Atração do Festival de Música Colonial esteve no palco do evento (Foto: Alexandre Dornelas)

Orquestra Sinfônica Pró-Música atraiu a atenção do público para a Concha Acústica, em uma apresentação que mesclou o Som Aberto com o 27º Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga (Foto: Alexandre Dornelas)

Quem esteve no campus da UFJF no sábado, 30, pôde experimentar novamente uma miscelânea cultural que atendeu à diversidade do público. A segunda edição do Som Aberto, projeto realizado pela Pró-reitoria de Cultura com apoio da Diretoria de Imagem Institucional da Universidade, ampliou a proposta de oferecer atrações para todas as idades e interesses, desde os espaços de bazar até as apresentações musicais e atividades culturais.

A tarde ensolarada contribuiu para levar o público ao campus. Antes de as atrações culturais começarem, muita gente já ocupava várias partes da Praça Cívica. Alguns jovens exibiam seus passos de dança em um canto, outros faziam piquenique, andavam de skate ou patinete. Algumas pessoas passeavam com seus bebês, com seus cachorros e um grupo de mulheres praticava atividades físicas com kangoo jump.

O apresentador Flávio Abreu mais uma vez comandou a festa ao longo de toda a tarde e a noite do sábado. Entre uma apresentação e outra, o DJ Cláudio Júnior animava o público com seu repertório, o Som de Cláudio, que consiste em uma mistura de sons de cultura negra e de periferia. “Essa oportunidade mostra que a gente pode ocupar o espaço da universidade com música e cultura, além de colocar o que a gente estuda em prática. É um momento de mostrar o trabalho que a gente desenvolve”, aponta.

A primeira atração foi a Roda de Capoeira com o mestre Cuité e seus alunos. O público começou a se concentrar no centro da praça para assistir ao jogo e acompanhar com as palmas. Conduzida pelo toque do berimbau, a “brincadeira” ia ficando cada vez mais rápida. Após a apresentação dos profissionais, houve uma abertura para que o público também jogasse, e quem acabou dando um show foram as crianças. Para o mestre Cuité, essa interação com o público é muito importante, pois a capoeira tem origem popular. “A criança é muito espontânea, assim como os movimentos da capoeira. Ela interpreta o jogo como uma brincadeira e quer brincar também, ao ver que fazemos movimentos semelhantes aos que ela está habituada”. Deborah Evangelista, que cursa Letras na UFJF e também marcou presença na edição de junho, ficou maravilhada com a apresentação. “Para mim é incrível, porque remonta às nossas raízes, à ancestralidade e é ótimo saber que vem tendo cada vez mais visibilidade”, destaca.

Em seguida, foi a vez do sarau Poesia a Céu Aberto, que contou com a presença de diversos poetas juiz-foranos, como André Monteiro, Giovani Verazzani, Prisca Agustoni, entre outros. Cada um declamava um poema, muitos deles com temáticas políticas, levando os ouvintes a refletirem sobre problemáticas atuais. Quem prestigiou esse momento foi um público adulto em sua maioria. Enquanto os poetas se apresentavam, já se via os músicos da Orquestra Sinfônica Pró-Música se instalando na Concha Acústica. O antropólogo Paulo Caminha, que acompanhou o sarau e esteve pela primeira vez no Som Aberto, considerou importante a abertura do espaço para a modalidade no campus. “Há uma série de pessoas na cidade que produzem poesia contemporânea de ótima qualidade. É importante esse espaço em um evento aberto para que as pessoas que não têm contato com a poesia possam conhecer melhor essa área, que ainda é um pouco elitizada”, reitera.

Dança
Antes que o sol se despedisse, uma atração arrebanhou um número ainda maior de pessoas para a frente da Concha Acústica. Uma mulher misteriosa com um vestido feito de sacos de cimento começa a dançar no meio do povo. Conduzida por um garoto, Silvana Marques, da escola de dança Estação Cultural, leva a multidão a caminhar até os outros pares de dançarinos, que apresentam diversos ritmos, da valsa ao samba. Ao final de cada música, o público precisa se deslocar pela praça para encontrar o grupo ou a dupla que apresenta os próximos passos.

Nas primeiras músicas, algumas pessoas pensavam que a apresentação havia terminado e começavam a se dispersar, mas logo compreenderam o espírito da performance, e a multidão foi crescendo a cada modalidade apresentada. Crianças, jovens e idosos – todos apreciaram o espetáculo. A empresária Roberta Abramo, que esteve pela primeira vez no Som Aberto, acompanhou boa parte da trajetória. “Eu acho a iniciativa da dança sempre muito bacana e toda vez que vejo uma apresentação eu me pergunto ‘por que não danço mais?’. O Estação Cultural é um espaço que eu já conheço, já fui muitas vezes dançar forró. Esse tipo de iniciativa aqui na UFJF está sendo maravilhoso e acredito que tem que haver mais eventos como esse”, declara.

Oficina de circo atraiu crianças  (Foto: Alexandre Dornelas)

Oficina de circo atraiu crianças (Foto: Alexandre Dornelas

Presente na edição piloto do Som Aberto, em junho, a equipe da escola de circo Amplitud trouxe novamente diversão e reflexão para o evento. Além das oficinas de bambolê, equilibrismo e acrobacias, que atenderam a um público majoritariamente infantil, Deborah Lisboa também realizou uma performance na qual ela pede às pessoas que escrevam palavras com conteúdo negativo em seu corpo. Em seguida, ela vai apagando de si esses termos com o uso de bambolês cobertos de tinta. Durante as oficinas, houve uma competição de bambolê, que teve como vencedora a estudante de História da UFJF Cristiane Ribeiro, que ganhou como prêmio um mês de aulas grátis na Amplitud. “Essa oficina é muito legal porque as crianças participam, e todos se divertem. O horário do evento possibilita a variedade de faixas etárias dos participantes. Não sei como venci, nunca havia pegado um bambolê na vida. Aprendi na hora”, conta a vencedora, que esteve presente na edição anterior.

Bazar

Diversidade marcou segunda edição do evento (Foto: Alexandre Dornelas)

Diversidade marcou segunda edição do evento (Foto: Alexandre Dornelas

Entre as mais de 50 marcas presentes no bazar desta edição, algumas novidades chamavam a atenção do público. Entre elas, a marca Karlapet, de moda para animais de estimação e artesanatos. Karla Mauler, proprietária da marca, conta que algumas pessoas compravam e já levavam seus cachorros vestidos. “A ‘mãe’ do pet sai com os olhos brilhando. As peças mais pedidas foram as de frio. O que mais procuram é roupa para cachorro, mas procuraram até para coelho”. Além da venda das roupas, foram realizadas adoções de cachorros. Segundo Karla, foram quatro adoções.

A marca de artesanatos Joaninha, de Ana Mansur, foi representada por Paula Filgueiras. “Eu acho uma ótima oportunidade para os artesãos de Juiz de Fora que querem mostrar sua arte e também para as pessoas conhecerem esses trabalhos. O movimento foi muito bom e apesar de não ter conseguido muitas vendas, muitas pessoas vieram para conhecer a marca. A organização do evento foi muito bacana”, afirma.

Com foco em moda e estética afrocentrada, a marca Griot, representada por Giovana Castro, também chamou a atenção dos visitantes. “Eu estudei aqui na universidade na época do CTU [Colégio Técnico Universitário], quando tinha o Som Aberto, e ver essa proposta de volta, repaginada, me faz acreditar numa universidade realmente democrática, que recebe todos os públicos e representações culturais, para que as pessoas possam dialogar entre diferentes perspectivas, inclusive de consumo. Viemos dessa vez em função das referências que tive de outros expositores da primeira edição acerca da estrutura, do atendimento e da preocupação com a estética do espaço. Apesar de ser final de mês, as vendas foram muito boas”, relata.

Cinéfilos de plantão também puderam encontrar um espaço de vendas que os agradasse. A marca 365 Filmes, de produtos relacionados ao universo do cinema, como camisetas, bottons e outros, foi representada por Bruna Luz. “Temos uma loja virtual, e muitas pessoas já conhecem nossos produtos. Aqui é uma boa oportunidade para conhecerem pessoalmente aquilo que elas veem na internet. E tem também muita gente que não é o nosso público-alvo, mas acaba conhecendo. O evento foi muito bom, conseguimos vender bastante. E tem muita coisa boa, não só as vendas; o simples fato de a pessoa ter acesso ao nosso trabalho, nos conhecer, já agrega muito para nós. A cidade respira cultura, então esse evento é uma grande oportunidade para quem tem produtos artesanais e para o público saber que existem pessoas na cidade que produzem essa cultura”, aponta.

Diversidade musical

Já no início da noite, a Orquestra Sinfônica Pró-Música atraiu a atenção do público para a Concha Acústica, em uma apresentação que mesclou o Som Aberto com o 27º Festival de Música Colonial Brasileira e Música Antiga. Apreciando o espetáculo, a professora Elenara Teixeira considerou a iniciativa positiva. “Juiz de Fora merece essa oportunidade de conhecer um pouco desse tipo de música, acho que a comunidade pode participar. Esta apresentação foi a que mais gostei. Unir a música e privilegiar os artistas daqui é muito positivo, dando oportunidades a todos”, argumenta. O maestro Victor Cassemiro considerou interessante a iniciativa de unir os dois eventos promovidos pela universidade. “Eu nunca tinha me apresentado na Concha Acústica. A aceitação do público foi enorme, pediram bis, e a praça estava cheia”.

Com seu rock alternativo, a banda Legrand fez o público vibrar com um repertório que transita entre músicas autorais e versões. A banda, que está em processo de gravação de seu primeiro EP, é influenciada por bandas como The Strokes, Kings of Leon, Moptop e Gram. O vocalista Diego Neves, aluno do bacharelado interdisciplinar de Ciências Humanas, considerou maravilhosa a oportunidade oferecida pelo projeto: “É o tipo de show que gosto de fazer. Gosto de estar perto da galera, chamar para cantar junto, e aqui eu tive a oportunidade de fazer isso. As pessoas interagiram, não ficaram tímidas, bateram palmas, o que acaba deixando o show mais leve. Sem demagogia, superou minhas expectativas. Estava nervoso antes, e por ser a primeira vez que a gente toca no campus, pensei que a receptividade não seria tão grande. Foi excelente, fora do comum”.

E fechando a programação, foi a vez da banda Coroña contagiar a Praça Cívica com um misto de canções autorais e releituras de clássicos do rock, hits do grunge, como AC/DC, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e Beatles. O vocalista Jordan Pereira, que cursa Jornalismo na UFJF, considera a iniciativa do Som Aberto excelente por ser um evento que promove diversas áreas da cultura. “Como músico, é muito satisfatório ter esse espaço, com uma estrutura de som e luz muito bacana, para poder mostrar nosso som e levar nossa mensagem. A cidade precisa cada vez mais disso, existe muita produção cultural aqui. É uma realização muito grande para nós, estudantes da universidade, tocar nesse palco. Esse é o nosso ambiente. Nossa preparação, além de técnica, foi psicológica, com a finalidade de sentirmos a emoção de estar aqui sem que isso nos atrapalhasse a produzir um bom show”, explica.

Assim como na primeira edição, o reitor Marcus David marcou presença na Praça Cívica, prestigiando o evento. Organizadora e responsável pela renovação do Som Aberto, a Pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, também aproveitou cada momento do evento que, segundo ela, excedeu suas expectativas. “Estou muito satisfeita com o resultado. O evento agregou diversas faixas etárias, as quais apreciaram cada apresentação. Esta edição foi mais organizada e as pessoas estão se envolvendo mais. Após a edição piloto, acredito que o evento já está encontrando seu caminho e cumprindo bem seu objetivo”.