmativas demonstra que a força da informação é importante junto à comunidade interna e externa à Universidade. “Em 2015, tivemos a campanha com o tema ‘Quantos professores negros você tem?’, que teve repercussão nacional. Esse ano, com os dados de estudantes negros da Universidade, a gente faz com que a UFJF possa novamente pensar sobre o racismo”, diz.
Dia relembra a morte de herói na luta contra a escravidão
O dia 20 de novembro foi eleito Dia da Consciência Negra, por ser a data da morte de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares. O herói ficou conhecido pela sua resistência e postura de enfrentamento ao governo colonial. Zumbi dos Palmares foi delatado e assassinado em 1695. “Acho que é uma data simbólica para todos nós. A luta é cotidiana, mas ter um dia, uma semana, isso é importante para que as ações de resgate, as várias entidades do movimento negro, junto à população negra, possam fazer ações em todo o país”, afirma Julvan de Oliveira.