Pontos conhecidos como o Parque Halfeld e a Praça Largo do Riachuelo em JF contribuem para a criação de um microclima agradável, propiciando um conforto térmico, associado pelos estudos à melhoria da saúde e ao aumento da produtividade. (Foto: aelsonfoto.com.br)

Pontos conhecidos como o Parque Halfeld e a Praça Largo do Riachuelo em JF contribuem para a criação de um microclima agradável, propiciando um conforto térmico, associado pelos estudos à melhoria da saúde e ao aumento da produtividade. (Foto: aelsonfoto.com.br)

De biquínis a casacos, ursos polares a camelos, cactos a uvas, a importância do clima na formação do comportamento humano e nas adaptações de espécies são claramente perceptíveis. Sua ação é intensa na formação dos territórios, é capaz de influenciar e determinar a distribuição dos seres vivos, a cultura dos moradores e até a produtividade no trabalho.  Dessa forma, o estudo do clima se faz relevante na medida em que contribui para entender a dinâmica de cada local, auxiliando no planejamento voltado para o bem-estar social, prevenção de acidentes e ocupação do espaço urbano.

A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) contribui com esse cenário a partir do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental (LABCAA), responsável por monitorar as condições meteorológicas e acompanhar a evolução do tempo e sua repercussão no ambiente. Em época de temperaturas regionais em alta, a coordenadora do LABCAA e professora da UFJF, Cássia Castro, especifica como o estudo do clima efetivamente ajuda a evitar acidentes e melhorar as condições de vida.

Segundo ela, “quanto mais luz, mais dinâmica; ela significa mais vida” – o Portal da UFJF protagoniza esse tema em homenagem ao Ano Internacional da Luz, com uma série de matérias especiais.

cassia castro climatologia

Cássia castro é a coordenadora do Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental da UFJF. (Foto: Twin Alvarenga)

Falhas na infraestrutura podem causar acidentes

Cássia Castro explica que a infraestrutura urbana não é pensada para lidar com o clima local. O resultado disso são inúmeros acidentes. “No caso de desastres associados a chuvas, por exemplo, o que temos visto é uma forma de ocupação do espaço errada, pois as chuvas não estão mais concentradas, como muitas pessoas acreditam, mas os desastres tem sido maiores porque espaços de declividade muito elevada vêm sendo ocupados sem planejamento.” O mau planejamento também está relacionado as chamadas enchentes urbanas, fenômeno que ganha esse nome pois normalmente o volume de chuva precipitado não seria suficiente para causar enchente alguma, no entanto, a falta de escoamento possibilita a ocorrência desse evento. “Isso é má gestão pública, ocupação errada do território, que provoca desastres. Por isso informações sobre o clima são importantes, pois servem como base para a tomada de decisões envolvendo o planejamento e o gerenciamento de riscos”.

Além da infraestrutura, as cidades apresentam outras variáveis que contribuem de forma a alterar o comportamento da atmosfera, como o acúmulo de poluentes, a falta de áreas verdes e o uso massivo de automóveis. “Durante o dia, a atmosfera vai esquentando a superfície, enquanto durante a noite é a superfície, que recebeu calor ao longo do dia, que esquenta a atmosfera”, afirma a pesquisadora. Quando um carro, por exemplo, gera não apenas o calor por causa do movimento do motor, como também contribui na emissão de gás carbônico, que impede o resfriamento, é possível perceber o aumento das temperaturas. “As cidades são mais quentes porque poluição agrega calor e porque existem outros materiais que retêm e liberam mais calor, gerando uma atmosfera mais quente”, completa.

O poder do verde

Já as áreas verdes têm o efeito contrário: são capazes de interferir na umidade do ar, na radiação solar que incide nas ruas, nos ventos e até na frequência de chuvas, influenciando na redução das temperaturas. O Laboratório realizou um estudo em Juiz de Fora para identificar como as praças – dentre elas, pontos conhecidos como o Parque Halfeld e a Praça Largo do Riachuelo – contribuem para a criação de um microclima agradável. A pesquisa, além de gerar dados sobre como a intensidade desse processo é diferente de acordo com a dimensão de área verde, também contribui para os estudos de conforto térmico: “Trabalhar com vistas ao conforto térmico é fundamental, porque habitantes em condições desconfortáveis tendem a ser mais susceptíveis a doenças e menos produtivos”. Nesse contexto, as áreas verdes se apresentam como uma alternativa para a redução da temperatura nas cidades, “devendo, assim, serem priorizadas pelos órgãos públicos”, defende.

O aumento nos termômetros

Segundo dados recolhidos pela estação meteorológica do INMET – Instituto Nacional de Meteorologia em Juiz de Fora, a média de temperatura bateu recorde em janeiro desse ano. Desde sua instalação no campus da UFJF, em 1972, a média do mês não havia sido maior que 21,5º, no entanto, em 2015, o número chegou a 24,3º.

Cássia explica que ainda não é possível afirmar o causador dessa mudança e pondera que a causa pode ser urbana ou ir além disso; para a pesquisadora, o fenômeno de aquecimento é ainda muito pontual. “Existem cidades, como Juiz de Fora, que têm aquecido e outras que vêm resfriando. Precisamos de mais dados e estudos para confirmar algo.”

A luz nos estudos de clima

Cássia explica como a luz é um fator de ação ímpar na formação do clima. Mesmo com a artificial, é a partir da luz natural que a sociedade se organiza. “Na climatologia, a luz é um dos elementos centrais, pois quanto mais luz, mais dinâmica: ela significa mais calor, mais vida.” Segundo ela, os ambientes com mais equilíbrio na sua distribuição, como nas regiões tropicais, permitem maior diversidade biológica, pois as espécies não têm que se adaptar a várias condições diferentes, além de facilitar no aproveitamento da luz, no caso de casas planejadas, por exemplo. “Tudo isso porque suas temperaturas são mais uniformes.”, afirma.

Segundo a pesquisadora, o tempo de luz diário, chamado de fotoperíodo, pode ser quantificado durante todos os dias do ano, uma vez que a relação entre o sol, a terra e a atmosfera não tem grandes variações. É possível saber o horário do nascer e do pôr durante todos os dias do ano. “A quantidade de sol que incide na atmosfera nós já sabemos, o que não sabemos é a intensidade, já que a luz é inibida pelo pelos componentes da atmosfera, como a formação de nuvens e a quantidade de poluição no céu.”

Clima e tempo

Além da temperatura, as estações recolhem dados como insolação, precipitação, umidade do ar, evaporação, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, que compõem um histórico do tempo na região e servem como base para medições de clima.

Embora sejam usados de forma muito parecida, clima e tempo são conceitos relativamente diferentes. O tempo pode ser entendido como um comportamento de curto período da atmosfera, por exemplo, “podemos ter uma semana de calor ou um dia em que faça sol pela manhã, frio à tarde e chova à noite. O tempo constantemente muda e está relacionado a dias, no máximo semanas.” Já o clima é algo mais duradouro, uma sucessão dos vários tempos registrados em um longo período. “Para determinar o clima de um local, fazemos medições e calculamos uma média das variações climáticas por cerca de 30, 35 anos”.

Outras informações:

Laboratório de Climatologia e Análise Ambiental