A Estrela de Belém já brilha no horizonte. Assim como Belchior, Gaspar e Baltazar, seguimos pelas estradas e chegamos até onde nasce o pequeno menino Jesus. É hora de revisitar as múltiplas representações dessa noite que marcou a história da humanidade por meio da exposição ‘Caminho da Estrela’, em cartaz entre dezembro de 2025 e janeiro de 2026, no Museu de Cultura Popular, instalado no Forum da Cultura da UFJF.
Chegando à sua 37ª edição, a exposição traz ao público mais de 60 exemplares de presépios criados com diferentes tipos de materiais. Das clássicas representações em cerâmica e madeira, até às mais exóticas, criadas em rocha vulcânica e massa de pão, cada peça carrega elementos simbólicos
marcantes como, por exemplo, a humilde estrebaria em Belém, as figuras do menino Jesus na manjedoura, a Sagrada Família, os três Reis Magos, os pastores, a estrela, os anjos e os animais do estábulo. Outras matérias-primas também chamam atenção, como os presépios feitos com palha de bananeira, sementes e bolinhas de gude.
Também chama a atenção a procedência das obras. Oriundas de diversas cidades do Brasil e de diferentes países, a exposição demonstra a presença e o impacto da figura de Jesus Cristo nas religiões e culturas ao redor do globo. Os visitantes poderão contemplar obras vindas de cidades como, por exemplo, Alto do Moura (PE), Aparecida (SP), Belo Horizonte (MG), Caruaru (PE), Divinópolis (MG), Juiz de Fora (MG), Piúma (ES), Rio Negro (PR), São Paulo (SP), Turmalina (MG) e Vale do Paraíba (RJ); e de países como Bolívia, Equador, Itália, Peru e Polônia.
A tradição de montar presépios vem do remoto ano de 1223, quando Francisco de Assis, um humilde frade católico, escolheu uma gruta na Itália com o objetivo de recriar a cena da histórica noite de dezembro. Naquele período, não era permitida a realização de representações litúrgicas, entretanto, Francisco conseguiu com o Papa a permissão para montar aquele que seria o primeiro presépio da humanidade. Esse costume venceu as eras e chega até hoje como uma prática fortemente atrelada à cultura popular e arte sacra.
Um dos destaques é um presépio da artista Elisete Silva, oriundo de Nova Era (MG), cujos personagens foram criados a partir de dormentes de trem, peças em madeira colocadas transversalmente sob os trilhos para fixá-los, mantendo o alinhamento e a distância correta. Em cada peça é possível perceber o entalhar mais rústico, justamente pela rigidez da matéria-prima. Também chama a atenção, o presépio indígena brasileiro, obra oriunda de Roraima, em que os personagens possuem características indígenas, trajam vestuários típicos, os presentes dos reis magos são representados pela pesca, caça e frutas, e os animais que compõem a cena pertencem à fauna brasileira, como o jabuti, a anta e a onça-pintada.
Para a conservadora e restauradora de bens culturais do Forum da Cultura, Franciane Lúcia, a exposição alia cultura popular e a fé das pessoas, de uma forma muito singela. “A mostra de presépios carrega significados especiais para toda a comunidade juiz-forana. Ela traz à tona as belezas do fazer artesanal, juntamente com a crença das pessoas em torno do sentido de renovação que permeia essa época do ano. Sem dúvida alguma, é uma de nossas exposições mais aguardadas no ano todo”, conta ela. “Com diversos tamanhos, formatos, cores e materiais, a exposição também reforça a potência criativa das artesãs e artesãos que trazem as suas singulares interpretações dessa tradição natalina”, acrescenta.
‘Caminho da Estrela’ segue em cartaz até o dia 9 de janeiro de 2026, com visitações de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h. A entrada é gratuita e aberta ao público em geral.

Uma exposição tradicional
No Forum da Cultura, a exposição com presépios ocorre desde o ano de 1988, graças à iniciativa do professor Antônio Weitzel, que dirigiu o Museu de Cultura Popular por alguns anos. Desde então, a cada nova edição, o público retorna ao espaço a fim de se reencontrar com as simbólicas peças, e os novos visitantes se encantam com toda beleza à mostra. A exposição de presépios é um dos mais tradicionais eventos no calendário natalino de Juiz de Fora e região.
Presépios e seus simbolismos
O hábito de montar presépios surgiu como uma prática vinculada à religião católica, ganhou adesão entre seus fiéis – além de pessoas não necessariamente católicas –, segue viva e é transmitida de geração em geração. Nas festividades de final de ano, é possível encontrar presépios montados em espaços públicos, museus, igrejas, clubes e casas particulares, cada um deles com materiais como argila, papelão, material reciclado, madeira, entre outros.
A criação dessas representações também varia de acordo com a região, costumes e com o próprio período em que são realizadas, sendo, inclusive, um meio de expressar a cultura e o estilo de vida de determinado grupo. Alguns presépios incluem, por exemplo, elementos típicos, como animais, alimentos, utensílios domésticos, vegetação e outras representações das tradições da localidade.
Ainda assim, vale reforçar que, apesar dos múltiplos formatos, matérias-primas e procedências, o simbolismo dos presépios mantém-se o mesmo, trazendo à tona, de quem os contempla, o sentimento de fé, esperança e união entre as famílias e povos.
Museu de Cultura Popular – UFJF
Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.
Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.
As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para sociedade.
O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306