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Nova exposição do Forum da Cultura explora as representações das aves na cultura popular

A primavera já dá sinais de sua aurora. Como mensageiros de longe que chegam primeiro, os pássaros anunciam uma nova estação. No mês de setembro, eles migram até o Forum da Cultura da UFJF para encantar os visitantes na exposição ‘Asas’, em cartaz no Museu de Cultura Popular, a partir desta terça-feira, 2 de setembro. Ela permanece em cartaz até 3 de outubro e as visitas acontecem de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, com entrada gratuita.

A mostra é composta por mais de 40 peças, que, em conjunto, propõem um voo pela imagética das aves na cultura popular brasileira. Animais como Pavão, Coruja, Galinha d’Angola e outros pássaros estarão representados por meio de peças criadas em cerâmica, madeira e bambus. As peças em exibição são oriundas de diversos locais, como Tefé-AM, Camumu-BA, Araçuaí-MG, Tiradentes- MG, Itajubá-MG e Portugal.

A beleza estética das aves, denotada pela variedade de tons, texturas e desenhos das penas, além do fascínio gerado pelo canto, inspiram as diversas gerações de artesãs e artesãos a criarem obras que possam representá-las. As aves também estão presentes na mitologia, narrativas populares e no folclore brasileiro, fator que indica a forte relação desses animais com os seres humanos.

Nesse sentido, é interessante relembrar ainda, como que, ao longo da história da humanidade, os povos criavam peças utilitárias em diferentes formatos representando as criaturas com bicos e penas. Tal costume segue até os dias atuais. Na mostra, inclusive, será possível, conferir de perto itens como  cantarinha, botija para cachaça, paliteiro e uma bilha modelada com enfeites de pássaros. Outra atração são os exemplares de pios, confeccionados em madeira e cerâmica, que imitam o canto das aves.

Também são destaque na exposição as representações do pavão, uma ave que encanta pela riqueza das lendas em que é representado, como símbolo da beleza e da perfeição. Dez estátuas, em cerâmica pintada, retratam a imponência e a majestade da ave considerada símbolo do Paraíso.

Para o conservador e restaurador de bens culturais do Forum da Cultura, Victor Dousseau, essa mostra é mais uma comprovação de como o acervo do Museu de Cultura Popular da UFJF é rico e plural. “Uma temática ímpar como essa que o museu nos proporciona, traz a possibilidade de que as pessoas conheçam algumas conexões, talvez, jamais pensadas, entre o povo, a cultura, a arte e as aves. É a possibilidade de descobrirmos coletivamente como o saber popular filtra a natureza por meio de interpretações populares”, reflete. “Além disso, a mostra também é uma forma de resgatar raízes da cultura nacional e de preservar nossas ligações com elementos que compõem a base de nossa história”, conclui.

 

O voo da inspiração

O artista popular encontra na natureza uma grande fonte de inspiração. Representar o mundo animal sempre foi uma forma mágica de deter as narrativas populares em que os pássaros protagonizam as histórias. As aves anunciam o sol e com ele a primavera. É neste momento que seu cantar enche o ar de alegria.

O mito de Ícaro, que tem suas asas de cera derretidas pelo sol, chega à modernidade por meio do personagem João Gibão, que, na primeira versão da novela Saramandaia, terminava voando sobre a cidade. Os pássaros sempre exerceram fascínio por sua natureza associativa aos anjos que cortam os céus com suas asas.

Enfeitando jarros em traços graciosos, associando-se a guirlandas de flores ou representados como mensageiros do amor, as aves estão presentes na temática da arte universal.

Águias, pombas, corujas estão presentes nas interpretações do homem do campo e no folclore brasileiro.  No dia a dia do homem do campo, o galo, que, no dizer do poeta João Cabral de Mello Neto, sozinho não tece uma madrugada, é representado no alto de casas com a direção dos pontos cardeais. Ele está presente no presépio e no cruzeiro, representação do calvário.

A coruja, representação da deusa Minerva, aparece como mau augúrio. No Nordeste, em algumas regiões do interior, faz parte da crença popular de que a coruja-rasga-mortalha, voando por cima de uma casa, anuncia com seu pio a morte próxima de algum morador. Seu pio avisa que a cova deve ser preparada.

O pavão recebe um destaque especial na escolha dos ceramistas. Cantando em verso e repentes a história desta ave que era usada nos haréns como vigias contra invasores. No cordel aparece a narrativa romântica de um jovem turco muito rico que usa o pavão como meio de transporte para raptar sua amada, que lhe era negada pelos pais.

Os artistas populares retratam ainda aves domésticas, como galinhas e patos. A pomba branca adquire uma expressão sagrada na representação da terceira pessoa da Santíssima Trindade, o Divino Espírito Santo. Porém, o povo nordestino acredita que criar pombo doméstico atrai o azar e faz com que a família empobreça.

O fascínio da humanidade pelos pássaros fez com que eles fossem apresentados em brasões da nobreza, dessem nomes a guerreiros e espaços geográficos. Os cangaceiros do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião, recebiam nomes de aves típicas da região de onde viviam: Azulão, Xexéu, Curió, Canário, Zabelê e Asa-branca.

 

Passarada

Setembro marca a chegada da primavera no Brasil. A chuva retorna, trazendo mais sons e mais cor à natureza. Os pássaros dão vida aos ambientes com seus cânticos harmônicos e de beleza inconfundível, principalmente no período da manhã.  É na primavera o período reprodutivo das espécies; muitas delas fazem seu fluxo migratório neste período e renovam suas plumas, e é por meio do cantar que elas demarcam território e atraem seus parceiros. Entre as espécies cujo canto mais se destaca neste período estão: sabiá-laranjeira, bem-te-vi, canário-da-terra, tico-tico e coleirinho.

No mundo existem entre 10 e 11 mil espécies de pássaros catalogadas, sendo pouco mais de 1900 delas aqui no Brasil, de acordo com dados do Centro Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO). O número expressivo de espécies por aqui é devido à diversidade climática e de vegetação nos quatro cantos do país, mas este número esconde também uma preocupação: muitas destas espécies estão ameaçadas de extinção devido à destruição de seus habitats. Algumas espécies só existem por aqui: beija-flor, garça-branca, tucano, pica-pau, sabiá-laranjeira, arara-azul, azulão, arara-vermelha etc.

 

Museu de Cultura Popular – UFJF

Com um rico acervo de mais de 3 mil peças, o Museu de Cultura Popular é um importante espaço de preservação, resgate e valorização da arte oriunda de expressões e tradições populares.

Entre estatuárias, artefatos indígenas, brinquedos antigos, peças de crenças religiosas e outros diversos itens, das mais distintas origens, o visitante tem a oportunidade de realizar uma verdadeira viagem a outros tempos e locais, muitas vezes desconhecidos. O museu abriga objetos da cultura nacional e também de estrangeiras.

As peças, de natureza singular, aguçam a curiosidade e atuam como pontos de contato entre pessoas e culturas diferentes, propiciando, dessa forma, um intercâmbio extremamente importante para a sociedade.

O Museu, criado em 12 de março de 1965 – data que marcou o centenário do folclorista Lindolfo Gomes –, foi transferido para o espaço do Forum da Cultura em 1973, sendo doado à UFJF em 30 de setembro de 1987. Sua origem está no trabalho do Prof. Wilson de Lima Bastos, que criou o então chamado “Museu do Folclore”, mais tarde renomeado como “Museu de Cultura Popular”.

 

Forum da Cultura

Instalado em um casarão centenário, na rua Santo Antônio, 1112, Centro, o Forum da Cultura é o espaço cultural mais antigo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Em atividade há mais de cinco décadas, leva à comunidade diversos segmentos de manifestações artísticas, abrindo-se a artistas iniciantes e consagrados para que divulguem seus trabalhos.

 

 

Endereço e outras informações

Forum da Cultura
Rua Santo Antônio, 1112 – Centro – Juiz de Fora
www.ufjf.edu.br/forumdacultura
E-mail: forumdacultura@ufjf.br
Instagram: @forumdaculturaufjf
Telefone: (32) 2102-6306