Os avanços e os caminhos ainda por percorrer para o diagnóstico e a prevenção do autismo foram um dos temas debatidos na palestra “Transtorno do Espectro Autista: onde estamos, para onde vamos”, ministrada por Carmem Gottfried, professora associada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nesta segunda-feira, 22, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O evento faz parte do II Simpósio de Neuro&Ciência, que termina nesta terça-feira, 23, no auditório do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Estimativas apontam que uma em cada cem crianças nascem com autismo no Brasil. Não foi encontrada uma cura para o transtorno. Além das pesquisas com pacientes, modelos animais também são utilizados pelos cientistas com a possibilidade de testes de indução e reversão de sintomas. “Com os modelos animais, já temos estratégias onde conseguimos induzir comportamento do tipo autista e prevenir o surgimento desse comportamentos. E a indução e prevenção em modelos nos dá a chance de finalmente chegar no alvo. Como está sendo o gatilho do autismo, o que desencadeia o autismo, que alteração acontece. Então os avanços que temos hoje são através de modelos animais, indução, prevenção e reversão dos sintomas”, afirma Carmem Gottfried.
A professora e membro fundadora do Grupo de Estudos Translacionais em Transtorno do Espectro Autista (Gettea), na UFRGS, destaca o uso do ácido valproico em modelos animais. A substância presente em remédios antiepilépticos, se for absorvida em mulheres grávidas, pode aumentar em até sete vezes a chance de a criança ter autismo. “Nós administramos ácido valproico nos modelos animais e conseguimos reproduzir comportamento do tipo autista. Então, a gente consegue olhar lá no embrião para ver o que mudou após a exposição a esse medicamento. A gente ainda não conseguiu chegar no momento em que o ácido valproico promove o gatilho. Esse momento ainda a gente precisa compreender melhor”, conta a professora.
Além dos avanços que a pesquisa científica pode promover visando a melhora na vida de pessoas com autismo e a prevenção do transtorno, na avaliação de Carmem Gottfried, é fundamental que a sociedade entenda como funciona a mente de quem tem autismo. “São pessoas que pensam diferente. Mas se o entorno compreende como eles pensam, eles vão poder se inserir. Não se deve tratá-los como uma criança problema, como um adulto excêntrico. Mas sim como um encéfalo que trabalha diferente e que pode ser incluído no momento em que a gente compreende isso.”
A programação do II Simpósio de Neuro&Ciência segue até esta terça-feira, 23, com debates sobre temas como avanços em relação à Doença de Parkinson, variabilidade da frequência cardíaca e o uso de drogas no ponto de vista científico e no social.
O simpósio é promovido pelo Laboratório de Neurofisiologia Cognitiva (LabNeuro).
Outras informações:
(32) 2102-3211 – Laboratório de Neurofisiologia Cognitiva (LabNeuro)