Sou estudante de arquitetura e urbanismo e fiz meu intercâmbio na Escola Nacional Superior de Arquitetura de Toulouse, França. Minha escolha por estudar em outro país foi feita cedo, por volta do meu segundo período. Durante os anos que se passaram e os editais dos quais participei (três editais ao todo, conseguindo aprovação ao terminar meu sétimo período) tive tempo para me preparar acadêmica, econômica e emocionalmente.
Lembro como se fosse ontem quando eu me despedia da minha família ainda no aeroporto e entrava no avião. Eu estava indo em direção à Europa estudar numa instituição no sul da França, sem me dar conta do tamanho da experiência pela qual eu iria passar.
Toulouse é uma cidade aproximadamente do tamanho de Juiz de Fora em termos populacionais e tem como ensino e pesquisa um dos principais pôlos de atividades. A Universidade de Toulouse possui por volta de 94 mil estudantes dos quais cerca de 14.500 são estrangeiros e os outros são franceses vindos de toda a França ou mesmo da região.
Sair da própria cultura e entrar numa outra é surreal. Tudo o que você aprendeu durante toda uma vida não corresponde mais à realidade. É preciso aprender uma nova língua, novos hábitos para poder se adaptar à uma nova realidade.
Dentro dessa questão cultural se insere também o contexto acadêmico. Para poder compreender e aproveitar toda essa experiência ao máximo é necessário compreender a cultura. Existem grandes diferenças sobre alguns aspectos principalmente relacionadas ao “saber técnico” (materiais e técnicas construtivas utilizadas em função de um determinado país/cultura) oriundas de cada região, diferenças metodológicas de ensino, diferenças culturais, e nesse último aspecto é onde some qualquer diferença. Posso parecer contraditório, mas vou me explicar: apesar de existirem diferenças culturais nítidas entre Brasil e França, o profissional arquiteto visa dar uma resposta espacial a um contexto socio-cultural, isso quer dizer que independente do país onde você estiver, se você souber compreender a cultura (primordial para qualquer arquiteto) você será capaz de fazer um projeto de arquitetura.
Em relação aos professores eu diria que eles são extremamente críticos e exigentes e eles não medem palavras para julgar seu trabalho, parecendo às vezes ofensivos. Conversando com alguns alunos pude perceber que tudo é feito para possibilitar ao aluno uma melhor compreensão e desenvolvimento sobre seu trabalho. Porém esse excesso de críticas às vezes pode ser prejudicial pois pode lhe deixar perdido algumas vezes e também desestimular.
A experiência pessoal é tão grande e importante quanto a experiência acadêmica. Pela primeira vez na vida eu estava morando sozinho e também em outro país. Dentre vários aspectos, o relacionamento interpessoal é o que eu gostaria de destacar em função do preconceito que temos com os franceses. São sempre taxados de frios. Posso dizer que é difícil fazer uma amizade na Europa mas isso acontece pois as pessoas são mais reservadas. Nunca espere nada além de educação e gentileza de uma pessoa por aqui. Se você conhecer alguém, isso não é sinal de uma futura amizade e talvez essa pessoa nem te cumprimente mais nas próximas vezes em que você a vir. Na Europa de uma forma geral você demorará para fazer uma amizade mas quando você a fizer seu amigo será sua família.
Você poderá contar com ele para os bons e os maus momentos. Quando ele te convidar para ir à sua casa, fique a vontade para abrir a geladeira, preparar um lanche, tomar uma ducha ou lavar suas roupas junto com as da família. Eles poderão te convidar para sair para esquiar, por exemplo, ou mesmo para conhecer a região. Ao fim do dia, você toma uma ducha (sim, eles tomam banho, mesmo no inverno) e depois vai dormir. Se você estiver cansado e no dia seguinte acordar depois de todo mundo, não tem problema nenhum.
A experiência pela qual passei é de fato um divisor de águas na minha vida. Durante o ano em que fiquei fora pude entrar em contato com profissionais das mais diferentes áreas, tive contato com metodologias de ensino das mais variadas possíveis, além da participação em eventos e pesquisa que enriqueceram e contribuíram ainda mais para minha formação profissional, fora o crescimento pessoal. Um intercâmbio pode mudar completamente a maneira através da qual você enxerga o mundo. Sua mente abre numa proporção inimaginável.
Descrevi parte da minha experiência num blog e que não terei como descrever aqui.
Deixo o link para aqueles que se interessarem conhecer um pouco mais dessa história: www.lechange.wordpress.com.