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Grupo Divulgação estreia “A comédia da falha trágica”, no Forum da Cultura

 

Estreia na próxima quarta-feira, dia 14, no Forum da Cultura da UFJF, o espetáculo “A comédia da falha trágica”, com texto, trilha original e direção de José Luiz Ribeiro. A montagem do Grupo Divulgação (GD) ficará em cartaz durante os meses de outubro e novembro, de quarta a domingo, sempre às 20h30. As reservas podem ser feitas pelo telefone 3215-3850.

 

Do medieval ao contemporâneo

 

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Foto: Márcia Falabella

Inspirado livremente na clássica obra “A divina comédia”, de Dante Alighieri, “A comédia da falha trágica” faz uma viagem cômica ao inferno que precisa mudar sua imagem diante da opinião pública.

Dante volta ao inferno na contemporaneidade brasileira e encontra exemplos de barbárie. Os condenados ao fogo eterno não encontram diferença entre o inferno medieval e a violência do cotidiano marcada pela ganância, pelo poder e pela ausência de escrúpulos.

O espetáculo é intercalado por músicas compostas especialmente para as diversas cenas, além de prestar uma homenagem a Noel Rosa. Um elenco de dezoito integrantes, além da equipe técnica vive esta história entremeando riso e reflexão sobre o tempo atual.

O texto e a direção são assinados por José Luiz Ribeiro, que criou também as músicas originais apresentadas com arranjos de Dionísio Giovanini. No palco, Wall Oliver e Márcia Falabella vivem os reis do inferno e Victor Dousseau protagoniza Dantes. O elenco conta ainda com os atores: Marcos Saramela, Rebecca Gramlich, Johnes Drummond, Mariana Sampaio, Felipe Vasconcelos, Júlia Buttenbender, Lorenza Cris, Saulo Machado, Diogo Miranda, Renan Souza, Michell Costa, Fabrício Alves, Ana Santos, Marina Lopes. E na sonotécnica, Marina Metri.

 

Por que lutar pela cultura popular?

 

“A fome da cultura destrói o cérebro e aniquila o coração”. Este pensamento nos faz refletir sobre o momento em que o Brasil mergulha numa crise que, como se diria antigamente, nunca dantes percorrida.  Sabemos que “quando a miséria entra pela porta, o amor sai pela janela” e que sem amor a vida não vale a pena.

O teatro é um ato de amor pela humanidade. Em sua longa história ele nos dá lições e nos ensina o caminho do bem para criar uma sociedade justa e solidária. Na Grécia ele aproveitou da dramaturgia para ensinar os caminhos na cidadania; na sociedade medieval ele evangelizou camponeses; Shakespeare mostrou como o poder e a ganância merecem castigo; Moliére mostrou como a burguesia rica se torna ridícula ao imitar a aristocracia.

A comedia da falha tragica

Foto: Márcia Falabella

No aqui e agora, o que devemos fazer para sacudir nossa sociedade que, iludida pela mentira, permitiu que a vaca fosse para o brejo, pegasse pneumonia e tossisse demais? Brecht falava que o silêncio dos bons contribui para o avanço dos maus. O nazismo cresceu aos olhos de um povo que, vendo pessoas embarcadas como gado não interferisse em grande escala. Um ídolo com cabeça de ouro esconde seus pés de barro. Mas o barro pode virar lama tombar o mito que acaba dando com os burros n’água.

 A cultura popular sempre nos deu lição de ética. Pequenas frases repetidas pelos mais velhos transmitiam normas de comportamento que orientavam os mais jovens a seguir o bom, caminho. Educa a criança no caminho do bem e ela não se desviará do bom caminho, frases como estas estavam escritas em salas de aula e, aos poucos, geravam bons frutos.

É bem verdade que estes conhecimentos, originados em escolas em que os professores usavam palmatória, sabiamente abolida, inverteram a situação de mando de autoridade. Hoje é comum ouvir ou ver gravada uma cena em que alunos rebeldes humilham e batem em professores.

Por isso é preciso lutar por um novo tempo a ser erguido com frases que as avós e mães ensinavam à criança quando ela parecia com um objeto que não era dela em casa: “quem rouba um tostão, rouba um milhão”.

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido” ou “A delicadeza é uma chave que abre todas as portas” são ensinamentos pequenos que podem ajudar na construção da cidadania onde a lei de Gerson, a que falava que “brasileiro gosta de levar vantagem em tudo”, tenta impor um padrão de imoralidade.

“A mentira tem perna curta” e “É mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo” assinalam o principal ponto de fuga na construção de uma sociedade-cidadã onde a polis rejeita o político mentiroso e ladrão, mesmo que ele afirme candidamente que não praticou qualquer ato ilícito.

“A comédia da falha trágica” nos convida a mergulhar no universo da cultura popular e testemunhar pequenos atos que, se corrigidos, poderiam mudar nosso caminho. Assumimos esta tarefa dura de narrar nossas mazelas para queimá-las no fogo da purificação.

 

O teatro sujo

 

Na grande batalha dos anjos, Lúcifer, o vencido, é precipitado aos subterrâneos do mundo. Sua luz se acenderá nas trevas como um sinal de condenação. O teatro através dos séculos tem mostrado aos homens os caminhos da salvação da humanidade. Ele acende sinais de avanço ou recuo para melhorar o homem em sua vida social.

Os tempos de hoje são duros. Um erro tecnológico pode induzir a uma rota errada e os planos de um alegre jantar em família pode acabar em um velório. Lágrimas, assassinatos de policiais, bandidos e inocentes fazem parte do noticiário.

Não estamos em época de glamour. Os costureiros famosos fazem seus modelos desfilarem de terno com sapatos sem meias, paletós apertados e calças que lembram Carlitos.  Estamos vivendo o tempo do bêbado e do equilibrista.

Aos poucos uma estética que vai do barroco ao grotesco vai se delineando nos palcos. A moda do craqueiro que superpõe peças de roupas num mero acúmulo do descartável brota numa sensação do desfile de vultos vestidos de lixo.

A figura mítica da serpente como o ser mais brilhante do paraíso desaparece alojada na estética do entulho e do acúmulo. Houve um tempo em que plateia tinha um ar doce e pegajoso. Amassavam-se cascas de amendoins, transitavam para os banheiros no meio do espetáculo e jogavam alimentos para mostrar seu desagrado. Uma plateia bárbara.

Hoje suplicamos por atenção diante do celular ligado. O encanto tecnológico inventado pelo diabo e espalhado pelo deus dinheiro. Nesta plateia tão deseducada, como o tempo em que se chupavam laranjas e jogavam o bagaço na turma de baixo, nasce o teatro sujo.

“A comédia da falha trágica” é um convite ao espectador para um mergulho na lama. Chafurdar nos recortes sociais para sentir o odor de um momento de desagregação social. Um tempo em que uma classe elevada ao céu do consumo é precipitada ao inferno da carência.

A cenografia mostra uma escada que leva ao fundo, na cortina de veludo chamuscada temos a lembrança de um tempo de pompa. As linhas assimétricas pontuam direções de vidas. O pentagrama invertido assinala a posse do mal que gerencia uma terra de barbárie.

A barca de Caronte leva os condenados em direção ao seu castigo. Não existe para eles o tempo de gemidos. Estão carnavalizados, já conhecem o que há de pior e nem a visão do inferno os horrorizam. “Se a canoa não virar eu chego lá” cantam as almas em direção ao inferno.

Neste musical inspirado no estilo do distanciamento brechtiano ou, se preferirem, do teatro de revista, terá um desfile de canções como o “Tango das almas desesperadas”, a nostálgica “Olha a barca que chega”, o voluptuoso coro das “Mercadoras do prazer”, o cínico charleston da “Negação do Corrupto”, e a saborosa homenagem do clássico de Noel Rosa, “Onde está a honestidade?”. No momento em que leis são preparadas para punir internautas que criticam políticos é hora de pensar nos anos de chumbo e dizer: Não passaram! O teatro tem a voz das ruas.

 

Forum da Cultura

Endereço: Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora/MG

Evento: “A comédia da falha trágica”

Dias: outubro e novembro, de quarta a domingo, às 20h30

Telefone: (32) 3215-3850

Entrada: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada)