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Para gerente analista do Parque Estadual do Rio Doce, Vinícius de Assis Moreira, impacto não foi apenas ambiental, mas social e econômico (Foto: Alexandre Dornelas)

Questões envolvendo o desastre ambiental no município de Mariana, bem como outras interferências negativas na natureza, foram debatidas nesta segunda, 17, no primeiro dia da 39ª Semana de Biologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Na palestra de abertura, “Reflexão acerca dos impactos da lama da Samarco no médio Rio Doce”, o gerente analista ambiental do Parque Estadual do Rio Doce, Vinícius de Assis Moreira, traçou um panorama histórico e falou da importância ambiental da unidade de conservação. De acordo com o palestrante, por estar situado próximo ao Vale do Aço, o local também sofre com o desenvolvimento e a atividade industrial das cidades que compõem a região.

O gerente sustenta que é difícil classificar o grau de impacto nas regiões afetadas. Além do impacto ambiental, a lama da Samarco, segundo ele, marcou profundamente o contexto social e econômico da comunidade ribeirinha ao longo do rio. “Toda a extensão da bacia percebeu de forma muito protuberante os efeitos. O que a gente está observando é que eles não se deram apenas na ordem ambiental. O que estamos vendo é um impacto em cadeia, estamos começando a entender esse ciclo, vendo a dinâmica e a dimensão do crime. Por consequência, isso vai afetar a ordem social e econômica da região. O rio era a fonte de subsistência daquelas pessoas, uma vez que ele não fornece mais recursos para essa população, ele se torna morto. E isso gera um cenário de degradação socioeconômica ao longo de toda a bacia,” concluiu.

Falta de monitoramento
Já o licenciamento e o monitoramento ambiental da Barragem do Fundão, da mineradora Samarco (Vale/BHP Billiton) foram discutidas pelo professor da Faculdade de Engenharia de Produção, Bruno Milanez. Ele apontou ainda problemas gerais nos desdobramentos do desastre ambiental que deixou um rastro de lama do continente até o oceano e levou à morte de dezenove pessoas no distrito de Bento Rodrigues.

Um histórico do processo de licenciamento da barragem mostra que o empreendimento começou como de médio porte para depois ser expandido, o que levou a diversas licenças concedidas por etapas, de 2005 a 2015. “À medida em que a barragem foi crescendo, os diversos laudos, feitos por profissionais contratados pela própria Samarco, foram mudando de ‘desastre improvável’ para ‘desastre iminente’, e nem assim a tragédia foi evitada”.

Para Milanez, o histórico de outros rompimentos semelhantes ao ocorrido em Mariana – dois na Mineradora Rio Pomba-Cataguases, nos anos de 2006 e 2007, e um da Companhia Siderúrgica Nacional, em Congonhas, no ano de 2008, também deveriam ter sido considerados como argumento para enquadrá-lo como desastre provável.

“Há um problema grande envolvendo o monitoramento das barragens. Segundo dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente da época do desastre em Mariana, das 450 barragens de rejeitos em Minas Gerais, 401 tinham estabilidade garantida, sendo que uma delas era a Barragem do Fundão. Falta monitoramento contínuo.”

Outros dados apresentados pelo palestrante apontam que quedas no preço do minério de ferro ocasionam redução de custos por parte da empresa, que podem significar redução de investimentos em segurança. “O preço do minério de ferro é muito volátil e o maior número de rompimentos acontece em momentos de baixa do valor. O comportamento da Samarco é similar a outros rompimentos nesse quesito: o preço do produto cai, então há corte na segurança.”

Desastres esquecidos
Já o professor da Faculdade de Biologia, José Carlos de Oliveira, lançou uma questão: “Será que as pessoas percebem que estamos cercados de desastres ambientais?” A resposta veio com a apresentação de uma sequência de reportagens de veículos de imprensa juiz-foranos sobre manchas, sujeiras e mortandades de peixes no Rio Paraibuna, seguida por diversos exemplos de grandes desastres ambientais que, na visão do professor, são esquecidos com o tempo. “A queda da barragem em Cataguases, em 2003, atingiu sete municípios. A barragem São Francisco, em Miraí, rompeu em 2007. Houve vazamento de petróleo no Campo do Frade, em 2011, e vazamento na Baía da Guanabara, pela Refinaria Duque de Caxias, em 2000. São muitos exemplos esquecidos. Por isso, precisamos ficar sempre atentos às ações que estão sendo propostas e defendidas pelos diversos órgãos de defesa do meio ambiente”.

A Semana
A 39ª Semana de Biologia vai até o dia 21 de outubro e tem como tema “Desastres ambientais: qual o custo do equilíbrio?”. A programação conta com cursos e palestras ministrados por pesquisadores de diversas instituições do país, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio Grande (UFRG).

Mais informações:
www.ufjf.br/biologia/