Estarão em exibição mais de 20 telas com representações da natureza, figuras do cotidiano e do folclore de países como Japão e China.
O céu resplandece ao nosso redor, os primeiros raios de sol apontam do leste anunciando o advento de uma arte delicada e ao mesmo tempo potente. Ela chega pelas mãos do artista visual Kelmer Júnior, propaga-se pelo centenário casarão e dá origem à mostra ‘Um olhar sobre a Cultura Oriental II’. A nova exposição em cartaz na Galeria de Arte do Forum da Cultura da UFJF é uma verdadeira viagem por inúmeros costumes e tradições distintas e milenares, de povos que, apesar de geograficamente distantes do Brasil, estão interligados por diferentes formas. O vernissage, gratuito e aberto ao público em geral, ocorre na próxima terça-feira, 4 de novembro, a partir das 18h30.

Kitsune no Mikiri
Quando Kelmer despertou seu olhar para a cultura oriental, ele ainda era adolescente, e como tal, foi através do universo das histórias em quadrinhos (HQ’s) e desenhos animados, como Dragon Ball e Naruto, que começou a traçar essa linha de trabalho e pesquisa. Aos poucos, o que era só um interesse juvenil deu base para a formação de sua identidade artística.
“A tendência pelas artes visuais esteve presente comigo desde cedo. Como referências, tive meu irmão mais velho que me introduziu no universo dos desenhos de animes e mangás, minha mãe, que gostava muito de pintar natureza morta, e minha avó, que criava telas realistas e de paisagens”, relembra ele. “O estilo oriental enraizei na tatuagem, entretanto, como o resultado final daqueles trabalhos demorava a ser alcançado, recorri ao tecido e papel para expressar meus traços com mais agilidade”, acrescenta.
Composta por mais de 20 obras, a mostra é a sequência de outra exposição do artista com a mesma temática, uma demonstração do interesse e admiração de Kelmer Júnior pela história e estética das caligrafias, mitologias, figuras cotidianas, folclore oriental, entre outros elementos. “Criei essa exposição movido por minha paixão pelas artes plásticas e minha verdadeira admiração pela filosofia e cultura oriental. Elas são enriquecedoras, com uma extensa gama de conteúdo. Escolhi representar elementos da natureza, como animais e vegetais, e as lendas, justamente para possibilitar um retorno às origens e à ancestralidade de onde nascem meus trabalhos”, relata.
Da arte corporal às artes visuais, o artista traz em seus trabalhos o conceito e estética do Mikiri. O termo, em vários contextos, defende o conceito de “percepção”. Nas artes, ele é um conjunto de estilos de corte, sombreado, linhas de contornos e acabamentos específicos, além de ter como características elementos da natureza, como nuvens bem circulares, raios, chuva, etc. A técnica é conhecida principalmente na arte da tatuagem, no que se refere à capacidade de respeitar os limites de áreas preenchidas e das áreas preservadas, usando a pele como forma e contorno na criação. Além da referência maciça do Mikiri, a exposição traz para apreciação algumas obras criadas e inspiradas pelo Sumi-ê, técnica de pintura aguada, e pelo Ukiyo-e, gênero de arte japonesa que se manifesta por meio de xilogravuras e pinturas com temas populares.

Peixe e cachoeira
A escolha das matérias-primas para a criação das obras também reflete a estreita relação de Kelmer Júnior com a cultura do Oriente. O tecido em algodão cru com diferentes tramas serve de base para as pinturas, o topo e a base dos trabalhos são presos com sarrafos e bastonetes referenciando os icônicos pergaminhos, e as tintas nanquim e de tecido destacam-se a partir do toque sensível dos pinceis. O artista realizou todo o processo criativo, da confecção do suporte à finalização das telas.
Entre os destaques da mostra está a obra “Peixe e Cachoeira”, que representa a tradicional história das carpas que, ao superarem seus limites ao subirem o rio para procriar, transformam-se em belos dragões. Também chama a atenção a tela “Touro no Mikiri”, que traz o imponente animal em diferentes nuances de cinza e preto, representando equilíbrio, harmonia e o lado selvagem da técnica utilizada. No Sumi-ê, a pintura “Crisântemo” traz a singeleza do aquarelado, com detalhes que saltam aos olhos.
Para o artista visual, o objetivo principal da mostra é provocar as mesmas sensações que ele sentiu quando iniciou sua trajetória. “Espero que meu trabalho desperte diferentes sensações nos visitantes. Espero que consigam tirar algum aprendizado sobre a cultura oriental e que, mais do que tudo, as pessoas se sintam tocadas e acolhidas pelo meu trabalho”, conclui.
Kelmer Júnior foi um dos artistas selecionados pelo Edital de Ocupação da Galeria de Arte do Forum 2025, cujo resultado foi divulgado no dia 28 de fevereiro.
‘Um olhar sobre a Cultura Oriental II’ segue em cartaz até o dia 19 de novembro, com visitações gratuitas de segunda a sexta, das 10h às 19h.

Kelmer Júnior
Mais sobre o artista
Nascido em Juiz de Fora (MG), desde cedo Kelmer Júnior demonstrou interesse pelas artes visuais. Desenvolveu suas aptidões em cursos, sendo o principal deles, o de desenho artístico oferecido pela Casa D’Italia Juiz de Fora. Em sua trajetória também explorou o campo da tatuagem. Apesar de possuir formação em Educação Física (Faculdade Universo) e pós-graduação em Educação Física Escolar (Grupo Educacional IBRA), optou por seguir na área das artes. Ele segue desenvolvendo seus trabalhos visuais, ampliando sua atuação, inclusive, para campos como a animação. ‘Um olhar sobre a Cultura Oriental II’ é sua primeira exposição no Forum da Cultura da UFJF.
Galeria de Arte
O espaço, instalado em um local privilegiado no segundo pavimento do Forum da Cultura, abriga produção eclética, com exposições de artes plásticas, documentais e pedagógicas, que já chegaram a ter mais de mil visitantes por mostra. Criada em 1981, no reitorado do professor Márcio Leite Vaz, a galeria recebe importantes nomes da pintura de Minas Gerais e da cidade, além de jovens artistas e coletivos. Em janeiro de 2024, o espaço passou por reforma, substituindo as antigas placas de madeira por novas, garantindo assim, um espaço renovado, com estruturas reforçadas para as mostras a serem expostas. O sistema de iluminação também foi renovado, possibilitando mais destaque para as obras em exibição.
Forum da Cultura
Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.
Endereço e outras informações
Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
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E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306