É hora de dizer adeus à mentalidade que restringe mulheres a determinados locais ou espaços sociais. Cada vez mais presentes no meio acadêmico e no desenvolvimento da ciência, as alunas já são donas da maioria das bolsas dos Programas Institucionais de Iniciação Científica e Tecnológica na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF): segundo dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), 58% das vagas são, atualmente, preenchidas por mulheres.

Ciências da Saúde, Exatas, Humanas e Biológicas: pesquisadoras se destacam em todas as áreas da UFJF (Foto: Twin Alvarenga)

Ciências da Saúde, Exatas, Humanas e Biológicas: pesquisadoras se destacam em todas as áreas da UFJF (Foto: Twin Alvarenga)

Esta é a segunda notícia da série sobre mulheres a ser publicada, no portal da UFJF, como parte da discussão sobre o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Para demonstrar a força da mulher na ciência em todos os campos da Universidade, quatro pesquisadoras de áreas de conhecimento distintas e com produtividades em pesquisa reconhecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são protagonistas de matérias abordando os desafios de suas trajetórias.

Inspiração

A professora da Faculdade de Medicina da UFJF, Isabel Gonçalves Leite, relata que sempre se sentiu atraída pela área de saúde. Graduada em Odontologia pela UFJF, foi aqui que encontrou uma das primeiras mulheres que a inspiraram em sua caminhada: a professora Maria Eugênia Tollendal, que convidou Isabel, na época do seu quarto período de graduação, para participar de um projeto de extensão em comunidade. A partir daí, se tornou um dos maiores exemplos para a aluna. “Numa época em que a odontologia só visava lucro, ela falava de promoção de saúde”, relembra Isabel. “Quando só visavam aquele ‘dente estragado’ e consertar da maneira mais tecnológica possível, ela pensava no homem como um ser integral.”

“Nós geramos conhecimento, dúvidas, soluções e novos pesquisadores. São ‘filhos intelectuais’ que crio para o mundo”, afirma Isabel Gonçalves Leite. (Foto: Caique Cahon)

“Nós geramos conhecimento, dúvidas, soluções e novos pesquisadores. São ‘filhos intelectuais’ que crio para o mundo”, afirma Isabel Gonçalves Leite (Foto: Caique Cahon)

O foco do olhar na preocupação com o coletivo despertou um interesse ainda mais específico na pesquisadora. Um dia, passando pelo corredor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde ingressou para realizar um mestrado, Isabel avistou um edital para mestrado em Saúde Pública e já soube que era aquilo que queria fazer.

Na época, não era comum encontrar dentistas na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Devido à escassez de profissionais para orientá-la nesta área, Isabel migrou para outro campo, trabalhando com câncer de boca e faringe, outra forte demanda na odontologia. Com essa experiência, aprendeu mais sobre epidemiologia, ramo no qual é especializada atualmente, ligado à Saúde Coletiva e responsável por estudar os fatores que influenciam no desenvolvimento de doenças.

“É uma tendência natural que a mulher ocupe esses espaços.” (Foto: Caique Cahon)

“É uma tendência natural que a mulher ocupe esses espaços.” (Foto: Caique Cahon)

“Filhos intelectuais”

Posteriormente, Isabel cursou seu doutorado também na ENSP, com sua pesquisa ainda inserida no campo da Saúde Coletiva, voltada para questões ambientais relacionadas à má formação de cabeça e pescoço em crianças. Isabel atribui o fato de ser atraída pelo campo por ser amplo e aguçar o sentido crítico das pessoas, algo que tenta passar para alunos e alunas da UFJF — ou, como ela os chama, seus “filhos intelectuais”: “O papel da mulher, biologicamente falando, é o de gerar. Nós geramos conhecimento, dúvidas, soluções e novos pesquisadores. São ‘filhos intelectuais’ que crio para o mundo, para quem achar que deve se utilizar daquilo da melhor maneira possível”.

Além da “geração” através da ciência, a pesquisadora comenta que não tem costume de se contentar com menos do que espera e procura cultivar um olhar científico “múltiplo”. “Muitas pesquisas precisam de um olhar focado, mas outras precisam se abrir. Essa visão ampla é útil para certos campos de pesquisa, assim como esse espírito mais questionador e insatisfeito”, afirma Isabel.

Para a professora da UFJF, a constatação de que as mulheres realizam outras atividades e exercerem várias funções faz com que muitas optem por outras coisas que não envolvam a pesquisa e, talvez por isso, encontram-se em número menor no meio acadêmico. Porém, elas estão conquistando seu espaço e provando, em suas palavras, que “lugar da mulher também é na ciência”, tendo muito em que contribuir para a pesquisa com seu caráter mais sensível e, até mesmo, materno. “Não somos melhores ou piores, temos atributos diferentes que podem ser úteis para certas coisas e que se complementam. Cada vez mais mulheres estão sendo bolsistas de produtividade e ganhando prêmios. É uma tendência natural que a mulher ocupe esses espaços”, conclui.

Confira a primeira matéria da série, focada na pesquisa da professora de História da África, Fernanda Thomaz, do Departamento de História da UFJF. O estudo é voltado para a sociedade macua, que conta com fortes tradições femininas e nos convida a repensar o papel da mulher na sociedade.