Atenta ao potencial de plantas popularmente utilizadas para o tratamento de problemas de saúde, a professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Elita Scio, iniciou um projeto voltado para o estudo das plantas Embaúba e Ora-pro-nobis, comumente encontradas na Zona da Mata Mineira. Essas pesquisas culminaram no desenvolvimento de protótipos de dois fitoterápicos: o antidiabético Glico-CP e o creme anti-inflamatório Inflativ.
Ambos os medicamentos estão em fase pré-clínica de estudo e, até o momento, apresentaram algumas vantagens em relação aos medicamentos encontrados no mercado, como menos efeitos tóxicos. Junto ao Centro de Inovação e Transferência de Tecnologia (Critt), a equipe está procurando parcerias com indústrias farmacêuticas e empresas que se interessem em iniciar os testes em humanos e comercializar os produtos futuramente. O desenvolvimento do Glico-CP foi financiado, em parte, pela Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Glico-CP
Os testes envolvendo a propriedade hipoglicemiante da Embaúba tiveram início em 2006, levando quase dez anos para o desenvolvimento do protótipo, cuja patente foi depositada em 2014. A professora Elita Scio explica, em áudio, como se deu esse desenvolvimento:
Dentre as principais vantagens do medicamento, esta a redução da glicemia em 70% com apenas uma dose, diferente dos antidiabéticos utilizados para comparação, que reduziram em 50% com duas doses diárias. Durante os testes, a equipe ficou seis meses sem administrar o Glico-CP nos animais e, como resultado, observou que a glicemia se manteve normal.
A equipe também observou que o antidiabético não apresentou os efeitos tóxicos dos outros medicamentos, como aumento de peso e diarreia. Glico-CP também apresentou atividade antioxidante e o aumento do “colesterol bom” (HDL). O medicamento foi testado em modelo de diabetes tipo I, mas, pelo seu modo de ação, a equipe também vai começar os testes para avaliar sua eficácia em diabetes do tipo II.
Inflativ
Iniciado em 2010, o estudo que resultou no Inflativ visou avaliar a ação da espécie Ora-pro-nobis como anti-inflamatório natural para abrandar processos inflamatórios da pele. A partir da confirmação de que a planta realmente tinha essa atividade, a equipe começou a desenvolver um creme, que teve a patente depositada em 2015. Além de ter um custo pequeno de produção, por não exigir uma tecnologia sofisticada, Inflativ apresentou efeito anti-inflamatório comparável a dexametasona, amplamente utilizada na prática clínica, porém demonstrou menores efeitos adversos e toxidade.
Durante as fases de testes, o protótipo também foi capaz de acelerar a cicatrização de feridas de pele. “O Inflativ apresentou aumento da proliferação de vasos sanguíneos, que conseguem carregar nutrientes e oxigênio para nutrir o tecido novo que está se formando na pele. Então acreditamos que essa é uma das formas pela qual ele auxilia na cicatrização”, explica o doutorando em Ciências Biológicas e participante do projeto, Nícolas Pinto.