Fechar menu lateral

‘Sincretismos’: nova exposição no Forum da Cultura exalta liberdade de crenças com esculturas de orixás e santos

Dos altares das igrejas católicas e dos terreiros do Candomblé e da Umbanda chegam as imagens que representam a devoção de milhares de brasileiros. Mais do que efígies, tais figuras simbolizam costumes, hábitos, simbologias e outros diversos elementos que integram o rico arcabouço cultural do Brasil. Como um lembrete da possibilidade da coexistência de diferentes crenças na sociedade, Santos e Orixás se encontram na nova exposição ‘Sincretismos’, em cartaz ao longo do mês de novembro no Museu de Cultura Popular, instalado no Forum da Cultura da UFJF. Ela segue até o dia 28 de novembro, com visitações de segunda a sexta, das 10h às 19h. A entrada é gratuita.

São Pedro, São Jerônimo e Xangô

De acordo com o conservador e restaurador de bens culturais do Forum da Cultura, Victor Dousseau, a exposição permitirá que os visitantes conheçam mais sobre o período da história brasileira em que os povos escravizados, vindos de diferentes regiões da África, precisaram encontrar formas para vivenciarem sua religiosidade. “Os povos escravizados no Brasil cultuavam orixás e, quando aqui desembarcaram de forma forçada, além de toda a violência e privações que sofriam, eram impedidos pelos seus escravizadores de exercerem sua cultura e sua fé. Uma maneira encontrada para driblar esta violência foi a de cultuarem seus deuses sob a aparência de um culto católico”, explica.

Dessa forma, para evitarem perseguições e ainda mais sofrimento, em seus momentos de culto, ao invés de se reverenciarem, por exemplo, à imagem do Orixá Oxóssi, o substituíam pela figura de São Sebastião. A mesma dinâmica também era aplicada a outras divindades: Ogum era representado como São Jorge, Oxalá como Jesus Cristo, Ibejis como São Cosme e São Damião, Iansã como Santa Bárbara, os fios de contas como Nossa Senhora do Rosário, entre outros. Tais divindades foram associadas por compartilharem significados espirituais semelhantes, entretanto, vale reforçar, são entidades diferentes entre si, cada qual pertencente a um nicho religioso diverso.

A mostra busca trazer justamente uma atmosfera de encontro, e mais do que isso, reforçar o museu como um espaço onde, definitivamente, a liberdade para admirar e contemplar as belezas do transcendental é premissa. As 35 peças em exibição foram criadas, principalmente, em gesso e cerâmica policromada. Elas são oriundas de diferentes localidades, como, por exemplo, Juiz de Fora (MG), Caruaru (PE), Afonso Arinos (RJ), Maceió (AL), entre outras.

Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes

Os visitantes terão a oportunidade de observar detalhes, peculiaridades, cores e opções estéticas escolhidas pelos artesãos para ornamentar cada uma das esculturas expostas. Será possível contemplar, por exemplo, Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes, envoltas pelo azul do mar, protetoras de quem sai a velejar; Ogum com sua espada e São Jorge com sua lança a defenderem os menos favorecidos; Oxum e Nossa Senhora da Conceição de braços abertos simbolizando a maternidade que acolhe, dá amor e intercessão; Omolú e São Lázaro seguindo pelas estradas levando a cura para os doentes; entre outros paralelos. A mostra conta ainda com um estande de guias e patuás, amuletos de proteção e conexão amplamente utilizados por religiões de matriz africana.

‘Sincretismos’, título da exposição, bebe na fonte da antropologia, para demonstrar o fenômeno de interpenetração de civilizações, em que elementos culturais de diferentes origens se combinam e se transformam. É por meio desta fusão que muitas culturas precisaram se adaptar para se manterem vivas. A etimologia de sincretismo vem da Grécia Antiga, do movimento de reunião das ilhas gregas de Creta, quando diversos grupos se uniam para combater um inimigo comum.

A exposição chega ainda no mês marcado pelas reflexões, ações e discussões em torno da Consciência Negra, celebrada no dia 20 de novembro. O Museu de Cultura Popular tem orgulho em se alinhar a grupos do movimento negro, instituições e outras organizações, no importante trabalho de desconstruir toda a visão preconcebida, imposta às religiões de matriz africana, que por séculos foram demonizadas e ligadas à ideia de algo negativo.

 

As belezas da Mitologia Iorubá

 

A Mitologia Iorubá é um conjunto de crenças que se baseia na vida em harmonia e em comunidade. Ela inspirou algumas religiões de origem africana, como o Candomblé, no Brasil, e a Santería, em Cuba. É originária da região da África Ocidental, sobretudo da Nigéria.

Composta por mais de 400 orixás, nessa mitologia não há separação entre homens e animais, os próprios animais agem como humanos. Ela também é fortemente marcada pelo culto à ancestralidade, onde é louvada a continuidade da vida através da figura feminina.

 

Consciência Negra

 

Novembro é reconhecido como Mês da Consciência Negra, um período de celebração da cultura e da existência das pessoas negras para a história da sociedade e, principalmente, um momento para relembrar a luta diária contra o racismo e discutir sobre a necessidade de medidas para combater a desigualdade racial.

Em 20 de novembro, celebra-se o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, que, inclusive, a partir deste ano, torna-se feriado nacional. A data remete ao dia da morte de Zumbi dos Palmares, último líder do Quilombo dos Palmares, assassinado em 1695. Em diversas cidades do Brasil, ocorrem eventos realizados pelo movimento negro, que proporcionam momentos de aprendizado e reflexão em torno da memória e resistência do povo descendente de africanos/as no Brasil.

 

Museu de Cultura Popular – UFJF

 

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

 

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

Endereço e outras informações:

 

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306