nanoparticulasA UFJF recebeu na última semana a pesquisadora da Université Paris Diderot, Paris 7, Roberta Brayner. Em parceria com investigadores da instituição, Roberta compartilhou os métodos e resultados de seus trabalhos na produção e análise de nanomateriais. Integrante do Departamento de Química da universidade francesa, a professora franco-brasileira conduz suas pesquisas, produzindo, a partir de reações químicas, partículas e estruturas de partículas de diversos materiais.

No campo de atuação de Brayner, as coisas são medidas numa escala de milionésimos de metros, e os produtos da fabricação desses materiais microscópicos têm inúmeros impactos na vida cotidiana, sendo fundamentais para a criação de equipamentos eletrônicos e medicamentos.

Em palestra na faculdade de Odontologia, Roberta explica que conforme a técnica de síntese utilizada e a proporção de elementos componentes desse processo, um mesmo material pode assumir diversas formas (de cubos a coroas, de esferas a tubos) e se organizar de diferentes maneiras sobre o meio ao qual é aplicado (em uma ou duas camadas, condensado ou disperso). Essas variações afetam o desempenho das estruturas resultantes da síntese ao realizar as funções as quais são destinadas. As nano partículas de níquel e cobalto, utilizadas na construção do disco rígido do computador, por exemplo, têm melhor desempenho quando organizadas em uma única camada, podendo inclusive aumentar a memória do aparelho.

Outro efeito das particularidades dos materiais de acordo com o processo químico é o fator de toxicidade. Além de produzir as nano partículas, o grupo de pesquisa coordenado por Brayner também se dedica a analisar a viabilidade desses materiais. “Além de observar a forma e organização das nano partículas, é importante conhecer o processo que deu origem a elas, e verificar como elas se comportam no meio”, ressalta a professora. Aplicando os materiais em uma cultura, os pesquisadores determinam seu índice de toxicidade avaliando a “taxa de vida e morte” das células presentes no meio.

Medicamentos mais eficientes

“Não é só fazer o material por fazer, tem que ter uma aplicação clara. Eu encontrei isso na área da saúde”, afirmou Brayner, que atualmente conduz um projeto visando desenvolver um comprimido que tenha efeitos mais duradouros no organismo, utilizando a nanobiotecnologia. O medicamento em formato de cebola, como a pesquisadora definiu, possui diversas camadas de materiais biocompatíveis, cada qual destinada a uma função específica, resistentes a acidez do estômago, mais aderentes a parede do intestino e que permitem uma liberação mais lenta da substância no corpo do usuário.

O comprimido surge como uma alternativa aos antipsicóticos atuais. Conforme Brayner “os tratamentos para esquizofrenia, por mais efetivos que sejam, podem ser extremamente traumáticos para o paciente, que tem como únicas opções um comprimido, que deve ser tomado diversas vezes ao dia, ou a injeção intramuscular, mais duradoura, mas bastante dolorosa.” Unindo as vantagens das duas formas de tratamento, o medicamento desenvolvido por ela tem uma liberação mais lenta no organismo, devido a forma e organização das partículas que o compõem.

A inovação proposta pela pesquisadora inspirou os professores do Programa de Pós Graduação em Saúde da UFJF (PPGS), Fernando Colugnati e Nadia Raposo (que também é docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas e já desenvolve pesquisas em parceria com Brayner). A partir da visita da pesquisadora franco-brasileira surgiu a ideia de aplicar a mesma técnica para melhorar a eficiência de imunossupressores (medicamento utilizado por pacientes após um transplante para diminuir a taxa de rejeição do órgão transplantado) e medicamentos para o tratamento da diabetes.

Parceria entre universidades

Nádia e Colugnati apontaram a visita da pesquisadora como uma oportunidade de aprimorar os conhecimentos no campo da nanobiotecnologia, aplicando as tecnologias desenvolvidas na universidade francesa nas investigações desenvolvidas aqui.

“É gratificante poder trabalhar e contribuir com pesquisas no Brasil. Atualmente, eu tenho projetos em parceria com a Nádia; com o Humberto Brandão, da Embrapa; com o Emerson Sales, da UFBA e outras instituições, que me permitem manter contato com o Brasil.”, contou Roberta, que pela segunda vez veio a UFJF como professora convidada, agora por iniciativa da Embrapa.