Segundo José Roberto Heloani, para se configurar assédio, é preciso haver, repetidamente, condutas abusivas, intencionais e repetidas, visando desqualificar, vexar e derrubar psicologicamente o indivíduo (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)

Segundo José Roberto Heloani, para se configurar assédio, é preciso haver, repetidamente, condutas abusivas, intencionais e repetidas, visando desqualificar, vexar e derrubar psicologicamente o indivíduo (Foto: Twin Alvarenga/UFJF)

Sob o tema “Desafios no contexto universitário no enfrentamento do assédio”, a terceira etapa do Ciclo de Debates sobre relações interpessoais foi realizada nesta terça-feira, 17, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O convidado da palestra foi o professor de psicologia da Universidade de Campinas (Unicamp), José Roberto Heloani. Dentre as colocações de Heloani, foi bastante enfatizado que é preciso diferenciar o assédio de outras condutas, como a discriminação.

“Muitas vezes, as práticas podem ser ilícitas, imorais, antiéticas, mas não assédio. Para se configurar como tal, é preciso haver, repetidamente, condutas abusivas, intencionais e repetidas, visando desqualificar, vexar e derrubar psicologicamente um indivíduo.” Heloani ressaltou que as estruturas das universidades são cada vez mais complexas, e acabam por exigir mais do trabalhador. Com o fenômeno do produtivismo, aumenta-se o trabalho e, consequentemente, a possibilidade de conflito, mas é preciso ter cautela ao querer classificá-lo. “O conflito é algo é inerente ao ser humano e não podemos confundi-lo com o assédio. A diferença entre eles é que, no conflito, os envolvidos visam resolvê-lo com facilidade, enquanto, no assédio, o assediador quer desmoralizar a vítima até ela ser isolada ou excluída de vez. Só quem quer dar um basta no assédio é o assediado”.

Para o pesquisador, quando há o isolamento, o assediador vence. Por isso, o assédio moral no contexto universitário pode ser mais denunciado, e até reduzido, se passarmos a enxergar o outro como uma pessoa igual, independente dos títulos, das ocupações ou quaisquer outras características, criando relações solidárias. “O coletivo do trabalho, que foi se perdendo com o produtivismo, deve ser resgatado. Podemos tentar trocar a lógica da competição pela da colaboração, criando laços efetivamente solidários no coletivo.”

Configurações diversas de assédio foram contempladas na exposição. O assédio horizontal, feito entre colega, de acordo com ele, é uma prática crescente no ambiente universitário e pode levar pessoas a desenvolverem sérios transtornos mentais. Quando o assediado se retrai e não procura ajuda, a prática é perpetuada. “Como sabemos, o assédio cresce com a nossa omissão. As vítimas devem se apoiar nos amigos, familiares, e até recorrer à justiça quando necessário”, concluiu Heloani.

Desmistificando
Entre os presentes, estavam o pró-reitor de Apoio Estudantil, Marcos Freitas, representando o reitor Marcus David, a pró-reitora de Gestão de Pessoas, Kátia Maria Silva, a ouvidora especializada em Ações Afirmativas, Vânia Bara, e o técnico-administrativo em educação, Márcio Sá Fortes.

Fortes parabenizou a iniciativa das pró-reitorias em realizar o ciclo de debates sobre assédio, dizendo que é o primeiro evento desta natureza a ocorrer na instituição. “A discussão é muito importante para a categoria, principalmente porque ajuda a desmistificar a noção de que não existe assédio no serviço público. A partir do momento em que apresentamos os conceitos, mostramos o que, de fato, é assédio, e, assim, tornamos as políticas institucionais mais qualificadas para debater o assunto.”

Freitas reiterou dizendo que, apesar de o tema ter ficado em isolamento durante um tempo na instituição, é esperado que esta pauta não termine com o ciclo. “Temos que avançar para construirmos uma Universidade melhor. Lançando luz sobre a temática, torna-se mais fácil denunciar. Então, temos o ciclo como um grande pontapé inicial.”

De acordo com a pró-reitora Kátia, é preciso que todos os servidores trabalhem em prol do seu desenvolvimento tanto pessoal quanto profissional. “Nós, como gestores de pessoas e para pessoas, temos que saber lidar com todos para melhorarmos nossas relações”, diz.

O último encontro do ciclo de debates, promovido pela Pró-reitoria de Gestão de Pessoas e pela Diretoria de Ações Afirmativas, está programado para o dia 23 de novembro, às 9h, no Anfiteatro de Estudos Sociais. Na ocasião, a UFJF receberá o professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Leonardo Barbosa, que tratará sobre “O universo discente e as suas relações no contexto universitário.” A palestra é gratuita e aberta a toda comunidade.

Outras informações:
(32) 2102-3930 – Pró-reitoria de Gestão de Pessoas
(32) 2102-6919 – Diretoria de Ações Afirmativas